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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 19 de maio de 2025 às 10h06.
Última atualização em 19 de maio de 2025 às 10h42.
Com a possibilidade de novos casos de gripe aviária no radar, o governo estima perdas de até US$ 200 milhões por mês com a suspensão das exportações de carne de frango para 10 países, após a confirmação de um caso da doença em uma granja comercial no Rio Grande do Sul — um dos principais estados exportadores da proteína no Brasil.
Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), disse à EXAME nesta segunda-feira, 19, ainda ser "difícil dizer quanto tempo durará" a crise sanitária no país. Segundo ele, a pasta tem atuado de 'maneira diligente' para resolver a situação.
O cálculo preliminar do governo indica que o Brasil pode deixar de exportar entre 50 mil e 100 mil toneladas de carne de frango por mês. Considerando um valor médio de US$ 2 mil por tonelada, o impacto pode alcançar até US$ 200 milhões mensais.
O secretário informou que, ao longo do fim de semana, o Mapa e seus adidos agrícolas — funcionários que representam o ministério em embaixadas e consulados — enviaram informações adicionais aos países importadores para reforçar a transparência do Brasil na condução do caso. “A medida reforça a confiança no sistema sanitário do Brasil”, afirmou Rua.
Na sexta-feira, 16, o Mapa confirmou um caso de gripe aviária em uma granja comercial no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul.
A confirmação levou a China — um dos principais compradores de carne de frango do Brasil — a suspender as importações por 60 dias, como prevê o protocolo para esse tipo de ocorrência.
Até o momento, apenas Japão e Emirados Árabes Unidos foram os dois países, entre os dez que impuseram restrições, a flexibilizar os embargos às exportações brasileiras. Na prática, eles regionalizaram os embargos apenas para as áreas onde houve foco da gripe aviária no Brasil.
Segundo o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Mapa, há negociações avançadas com outras nações, com novos anúncios previstos ainda para esta semana, sobre a flexibilização das suspensões.
O último país a embargar as exportações brasileiras foi a África do Sul.
Em 2024, o Brasil exportou cerca de 4,4 milhões de toneladas de carne de aves, tendo a China como principal destino.
De janeiro a abril deste ano, o país asiático importou 140 mil toneladas da proteína brasileira, um aumento de quase 20%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pela Datagro Consultoria.
“A interrupção temporária das compras chinesas pode provocar reconfigurações pontuais nos fluxos comerciais, pressionando momentaneamente os preços internos e exigindo maior direcionamento para outros mercados — o que deve incluir esforços diplomáticos e comerciais para mitigar eventuais perdas”, afirma a Datagro em relatório.
Segundo a consultoria, a suspensão parcial dos embarques pode ser revertida, “o que reduziria de forma significativa os impactos sobre a cadeia produtiva e exportadora”.
Além de impactar as exportações, o setor avalia que um eventual excesso de carne de frango no mercado interno pode pressionar os preços domésticos no curto prazo. Segundo a Datagro, o cenário pode “afetar negativamente as margens da indústria — que já opera sob elevados custos logísticos e de produção”.
Nos últimos 12 meses, o frango acumula inflação de 9,16%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).