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Associação de produtores de soja dos EUA pede socorro a Trump em meio ao tarifaço

Carta da American Soybean Association alerta para a crise financeira enfrentada pelos produtores de soja dos EUA devido à disputa tarifária com a China, pedindo medidas urgentes para restaurar o comércio

Publicado em 20 de agosto de 2025 às 10h17.

A American Soybean Association (ASA) enviou, na terça-feira, 19, uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, solicitando que a soja seja prioritária nas negociações comerciais com a China. A associação pediu a remoção das tarifas retaliatórias sobre a commodity e, se possível, o estabelecimento de compromissos significativos de compras do produto por parte do país asiático".

Na carta, a ASA destacou que, nos últimos cinco anos, a China tem importado uma média de 61% da soja mundial dos Estados Unidos. "Historicamente, os EUA foram o fornecedor preferido para os clientes chineses. No entanto, devido à contínua retaliação tarifária da China, nossos clientes de longa data têm se voltado para nossos concorrentes na América do Sul para atender à sua demanda, uma demanda que o Brasil pode atender devido ao aumento significativo da produção desde a guerra comercial anterior com a China", escreveram os representantes da associação.

A associação ainda reconheceu "os esforços do presidente Trump em aumentar a produção de soja nos Estados Unidos", mas alertou sobre os desafios econômicos enfrentados pelos agricultores, que veem o seus custos aumentarem enquanto os preços continuam a cair. A ASA também mencionou que, caso não seja feito um acordo com a China, a situação financeira dos produtores de soja se agravará, colocando em risco sua sobrevivência a longo prazo.

A soja e o tarifaço

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu recentemente que a China quadruplique as compras de grãos de soja americanos. O impacto disso para o Brasil, que em 2024 exportou cerca de 74,7 milhões de toneladas de soja para a China, totalizando US$ 36,5 bilhões em valor, de acordo com a Administração Geral de Alfândegas da China, pode ser superior ao do "tarifaço".

A China é a maior compradora de soja no mundo e, no ano passado, importou cerca de 105 milhões de toneladas métricas totais, segundo o órgão — menos de um quarto veio dos EUA, enquanto a maior parte das exportações veio do Brasil.

Em 2024, o Brasil exportou aproximadamente US$ 40,4 bilhões para os Estados Unidos, sendo que cerca de dois terços desse valor correspondem a manufaturados e produtos de maior valor agregado, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia (SECEX/MDIC) — justamente os mais suscetíveis a retaliações comerciais e às tarifas de Trump.

Para os EUA alcançarem o montante brasileiro, precisariam exportar quase quatro vezes mais soja ao mercado chinês do que venderam em 2024, quando embarcaram 22,1 milhões de toneladas, equivalentes a US$ 11,3 bilhões, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). 

Uma redução de dois terços nas exportações brasileiras aos EUA representaria uma perda de cerca de US$ 26 bilhões, de acordo com o SECEX/MDIC— impacto muito superior ao ganho de qualquer tarifa pontual —, ao passo que uma expansão significativa das exportações americanas de soja para a China poderia reduzir a participação brasileira no mercado, com efeitos diretos sobre o superávit comercial e a balança de produtos agrícolas.

Segundo a Amcham Brasil, apesar das isenções anunciadas por Trump que beneficiam 43% das exportações brasileiras, 57% dos embarques ao mercado americano permanecem sujeitos às tarifas, atingindo setores sensíveis como autopeças, eletroeletrônicos, químico e metalúrgico.

O órgão alerta que o aumento de custos decorrente de retaliações pode reduzir investimentos diretos, provocar demissões e levar ao fechamento de pequenas e médias empresas integradas às cadeias globais de valor. A incerteza regulatória e comercial também tende a afastar potenciais parceiros e dificultar o planejamento de longo prazo, comprometendo a recuperação econômica.

Leia a carta na íntegra:

19 de agosto de 2025

Ao Honrável Donald J. Trump
Presidente dos Estados Unidos
A Casa Branca
1600 Pennsylvania Avenue Northwest
Washington, D.C. 20500

Prezado Presidente Trump,

Os produtores de soja dos EUA estão à beira de uma crise comercial e financeira. Enquanto você e sua equipe negociam com a China, pedimos que priorize a soja e chegue a um acordo que inclua a remoção das tarifas retaliatórias da China e, se possível, compromissos significativos de compras de soja.

Nos últimos cinco anos, a China importou uma média de 61% da soja disponível no mundo — mais do que o resto do mundo combinado. Historicamente, os EUA foram o fornecedor preferido para os clientes chineses. No entanto, devido à contínua retaliação tarifária da China, nossos clientes de longa data têm se voltado para nossos concorrentes na América do Sul para atender à sua demanda, uma demanda que o Brasil pode atender devido ao aumento significativo da produção desde a guerra comercial anterior com a China.

Agradecemos sua recente postagem no Twitter reconhecendo a robusta colheita produzida pelos produtores de soja dos EUA e pedindo que a China quadruplique suas importações de soja dos Estados Unidos. No entanto, para os nossos agricultores de soja, a China contratou o Brasil para atender à demanda futura de meses à frente, a fim de evitar a compra de soja dos EUA. A soja dos EUA atualmente enfrenta uma tarifa de 20% maior do que a soja da América do Sul devido às tarifas retaliatórias chinesas. Isso coloca nossos agricultores em uma posição desfavorável, já que a China não comprou soja dos EUA nos próximos meses, à medida que rapidamente se aproxima da colheita.

Os agricultores de soja estão sob grande estresse financeiro. Os preços continuam a cair e, ao mesmo tempo, nossos agricultores estão pagando significativamente mais por insumos e equipamentos. Os produtores de soja dos EUA não podem sobreviver a uma disputa comercial prolongada com nosso maior cliente. A Associação Americana de Soja compilou o relatório anexo sobre o estado atual do comércio de soja com a China, que descreve como a situação econômica para os agricultores de soja é grave.

Senhor Presidente, o senhor tem apoiado fortemente os agricultores e os agricultores têm apoiado fortemente o senhor. Precisamos de sua ajuda.

Atenciosamente,

Caleb Ragland
Presidente
Associação Americana de Soja

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