Governador do Pará, Hélder Barbalho (MDB): estado tem o segundo maior rebanho de bovinos do Brasil (Eduardo Frazão/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 20 de novembro de 2025 às 06h10.
Última atualização em 20 de novembro de 2025 às 07h24.
O Pará pode triplicar o tamanho do seu rebanho bovino e alcançar o maior volume do país sem desmatar. Segundo o governador Hélder Barbalho (MDB), atualmente o estado tem cerca de 1,1 cabeça de gado por hectare, mas poderia chegar a 3 cabeças por hectare.
“É um número totalmente compatível com o manejo racional da pecuária. Com isso, temos condições de praticamente triplicar o rebanho e tornar o estado o maior produtor de bovinos do Brasil, mantendo boas práticas e promovendo integração produtiva”, afirma em entrevista à EXAME.
O Pará conta com 24,8 milhões de bovinos distribuídos em cerca de 165,9 mil propriedades, segundo a Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Adepará), o que coloca o estado com o segundo maior rebanho do país, atrás do Mato Grosso. No total, o Brasil possui 238 milhões de cabeças.
A bovinocultura é a principal atividade pecuária no Pará e representa 91,3% do Valor Bruto da Produção (VBP) do setor, com valor estimado em R$ 17,02 bilhões, de acordo com cálculos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap).
Segundo Barbalho, a estratégia é expandir o rebanho sem desmatamento, por meio de manejo sustentável e rastreabilidade. Neste ano, o estado avançou na implementação do Programa de Pecuária Sustentável e Rastreabilidade Individual de Bovinos, lançado em 2023 durante a COP28, em Dubai.
Conduzido pelo governo estadual, via Adepará, em parceria com o setor produtivo e instituições apoiadoras, com o uso de um brinco no boi, o programa prevê identificar individualmente todos os bovinos e bubalinos em trânsito a partir de janeiro de 2026, e atingir a totalidade do rebanho estadual a partir de janeiro de 2027.
Embora a pecuária paraense seja majoritariamente voltada ao mercado interno, o estado tem ampliado suas exportações, especialmente para a União Europeia, que impõe regras rígidas sobre desmatamento.
A expectativa é de que o novo sistema permita rastreabilidade completa, garantindo que os animais não tenham sido criados ou engordados em propriedades que desrespeitam normas socioambientais.
“Todos devem ter ambições climáticas. Isso envolve a indústria da carne, o mercado atacadista, as grandes cadeias produtivas e também o consumidor. Este, especialmente na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, quer continuar consumindo carne, mas exige saber sua origem — se vem de uma propriedade ambientalmente regular”, diz.
Na avaliação do governador, a aposta na rastreabilidade precisa do apoio do mercado, já que o produtor de gado investe para tornar seu rebanho sustentável. Hoje, custa cerca de R$ 23 por animal para colocar o brinco e registrar toda a vida daquele bovino.
"Se isso não for revertido na hora em que a indústria da carne estiver comprando o animal, se não for valorizado no momento em que o mercado adquirir da indústria, esse ônus ficará apenas para o produtor rural", afirma Barbalho.
O brinco reúne, por exemplo, dados sobre desenvolvimento, desempenho reprodutivo e outras características que permitem identificar os fornecedores de indivíduos com melhor genética para compor o rebanho.
O governador afirma que há um esforço para convencer toda a cadeia produtiva sobre a importância da rastreabilidade — especialmente no setor exportador — como forma de valorizar práticas ambientalmente corretas, em especial a rastreabilidade da produção bovina.
"O mercado precisa compreender que deve valorizar quem age dessa forma. Queremos mostrar que estamos dispostos a ser um exemplo nisso, desde que haja um entendimento na ponta de que esse custo operacional será revertido na valorização da arroba vendida."