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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 16 de maio de 2025 às 11h21.
Última atualização em 16 de maio de 2025 às 11h40.
A confirmação de um caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul pode reduzir entre 15% e 20% as exportações mensais de carne de frango, aponta um levantamento preliminar da consultoria Safras & Mercado, divulgado nesta sexta-feira, 16.
Até março, o Brasil exportou 1,349 milhão de toneladas de carne de frango. Entre os principais destinos estão China, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
Segundo a consultoria, o Rio Grande do Sul será o principal estado prejudicado, já que exporta mensalmente 8.370 toneladas para os Emirados Árabes Unidos, 7.600 toneladas para a Arábia Saudita e 2.160 toneladas para o Japão. Ainda não há cálculos sobre os impactos financeiros.
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou em entrevista à GloboNews que as exportações de carne de frango e demais produtos avícolas das empresas do Rio Grande do Sul estão suspensas para todo o mundo a partir desta sexta-feira.
“Para todos os países do mundo há uma suspensão imediata. No caso da China, a suspensão vale para todo o país”, disse o ministro.
Mais rígido, o protocolo chinês suspendeu por 60 dias as compras da carne de frango do Brasil.
Segundo Fávaro, ainda não há estimativas oficiais sobre o impacto econômico desse episódio, que envolve o extermínio das aves na granja gaúcha e o fechamento temporário dos mercados externos.
A China responde por 10% das exportações mensais da proteína. Em 2024, o país asiático importou 562 mil toneladas da carne de frango brasileira.
O governo brasileiro já comunicou oficialmente a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) sobre o episódio e está adotando as medidas sanitárias necessárias na região de Montenegro.
O ministro afirmou que a entrada do vírus em granjas comerciais é inevitável, mas destacou que as equipes técnicas do ministério, junto aos governos estadual e municipal, trabalharão para impedir a propagação da doença a outras regiões.
A preocupação do setor agropecuário com a gripe aviária decorre do alto grau de disseminação do vírus, além da sua capacidade de mutação.
“O H5N1 tem a capacidade de se adaptar, mutar e afetar outras espécies além das aves. Já tivemos casos em mamíferos e até em seres humanos, o que pode configurar um próximo problema de saúde pública”, diz Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado.
Nos Estados Unidos, a doença foi a principal causa do aumento no preço dos ovos —mais de 100 milhões de galinhas foram abatidas no país.
Segundo a Safras & Mercado, com a possível redução das exportações, o preço do frango pode cair devido ao aumento da disponibilidade da proteína no mercado interno.
“O volume que deixar de ser exportado permanecerá no mercado doméstico. Com o frango mais barato, o consumidor brasileiro será incentivado a consumir mais essa proteína em relação às outras”, afirma Iglesias.
Diante desse cenário, Iglesias projeta um efeito cascata nos preços da carne bovina e suína, além de impactos em toda a cadeia pecuária.
“Isso afetará os valores da carne bovina, suína e, claro, da carne de frango, impactando também a receita dos frigoríficos e prejudicando as exportações da proteína. A avicultura de corte será a mais afetada nessa situação”, diz o analista.
Ele ressalta que o efeito negativo deve atingir todo o setor: “Haverá impactos indiretos, como a perda de mercado da carne suína e bovina, que também terão seus preços pressionados para baixo em função da queda nos preços da carne de frango”, diz Iglesias.