Agência de notícias
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 14h33.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 14h56.
A situação financeira do agronegócio, que enfrenta uma série de recuperações judiciais após quebra de safra em 2024, voltou a preocupar nos números do balanço do segundo trimestre da Caixa. A inadimplência do setor disparou para 7,02% entre abril e junho deste ano.
No primeiro trimestre, esse indicador estava em 4,3% e, na comparação com o mesmo período do ano passado, estava em 2,11%. A inadimplência do agro, classificada como atrasos de pagamento acima de 90 dias, chama a atenção já que neste ano a previsão é de colheita recorde de grãos e o setor deve puxar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), segundo previsões do mercado.
O saldo da carteira de crédito da Caixa destinada ao setor atingiu R$ 60,5 bilhões no período, alta de 2,6% em comparação a 2024 e redução de 4,8% em relação a março.
Marcos Brasiliano Rosa, vice-presidente de finanças e controladoria da Caixa, disse durante a apresentação dos resultados que as novas contratações de crédito do agro ficaram em R$ 5,7 bilhões no período.
— Temos uma estratégia de manter esse segmento estabilizado e melhorar a qualidade desse crédito. Temos um grande desafio pela frente nesse segmento — afirmou ele, sinalizando que o banco colocou o pé no freio da oferta de crédito a esse setor.
Especialistas avaliam que a alta do calote no agro se deve a três fatores. Muitos produtores tomaram crédito com a taxa Selic em baixa histórica entre 2020 e 2021 (em 2%) e depois sofreram com a queda no preço das commodities. Hoje, a Selic está em 15% ao ano.
O setor também enfrenta uma onda de recuperações judiciais, o que reflete na inadimplência, e o tarifaço de Donald Trump também afeta muitos produtos agrícolas, como o café, piorando a situação.
No Banco do Brasil, que financia quase 50% do agro no país, a inadimplência do setor também disparou e atingiu o recorde de 3,94%, ante 2,45% de um ano antes e 0,96% no fim de 2023.
Brasiliano disse que os chamados "créditos problemáticos" do agro na carteira do banco chegam a R$ 6 bilhões e 50% desse montante já está provisionado.
A Caixa registrou lucro recorrente de R$ 3,682 bilhões no segundo trimestre deste ano, alta de 12% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Nos seis primeiros meses do ano, o lucro líquido recorrente da Caixa foi de R$ 8,9 bilhões, crescimento de 44,9% em relação ao primeiro semestre de 2024. Em relação ao primeiro trimestre deste ano, entretanto, houve queda de 29,9%.
Marcos Brasiliano disse que os números positivos são resultado da recuperação da margem financeira. A receita de intermediação financeira, por exemplo, cresceu 25% nos primeiros seis meses do ano.
O índice de inadimplência total (acima de 90 dias) subiu a 2,66% em junho, de 2,49% em março e de 2,20% em junho de 2024. A carteira de crédito total da caixa encerrou junho com saldo de R$ 1,294 trilhão, alta de 10,1% no ano e de 2,1% no trimestre.
Líder no setor imobiliário, com participação de 67,6% no total, a carteira de crédito do setor na Caixa chegou a R$ 875,4 bilhões no segundo trimestre, alta de 2,9% em relação ao trimestre anterior e 11,7% em 12 meses.
— No crédito imobiliário, nosso carro-chefe, tivemos 1,1 milhão de contratações, o que dá uma média diária de 3 mil contratações no primeiro semestre — disse o presidente da Caixa, Carlos Vieira.
Mas as contratações do crédito imobiliário diminuíram o ritmo entre abril e junho. Elas somaram R$ 57,3 bilhões no período, com alta de 16,1% em três meses e queda de 6,5% em relação ao segundo trimestre do ano passado.
O governo planeja a implantação de um novo modelo de captação de recursos para o crédito imobiliário, que deverá passar por um período de testes antes de entrar em vigor. O objetivo é ter uma alternativa aos recursos da poupança, que tem sido insuficientes.
Durante a entrevista de apresentação dos resultados, o presidente da Caixa disse que o novo modelo de financiamento para a casa própria deve se estruturar a partir do mercado secundário de títulos imobiliários, mas ele não deu detalhes, já que a proposta está sendo elaborada pelo Banco Central e ainda deverá ser aprovada Conselho Monetário Nacional (CNM).
O mercado secundário é um ambiente onde títulos de crédito imobiliário, já emitidos e negociados no mercado primário, são comprados e vendidos entre investidores, e não mais com o banco que originou o crédito. A expectativa é que o novo modelo seja apresentado no mês de outubro.
A Caixa projeta crescimento entre 7,5% a 11,5% no crédito imobiliário em sua carteira neste ano.