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Agronegócio dos EUA perde US$ 2 bilhões com guerra comercial de Trump

Estudo revela que exportações agrícolas dos EUA para a China caíram 55% de janeiro a abril de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024

Guerra comercial: China importa uma variedade de produtos agrícolas dos EUA, com destaque para a soja, carne bovina, suína e de aves, além de milho, sorgo e trigo. Outros itens incluem algodão, frutas, laticínios e vegetais. (Freepik/Divulgação)

Guerra comercial: China importa uma variedade de produtos agrícolas dos EUA, com destaque para a soja, carne bovina, suína e de aves, além de milho, sorgo e trigo. Outros itens incluem algodão, frutas, laticínios e vegetais. (Freepik/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 16 de junho de 2025 às 16h09.

Última atualização em 16 de junho de 2025 às 18h08.

O agronegócio dos Estados Unidos perdeu US$ 2 bilhões com a guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, contra a China nos primeiros quatro meses de 2025. O número é o resultado de uma pesquisa conduzida pelo Centro de Política Agrícola e Estudos Comerciais da Universidade Estadual de Dakota do Norte (NDSU, na sigla em inglês).

Segundo o estudo, de janeiro a abril deste ano, as exportações dos EUA para o país asiático caíram 55% em comparação com o mesmo período de 2024. A China importa uma variedade de produtos agrícolas dos EUA, com destaque para a soja, carne bovina, suína e de aves, além de milho, sorgo e trigo. Outros itens incluem algodão, frutas, laticínios e vegetais.

Atualmente, Brasil e Estados Unidos são os principais fornecedores de soja para a China. Em 2024, o país asiático importou 105 milhões de toneladas do grão. Desse total, 71% vieram do Brasil e 21% dos EUA, respectivamente, mostram dados do TradeMap da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Os autores do estudo acompanharam os relatórios semanais de vendas de exportação do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para fornecer uma visão mais atualizada do cenário comercial ao invés dos dados do Departamento de Comércio norte-americano.

A pesquisa mostra que, por outro lado, as exportações agrícolas dos EUA para o Sul da Ásia, União Europeia e América Central aumentaram em 43%, 39% e 24%, respectivamente, nos quatro primeiros meses de 2025.

Contudo, mesmo com este crescimento, os ganhos não foram suficientes para compensar as perdas do mercado chinês, diz o estudo.

A guerra comercial entre os EUA e a China não é recente, mas ganhou novos capítulos com o retorno de Trump à Casa Branca. No início de abril, Trump anunciou uma série de tarifas para diversos países, incluindo a China, determinando uma taxa de exportação de 34% para o país asiático.

A retaliação chinesa foi imediata, elevando para 34% as tarifas sobre produtos importados dos EUA. Em seguida, o presidente americano anunciou uma taxa adicional de 84% sobre os produtos chineses, e a China respondeu com a mesma proporção.

Diante disso, Trump aumentou para 145% as taxas sobre os produtos chineses. Em maio, os EUA e a China concordaram com uma pausa de 90 dias nas tarifas mais altas, dando-lhes meses para negociar um acordo comercial mais amplo antes que tarifas de até 145% pudessem ser reimpostas.

Mesmo com a trégua, os EUA mantiveram a tarifa base de 10% sobre os produtos chineses e uma tarifa adicional de 20% devido ao papel da China na crise do fentanil. Trump acusa Pequim de não conter o fluxo de fentanil, um opioide, para os EUA. Em resposta, o país asiático manteve uma tarifa retaliatória de 10% sobre as importações americanas.

Os produtores americanos de soja já pediram ao governo Trump um alívio nas tarifas sobre a China, sob o risco de uma quebra generalizada na produção agrícola dos EUA.

Algumas commodities cujas vendas para a China caíram drasticamente buscaram mercados alternativos, como o milho.

As vendas do cereal norte-americano para a China foram praticamente inexistentes desde janeiro, mas houve um grande aumento nas exportações para o Sudeste Asiático e a América Central, resultando em um crescimento de 24% nas vendas totais em comparação com o ano passado.

O estudo indica que várias commodities estavam nos seus pontos mais baixos sazonais nos primeiros meses do ano. No entanto, uma recuperação pode ocorrer na segunda metade de 2025, especialmente em função da redução das tarifas chinesas sobre as importações dos EUA, que entrou em vigor em meados de maio.

Exportações de soja para a China

Segundo Sandro Steinbach, um dos autores da pesquisa e diretor de estudos de política agrícola e comercial da NDSU, embora algumas tarifas dos EUA contra a China tenham diminuído, isso não significa que as exportações agrícolas dos EUA retornarão aos níveis anteriores.

No acumulado do ano comercial 2024/25 — que começou em setembro de 2024 —, os EUA venderam 22,5 milhões de toneladas de soja para a China, volume 6% inferior ao registrado no mesmo período do ano comercial 2023/24, quando as vendas para o país asiático totalizaram quase 24 milhões de toneladas.

Para produtos como soja, colhidos mais tarde no ano, o alívio nas tarifas pode incentivar os compradores chineses a retomar as compras, e as perdas nas exportações da nova safra 2025/26 podem ser mais suaves. No entanto, Steinbach ressalta que outras commodities podem continuar a sofrer os efeitos das tensões tarifárias.

"Uma vez que você perde o mercado, ele basicamente desaparece", afirmou. Ele citou as perdas de exportação da China que algumas commodities enfrentaram durante o primeiro mandato de Trump, as quais levaram anos para serem recuperadas — se é que foram recuperadas.

Má notícia para os EUA, mas boa para o Brasil. Diante da guerra comercial, países como o Brasil e a Argentina estão ganhando espaço.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Brasil (Secex) mostram que, em maio, o Brasil exportou 12,6 milhões de toneladas de soja, sendo 9,5 milhões para a China. A expectativa de algumas casas de análise é que esse volume se mantenha também em junho.

A projeção da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) indica que a China deve adquirir entre 9 e 11 milhões de toneladas de soja brasileira neste mês. "O lineup ainda está em andamento e pode sofrer ajustes até o final do mês", informa a nota da entidade.

"O momento atual do calendário agrícola favorece ainda mais o Brasil. Esse cenário logístico e sazonal contribui para facilitar compras expressivas por parte da China e demais importadores, reforçando a atratividade da soja brasileira no curto prazo", afirma a Datagro Consultoria em relatório.

As atenções, agora, devem ser para a próxima safra, 2025/26, avalia Rafael Silveira, analista da consultoria Safras & Mercado.

Segundo o analista, com receio de que Trump eleve novamente as tarifas, a China pode antecipar as compras de soja dos EUA e reservar parte do grão americano para garantir um bom preço — nos EUA, diferentemente do Brasil, a colheita da soja começa em outubro.

“Essa trégua pode incentivar a antecipação das compras chinesas via EUA e mudar o cenário que vinha se desenhando para o Brasil até o final do ano”, diz.

Algumas projeções indicam que, em razão da guerra comercial, as exportações brasileiras de soja para a China possam atingir até 90 milhões de toneladas em 2025, contra 75 milhões no ano passado.

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