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Após tarifaço de Trump, exportação de café do Brasil para os EUA cai quase pela metade em agosto

EUA perdem posto de principal destino do grão brasileiro para a Alemanha, diz Cecafé

Exportação de café: a queda, segundo o Cecafé, está relacionada ao aumento de 50% na tarifa imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros, além da menor disponibilidade do grão (Gerado por IA/Freepik)

Exportação de café: a queda, segundo o Cecafé, está relacionada ao aumento de 50% na tarifa imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros, além da menor disponibilidade do grão (Gerado por IA/Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 9 de setembro de 2025 às 16h47.

Última atualização em 9 de setembro de 2025 às 16h55.

As exportações de café do Brasil para os Estados Unidos caíram 46% em agosto em comparação com o mesmo período de 2024, totalizando 301 mil toneladas. Os dados foram divulgados pelo Conselho Nacional dos Exportadores de Café (Cecafé) nesta terça-feira, 9.

“Os EUA deixaram de ser os maiores compradores de nosso café em agosto, caindo para o segundo lugar. Assim, os americanos ficaram atrás da Alemanha, que importou 414 mil sacas no mês passado”, afirmou Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.

A queda, segundo o Cecafé, está relacionada ao aumento de 50% na tarifa imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros, além da menor disponibilidade do grão.

Segundo Ferreira, a sobretaxa de Trump também impactou o mercado internacional do café, gerando alta volatilidade nos preços e provocando um aumento nas cotações.

“Os fundamentos já são favoráveis para a alta há algumas safras, com oferta e demanda muito ajustadas, ou até mesmo com déficit de oferta, devido a adversidades climáticas nos principais produtores, especialmente no Brasil. No entanto, o tarifaço desordenou o mercado e abriu espaço para movimentos especulativos”, diz Ferreira.

Nos cálculos do Cecafé, de 7 de agosto, quando a taxação entrou em vigor, até o fechamento de agosto, o café arábica subiu 29,7% na bolsa de Nova York, passando de US$ 2,978 por libra-peso para US$ 3,861.

Em agosto, os embarques de café brasileiro recuaram 17,5% em comparação com o mesmo mês de 2024.

Segundo o Cecafé, o Brasil exportou 3,1 milhões de sacas de 60 kg de todos os tipos de café no mês passado. Por outro lado, a receita cambial cresceu 12,7% no mesmo período, saltando para US$ 1,101 bilhão.

Setor de café e o tarifaço

Nesta terça-feira, o presidente do Cecafé afirmou que reexportar grãos de café brasileiros por meio de terceiros países não é uma alternativa viável para contornar as tarifas de importação dos EUA.

"Não vemos essa possibilidade (de reexportar), isso é algo que já vem sendo discutido desde o início", disse Ferreira durante coletiva.

Desde o anúncio da sobretaxa de Trump, o setor de café brasileiro tem se organizado para tentar derrubar a medida. Na semana passada, a indústria apresentou uma série de argumentos durante uma audiência na United States Trade Representative (USTR), o escritório de Comércio dos EUA ligado à Casa Branca, com o objetivo de reverter a tarifa imposta pelo presidente americano.

Entre os pontos apresentados estavam os impactos econômicos do café brasileiro na indústria norte-americana, já que o grão é torrado nos Estados Unidos. Também foram apresentados estudos científicos destacando os benefícios do café para a saúde dos consumidores americanos.

Além de apresentar a lista de argumentos, o setor de café brasileiro tem atuado em outras frentes. Uma delas é aumentar a presença do Cecafé em Washington, D.C.

Para isso, a entidade tem dialogado com um ex-membro do primeiro governo Trump. A ideia é "construir pontes" com entidades, políticos e o setor produtivo dos EUA, com o objetivo de demonstrar a preocupação do setor com a sobretaxa e seus possíveis impactos sobre a inflação norte-americana.

O Cecafé deve ter um representante nos EUA, que será definido nas próximas semanas, e que atuará como interlocutor entre o setor e as demandas dos EUA.

Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do market share de café nos EUA, segundo dados do Departamento de Estatísticas dos EUA, o que o posiciona como principal fornecedor do grão para o país, especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café desembarcado nos EUA era arábica.

No ano passado, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações de café do Brasil, correspondendo, em termos de receita, a cerca de US$ 2 bilhões.

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