Lavoura de milho: setor agro transacionou R$ 12,31 trilhões no total (Mailson Pignata/Getty Images)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 06h01.
As empresas do agronegócio e os produtores rurais brasileiros movimentaram R$ 8 trilhões em 2024 em operações de compra e venda registradas no país. O valor representa uma alta de 6,8% em relação a 2023. Os dados são de um estudo inédito divulgado nesta quinta-feira, 25, pelo Empresômetro, uma spin-off do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
O estudo aponta, no entanto, que a participação do agro no total das comercializações brasileiras caiu de 32% para 24,2%. Isso mostra, segundo os pesquisadores, que, embora o agronegócio mantenha trajetória de alta, o crescimento dos valores comercializados foi puxado por outros setores da economia, que ganharam participação.
"O agronegócio brasileiro tem enormes desafios internos e externos para manter a sua pujança e liderança em vários segmentos e produtos", diz Gilberto do Amaral, presidente do IBPT.
"A instabilidade tarifária internacional, o constante aumento da carga tributária nacional e os problemas reiterados de logística se constituem em entrave ao desenvolvimento do setor, que em 2024 comercializou mais de R$ 8 trilhões em produtos e serviços", diz Amaral.
O estudo, no entanto, ainda não pega os efeitos do tarifaço iniciado pelo presidente Donald Trump em janeiro deste ano.
A análise se baseia em notas fiscais eletrônicas com CNAE (Classificação Nacional de Atividade Econômica) diretamente relacionadas ao setor agro, teve como objetivo mapear e entender cada segmento do setor. No levantamento, o Empresômetro analisou dois tipos de valor:
O valor transacionado pelo agronegócio atingiu R$ 12,31 trilhões — o equivalente a 32,59% do total de operações no Brasil em 2024, que somaram R$ 49,14 trilhões.
A soja ilustra esse tipo de transação: o grão é vendido pelo produtor à cooperativa, depois para a trading e, por fim, exportado para a China, o principal destino da commodity brasileira. Cada etapa envolve uma nova operação de venda, somando valor transacionado ao total.
O processo faz o valor do produto ser contabilizado em diversas etapas, mas o valor comercializado refere-se apenas à compra e venda inicial, evitando duplicidade nos cálculos do Empresômetro.
O estudo mostra ainda que o Sudeste concentra a maior parte da sede das empresas do agro, com 56,8% do total, ou cerca de 1,97 milhão de companhias.
"Essa predominância se explica pela elevada participação do estado de São Paulo, que concentra quase 40% das empresas do agro no país, e pela força econômica de Minas Gerais, segunda maior base do setor", diz o estudo.
Alguns estados apresentam crescimento proporcionalmente mais acelerado, como o Espírito Santo (+12,4% entre 2023–2024), que vem se consolidando como
polo logístico e industrial para o agro, e dos estados do Norte e Nordeste com expansão muito acima da média, como Acre (+64,4%), Amapá (+64,7%), Roraima (+50,6%) e Alagoas (+47,9%) no acumulado 2022–2024.
"Esses resultados sugerem avanço da formalização empresarial e da penetração de atividades ligadas ao agro em regiões que historicamente tinham base menor", diz o estudo.
Já no recorte por quantidade de produtores rurais pessoa física, o Nordeste lidera, com 1.750.223 pessoas, ou 45,7% do total brasileiro. Só a Bahia tem 610 mil produtores, ou 15,6% do total nacional.
"Essa concentração reflete a importância da agricultura familiar e das pequenas propriedades na região, especialmente para culturas como milho, feijão, mandioca e para atividades pecuárias de subsistência. O crescimento de 4% entre 2022 e 2024 mostra que, mesmo em um cenário de mecanização e concentração fundiária em algumas áreas, o Nordeste mantém sua base produtiva pulverizada e ativa", afirma o estudo.
O Norte foi a região com o crescimento mais acelerado, registrando um avanço de 7,7% entre 2023 e 2024. O desempenho está ligado à expansão da fronteira agrícola, principalmente no Pará, Tocantins e Rondônia, e à formalização de pequenos produtores na região.
"A economia da região é uma mistura de extrativismo e agropecuária, com a produção de culturas como a mandioca no Amazonas e Acre, e açaí no Amapá. Esse aumento é estratégico, pois indica maior integração da produção local às cadeias formais de comercialização, o que pode gerar ganhos de produtividade e facilitar o acesso a crédito rural", aponta o estudo.