Audiência USTR: evento faz parte da investigação aberta pelos EUA com base na Seção 301, que analisa, a pedido de Trump, se o Brasil adota práticas comerciais prejudiciais aos Estados Unidos. (Gerado por IA/Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 06h02.
O setor de café brasileiro apresentará nesta quarta-feira, 3, uma série de argumentos durante a audiência da United States Trade Representative (USTR), o escritório de Comércio dos EUA ligado à Casa Branca, para reverter o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump.
Entre os pontos a serem discutidos estão os impactos econômicos do café brasileiro na indústria norte-americana, já que o grão é torrado nos Estados Unidos. Também serão apresentados estudos científicos que destacam os benefícios do café para a saúde dos consumidores americanos.
“A ideia é enfatizar os benefícios mútuos e a agregação de valor. A palavra-chave aqui é indústria. Vamos mostrar que o café brasileiro não concorre com os EUA”, afirma Marcos Matos, diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Segundo Matos, além de apresentar a lista de argumentos, o setor de café brasileiro está atuando em outras frentes. Uma delas é aumentar a presença do Cecafé em Washington, capital dos EUA.
Para isso, a entidade tem conversado com um ex-membro do primeiro governo Trump. De acordo com Matos, a autoridade tem sido fundamental para entender como lidar com as tarifas dos EUA.
A ideia, explica o executivo, é "construir pontes" com entidades, políticos e o setor produtivo dos EUA, a fim de demonstrar a preocupação do setor com a sobretaxa e os possíveis impactos dela sobre a inflação norte-americana.
O diretor diz que a entidade brasileira deve ter um representante nos EUA, que será definido nas próximas semanas, e que deve atuar como interlocutor entre o setor e as demandas dos EUA.
A audiência na USTR faz parte da investigação aberta pelos EUA com base na Seção 301, que analisa, a pedido de Trump, se o Brasil adota práticas comerciais prejudiciais aos Estados Unidos.
O evento contará com a presença de representantes de diversas entidades do setor produtivo, tanto do Brasil quanto dos EUA, além de advogados e empresários.
Cada participante terá cinco minutos para defender seu ponto de vista e justificar a necessidade de redução das tarifas — a previsão é de que o Cecafé discurse às 10h (horário de Brasília).
Um dos principais argumentos do setor brasileiro será de natureza econômica, o mesmo apresentado pela National Coffee Association (NCA), entidade que representa a indústria de café nos EUA.
Segundo a NCA, o café gera uma riqueza significativa nos Estados Unidos, já que o país importa o grão e agrega valor por meio da industrialização.
Cerca de 76% dos americanos consomem café, e para cada dólar de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana. Isso resulta em 2,2 milhões de empregos, correspondendo a 1,2% do PIB dos EUA. O estudo também aponta que a indústria de café contribui com US$ 343 bilhões para a economia norte-americana.
Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do market share de café nos EUA, segundo dados do Departamento de Estatísticas dos EUA, o que o posiciona como principal fornecedor do grão para o país, especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café desembarcado nos EUA era arábica.
No ano passado, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações de café do Brasil, correspondendo, em termos de receita, a cerca de US$ 2 bilhões.
Segundo Marcos Matos, além do impacto econômico e de saudabilidade, a questão social também será apresentada na audiência.
"O café brasileiro é produzido por cerca de 300.000 agricultores, em sua maioria agricultores familiares, em aproximadamente 39 regiões agrícolas bem estabelecidas", diz o discurso que será apresentado ao qual EXAME teve acesso.