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Disparada nos preços do café aumenta roubos de carga do grão no Brasil

Produtores independentes são os que mais sofrem com os roubos, enquanto cargas roubadas seguem sendo vendidas sem nota fiscal

Estela Marconi
Estela Marconi

Freelancer

Publicado em 9 de julho de 2025 às 08h00.

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O Brasil, maior produtor e exportador mundial de café, enfrenta um aumento nos roubos de grãos, impulsionado pelos preços elevados da commodity.

Agricultores e cooperativas afirmam temer que a safra deste ano, entre maio e setembro, seja marcada pelo maior número de assaltos em muito tempo.

O caminhoneiro Donizete Guidini relatou que foi rendido por homens armados enquanto transportava 30 toneladas de café em São Paulo.

“Eles me levaram vendado para um canavial”, contou à Bloomberg. O caminhão e a carga, avaliados em R$ 1,5 milhão, foram recuperados horas depois.

A escalada dos preços do café, desde 2020, é impulsionada por problemas climáticos, especialmente no Brasil e no Vietnã, os principais produtores globais, além do aumento da demanda global e de fatores geopolíticos.

O preço do café moído já subiu 80,2% nos últimos 12 meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa é a maior inflação acumulada do café moído em 12 meses desde maio de 1995, quando o índice foi de 85,5%.

Os preços do café podem subir até 25% nos próximos meses, mostra estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).

Em 2024, o café tradicional fechou a R$ 48,90, registrando uma alta de 39% em relação a 2023.

Preços do café

Em Minas Gerais, maior estado produtor de café Brasil, criminosos já roubaram cargas inteiras e realizaram assaltos complexos, mantendo trabalhadores reféns.

Em um caso recente, 95 sacas de café, no valor de R$ 220 mil, foram levadas de uma fazenda. Pequenos agricultores são os mais prejudicados, pois dependem exclusivamente da produção anual.

Em uma tentativa de mitigar os impactos, cooperativas têm distribuído cartilhas com orientações de segurança e criado seguros gratuitos para transporte, segundo a reportagem.

Além disso, o governo mineiro também lançou o programa 'Campo Seguro', que reforça o policiamento rural.

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que o crime acompanha a economia. “Do momento em que você tem uma safra de café de alto valor agregado, ela se torna atraente para os criminosos”, diz.

O diretor do Centro de Comércio de Café de Minas Gerais, Ricardo Schneider, também explicou que o café é um produto difícil de se rastrear, mas muito fácil de revender.

“Quando o preço passa de R$ 2.500 por saca, o roubo se torna muito lucrativo”, afirmou. Produtores relataram à Bloomberg que uma grande parte dos grãos roubados acaba em pequenas fatias, vendidas sem nota fiscal.

Apesar da alta demanda internacional, o setor também enfrenta outros desafios, como custos de fertilizantes, clima seco e safras menores.

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