27 de maio de 2025 às 10:06
O Brasil está perdendo uma oportunidade de ouro no setor de energia solar. Enquanto se consolida como potência em energias renováveis, continua importando da China boa parte dos painéis fotovoltaicos e gerando um impacto ambiental maior.
É o que aponta um estudo inédito do Instituto E+ Transição Energética: as importações brasileiras de silício, componente essencial dos painéis solares - resultaram na emissão de 4 milhões de toneladas de CO₂ em 2024 - o mesmo de emissões anuais de quase 880 mil carros.
A conta ambiental é pesada porque a China, que domina a produção mundial de silício, tem uma matriz elétrica 17 vezes mais poluente que a brasileira.
Por outro lado, o Brasil tem tudo para ser protagonista na cadeia do silício solar: reservas abundantes de quartzo (matéria-prima), já produz silício metálico e tem a matriz elétrica mais limpa do mundo para processos industriais intensivos energeticamente.
Edlayan Passos, especialista em Energia do Instituto E+, explicou à EXAME que seria possível reduzir a dependência chinesa internalizando parte da cadeia de valor. A organização defende uma abordagem desenvolvida em colaboração com a Universidade Johns Hopkins.
A estratégia identifica o elo da cadeia mais promissor para ser nacionalizado, com base em vantagens comparativas locais. Isso inclui analisar quais itens são intensamente comercializados no mercado internacional, com forte competição e sensíveis a custos de energia e logística.
Atualmente, o setor solar brasileiro já representa mais de 15% da matriz elétrica nacional e a tendência é expandir. No entanto, o crescimento alimenta uma dependência externa que poderia ser facilmente revertida, segundo o instituto.
As tarifas impostas por Trump à China estão criando um efeito colateral inesperado no Brasil e podem dar um novo futuro para a energia verde. Com os EUA fechando suas portas para painéis solares chineses, o excesso de produção asiática precisa encontrar novos destinos.
"O movimento pode levar a uma inundação de excedentes chineses nos mercados latino-americanos, incluindo o brasileiro, dificultando ainda mais a aplicação de políticas industriais locais", disse Edlayan. Ao cortar fornecedores chineses, Trump cria espaço para novos players.
O estudo também mostra que o principal obstáculo sempre foi o custo: o silício brasileiro para painéis solares custaria inicialmente cerca de US$ 15 por quilo, contra US$ 6 do produto chinês mais competitivo.
Uma das tendências globais é o "powershoring", atração de investimentos baseada na disponibilidade de energia renovável barata e limpa -- e o Brasil tem todas as condições para liderar. A demanda nacional por silício está estimada em 34,5 mil toneladas anuais na próxima década.