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Lixo bilionário: os planos da Gás Verde para chegar aos R$ 2,5 bilhões com biometano em 2028

Companhia produz e comercializa biometano proveniente do biogás de depósitos de resíduos agrícolas e aterros sanitários

 (Ricardo Zinner/Divulgação)

(Ricardo Zinner/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 4 de agosto de 2025 às 06h05.

A Gás Verde, produtora de biometano, anunciou que investirá R$ 926 milhões até 2028 para expandir a produção do combustível renovável no Brasil. Com esses aportes, a empresa projeta alcançar um faturamento anual de R$ 2,5 bilhões — a estimativa para 2025 é R$ 385 milhões em faturamento.

Segundo o CEO Marcel Jorand, nos próximos 30 meses, a prioridade será a entrega de dez novas plantas em fase de planejamento. A meta, diz ele, é consolidar as unidades antes de desenvolver uma estratégia voltada para a exportação do combustível.

“Estamos construindo o futuro da empresa com esse plano. Nosso desafio é garantir que cada unidade entre em operação no prazo, com clientes já contratados e capacidade para atender ao mercado interno”, disse Jorand.

Com os investimentos, o objetivo é atingir uma produção de 650 mil metros cúbicos de biometano por dia até o fim de 2028 — um crescimento de 225% em relação aos 200 mil m³ produzidos atualmente.

O biometano é um gás renovável capaz de substituir combustíveis fósseis, como gás natural e diesel. Ele é gerado a partir do processamento do biogás, obtido de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários.

A Gás Verde, que integra o grupo Urca Energia, é especializada na produção e comercialização de biometano proveniente do biogás de resíduos agrícolas e aterros sanitários, como o Centro de Tratamento de Resíduos do Rio (CTR Rio), em Seropédica (RJ).

A companhia possui 12 unidades operacionais em sete estados. Dessas, dez plantas geram energia elétrica a partir do biogás e duas já produzem biometano. “Agora estamos em um movimento de trocar as usinas térmicas por plantas dedicadas”, afirmou Jorand.

Ele destaca que a empresa está aproveitando o momento favorável no Brasil, após a aprovação da Lei do Combustível do Futuro, em 2024. Para o executivo, a legislação é fundamental para impulsionar o biometano e outros combustíveis de baixo carbono no país.

“O principal avanço foi a criação do certificado de origem do biometano (Cegob). O cliente busca descarbonizar e precisa de garantias sobre a origem do produto. Antes, cada empresa fazia seu próprio controle. Agora, com a ANP regulamentando, temos credibilidade e padronização”, afirmou.

O mercado de biometano no Brasil pode atingir US$ 15 bilhões até 2040, o que representaria 50% da demanda nacional de gás natural, segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME).

Atualmente, a produção nacional de biometano gira em torno de 500 mil m³ por dia, sendo 160 mil m³ provenientes da Gás Verde. Entre os clientes da companhia estão Ambev, Scania e Henkel — esta última firmou acordo em março deste ano.

Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou neste ano R$ 131,1 milhões em financiamentos para apoiar duas iniciativas da empresa.

Uma delas é a implantação da primeira planta de CO2 verde do Brasil, em Seropédica (RJ), que vai produzir 100 toneladas de CO2 de grau alimentício por dia.

A outra iniciativa é a construção de uma usina de biometano em Igarassu (PE), financiada integralmente pelo Fundo Clima, com capacidade projetada de 40 mil metros cúbicos por dia.

“Decidimos ir além: vamos purificar o CO2, transformando-o em um produto comercializável. É um passo importante para reduzir as emissões e mostrar que é possível operar com resíduo zero”, afirmou o executivo.

Oportunidades no agro e expansão

Embora a Gás Verde ainda tenha pouca presença direta no agronegócio, Jorand enxerga o setor como a “grande fronteira” do biometano no país.

Segundo a Associação Brasileira do Biogás e Biometano (Abiogás), o potencial produtivo de biometano no Brasil é de 120 milhões de metros cúbicos por dia.

Desse total, 57,6 milhões de m³ estão no setor sucroenergético, 38 milhões de m³ na indústria de proteína animal, 18,2 milhões de m³ na agricultura e 6 milhões de m³ em outras atividades.

“O Brasil gera um volume colossal de resíduos orgânicos no agronegócio, assim como um elevado consumo de diesel. Imagine um produtor rural que transforma esse resíduo em biogás, utiliza como combustível ou vende a terceiros. Ele reduz custos, gera receita e contribui para a transição energética”, afirmou Jorand.

O CEO estima que o país poderia chegar a produzir até 120 milhões de metros cúbicos diários de biometano a partir dos resíduos orgânicos do agro — volume superior ao consumo atual de gás natural no Brasil, hoje entre 50 e 60 milhões de m³ por dia.

“O Brasil ainda nem começou a brincadeira do biometano. Temos um potencial enorme de circularidade, especialmente em pequenas cidades que ainda destinam resíduos a lixões”, disse.

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