Com parte significativa da produção destinada à exportação, a absorção pelo governo aumenta a oferta interna (Leandro Fonseca /Exame)
Redatora
Publicado em 17 de agosto de 2025 às 06h22.
O governo anunciou a flexibilização das compras públicas de alimentos, permitindo que estados adquiram produtos perecíveis destinados à exportação sem licitação. A medida é uma resposta ao aumento das tarifas de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
De acordo com especialistas ouvidos pela EXAME, a iniciativa busca equilibrar oferta e demanda no mercado interno. Para André Braz, economista do FGV IBRE, a iniciativa atua como um amortecedor para o setor agro, reduzindo riscos de queda nos preços pagos ao produtor e ajudando a manter certa estabilidade para os consumidores.
"O efeito imediato é evitar um excesso de oferta no mercado interno desses produtos, que poderia derrubar os preços pagos ao produtor e comprometer sua renda. Ao mesmo tempo, como o governo absorve parte da produção, o risco de alta de preços para o consumidor final diminui no curto prazo", afirmou.
Braz ponderou que os efeitos da medida dependerá do volume de compras e da agilidade na execução. Entretanto, o impacto real dependeria do volume de compras e da rapidez na execução.
"Se as compras não forem suficientes ou demorarem a ocorrer, os estoques podem pressionar para baixo os preços pagos ao produtor — e, em contrapartida, elevar preços de outros itens da cadeia, por efeito indireto (troca de culturas, deslocamento de oferta)", acrescentou.
Ulisses Dedonato, economista-chefe da Liberum Ratings, destacou que os impactos da flexibilização não serão iguais para todos os alimentos.
“No curto prazo, produtos básicos com alta demanda externa e cadeias produtivas dependentes de insumos importados, como trigo e derivados, ainda podem apresentar pressão de alta nos preços. O efeito dependerá do volume da produção interna, do câmbio e da logística de transporte, além das políticas de diversificação de mercados internacionais”, avaliou.
“Alguns produtos, principalmente alimentos básicos com menor valor agregado, podem ter viés de baixa no preço, até mesmo por excesso de oferta que antes seria exportada. No curto prazo, isso vai demandar mudanças na cesta de consumo, com redirecionamento para produtos mais competitivos, considerando também o câmbio e a logística", pontuou.
Alguns produtos devem apresentar preços mais estáveis ou até menores para os consumidores por conta da medida. Entre eles:
Alguns produtos podem apresentar aumento nos preços devido à demanda externa ou à dependência de insumos importados:
Quando a produção de um alimento supera a demanda, o excesso de oferta pressiona o valor pago aos produtores, reduzindo sua margem de lucro. Esse movimento nem sempre se reflete em queda proporcional no preço ao consumidor, já que fatores como logística, impostos e intermediação influenciam o valor final nas prateleiras.
Os alimentos que podem sofrer queda nos preços pagos ao produtor, caso não sejam incluídos nas compras governamentais, são:
Dedonato ressaltou que a flexibilização é uma solução emergencial e de curto prazo, mas não resolve entraves estruturais. “A cadeia produtiva brasileira ainda depende de eficiência operacional, integração regulatória e protocolos sanitários para ampliar o acesso a mercados internacionais. Isso será determinante para controlar efeitos inflacionários e manter a competitividade do agro”, disse.
A flexibilização das compras públicas surge como uma ferramenta para tentar proteger produtores e consumidores simultaneamente, mas seu efeito final dependerá da execução, do volume adquirido e da capacidade das cadeias produtivas de se adaptar a novos mercados.