Etanol de tequila: em março, pesquisadores da Embrapa Algodão visitaram o México, onde estabeleceram parcerias com instituições ligadas à produção de tequila, para aprofundar os estudos sobre o uso de Agave na produção de biocombustíveis e sequestro de carbono. (Alexandre Oliveira/Embrapa/Divulgação)
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 11h44.
Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 11h49.
A planta Agave tequilana, tradicionalmente usada na produção de tequila no México, começou a ser estudada no Brasil como uma alternativa para a produção de etanol, sequestro de carbono e alimentação animal.
A pesquisa, conduzida pela Embrapa Algodão (PB) em parceria com a empresa Santa Anna Bioenergia (BA), visa diversificar o uso dessa planta adaptada ao clima semiárido, contribuindo para a bioeconomia e a transição energética no País, segundo a associação.
Além de explorar o potencial da Agave tequilana, o estudo da Embrapa avalia outras variedades do gênero agave, como a sisalana (sisal), já utilizada para a produção de cordas e outros materiais na construção civil.
A Embrapa, agora, analisa como essas plantas podem ser aproveitadas para a produção de biomassa, energia renovável e até para alimentação animal.
Segundo Tarcísio Gondim, pesquisador da Embrapa Algodão, a pesquisa vai além do impacto econômico e ambiental, com uma forte contribuição social.
"Essa inovação tecnológica pode mitigar desigualdades regionais e enfrentar a precarização das áreas sisaleiras do Nordeste. Usaremos plantas xerófilas, adaptadas a ambientes secos, com múltiplos propósitos: etanol, alimentação para ruminantes e captura de CO2", disse Gondim.
O agave, com seu ciclo mais longo em comparação com a cana-de-açúcar, se destaca pela capacidade de adaptação ao Semiárido, onde outras culturas enfrentam dificuldades para gerar bons rendimentos, diz o estudo da Embrapa.
O pesquisador também ressaltou a necessidade de investimentos em pesquisas para otimizar o cultivo do Agave, incluindo estudos sobre padronização de cultivares, manejo adequado, tratos culturais e mecanização do cultivo.
O ciclo de colheita do Agave pode levar cerca de cinco anos ou mais, mas, segundo o planejamento do projeto, a produção de biomassa será escalonada ao longo do tempo para garantir a continuidade e a viabilidade comercial.
Em março, pesquisadores da Embrapa Algodão visitaram o México, onde estabeleceram parcerias com o Instituto Nacional de Investigações Florestais, Agrícolas e Pecuárias (Inipaf), além de outras instituições ligadas à produção de tequila, para aprofundar os estudos sobre o uso de Agave na produção de biocombustíveis e sequestro de carbono.
As primeiras 500 mudas de Agave tequilana Weber var. Azul, trazidas do México pela Santa Anna Bioenergia, já passaram pelo processo de quarentena e estão sendo avaliadas nos municípios de Jacobina (BA), Alagoinha e Monteiro (PB).
A primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT) foi implantada em Jacobina, com um total de 1.800 mudas na fase inicial do projeto.
O projeto, que tem previsão de duração de cinco anos, inclui ensaios sobre arranjos de plantio, adubação e manejo da cultura para maximizar o rendimento e a viabilidade econômica.
Também estão sendo desenvolvidas metodologias inovadoras para analisar a química da biomassa de Agave — o objetivo é aprimorar o processo de produção de etanol e ração animal a partir dos resíduos da planta.
A pesquisa também explora o uso dos resíduos da produção de etanol de Agave como fonte de alimentação para ruminantes, especialmente em períodos de escassez de forragem no Semiárido.
Esses resíduos podem ser um importante recurso para a alimentação animal, ajudando a melhorar a sustentabilidade da pecuária na região, acredita o zootecnista Manoel Francisco de Sousa, da Embrapa Algodão.
Outro desafio importante do projeto será a mecanização das etapas de plantio e colheita do Agave.
Para Odilon Reny Ribeiro, especialista em mecanização agrícola da Embrapa Algodão, embora o México já utilize mecanização para várias etapas do cultivo, o plantio ainda é realizado manualmente.
O objetivo da pesquisa é desenvolver soluções que viabilizem a mecanização em larga escala no Brasil, facilitando o cultivo do Agave em grandes áreas.