(Getty Images/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 27 de julho de 2025 às 04h22.
*Leonardo F. Fraceto
Publicado recentemente pela consultoria Mckinsey & Company, o relatório Global Farmer Insights 2024 poderia ser resumido em duas palavras que representam as prioridades estabelecidas pelos produtores rurais neste biênio: produtividade e sustentabilidade.
Esses dois ensejos de agricultores são produto dos principais temores que pairam sobre a produção rural na atualidade e que consistem no aumento dos custos com insumos e nos impactos das mudanças climáticas.
No Brasil, essas preocupações se tornaram mais evidentes após eventos como o El Niño e a resposta do setor tem sido proativa, com produtores investindo em soluções que conciliam rendimento e resiliência ambiental.
O levantamento da Mckinsey aponta que 67% dos agricultores brasileiros já utilizam técnicas e materiais sustentáveis, como bionutrientes e agentes de biocontrole, número muito acima da média global, que é de 38%.
Além disso, quase 100% dos agricultores brasileiros empregam o sistema de plantio direto, reconhecido por preservar a umidade do solo, reduzir erosão e melhorar a eficiência de insumos.
O protagonismo brasileiro nos dados da Mckinsey é resultado de políticas públicas eficazes e de iniciativas de pesquisa, como as conduzidas pela Embrapa e por instituições como o INCT NanoAgro.
Com esses empreendimentos, o campo da inovação tecnológica no Brasil fica atrás apenas dos EUA na adoção de ferramentas digitais e agrícolas de precisão, mas lidera, com folga, a implementação de softwares voltados à sustentabilidade.
Cabe destacar que a centralidade da tecnologia no agronegócio brasileiro se insere em um contexto amplo, no qual a América Latina figura como a região que apresenta o crescimento mais rápido no quesito tecnológico e é a segunda liderança mundial na incorporação de inovações no campo, principalmente nas searas de agronomia digital.
Além disso, a crescente demanda dos mercados internacionais por produtos com rastreabilidade, baixo impacto ambiental e responsabilidade socioambiental tem sido um vetor adicional de transformação no setor.
Países da União Europeia, por exemplo, vêm adotando regulações mais rigorosas em relação à importação de commodities, exigindo comprovação de práticas sustentáveis e uso responsável dos recursos.
Outro fator determinante nesse processo de transformação é a adoção de tecnologias emergentes, como inteligência artificial aplicada à análise preditiva de safras e sensores de internet das coisas (IoT) para monitoramento em tempo real.
Essas tecnologias não só aumentam a produtividade, como também otimizam o uso de recursos, minimizam desperdícios e contribuem para a redução da pegada ambiental.
O Brasil caminha para se consolidar como uma das principais referências globais em agricultura sustentável e tecnologicamente avançada.
A combinação de políticas públicas, a abertura à inovação por parte dos produtores e a atuação estratégica de instituições de pesquisa têm criado um ambiente propício à transformação do setor.
Ao unir produtividade e responsabilidade ambiental, o agro brasileiro demonstra que é possível crescer com consciência, preparando-se para os desafios do futuro sem perder de vista a preservação dos recursos naturais e a segurança alimentar mundial.
*Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável