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Para descarbonizar setor de leite, Danone e BB anunciam crédito de R$ 100 mi aos pequenos produtores

Convênio exclusivo faz parte da Jornada Flora, iniciativa de agricultura regenerativa da companhia de alimentos, que facilita crédito com o banco, por meio do Plano Safra 25/26

Fazenda Cachoeira das Antas, uma das principais fornecedoras da Danone, em Santa Rita de Caldas, em Minas Gerais (Divulgação)

Fazenda Cachoeira das Antas, uma das principais fornecedoras da Danone, em Santa Rita de Caldas, em Minas Gerais (Divulgação)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 15 de maio de 2025 às 15h23.

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 15h24.

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POÇOS DE CALDAS (MG)* - Entre tantos desafios que a agropecuária enfrenta, as mudanças climáticas estão entre os mais agressivos, impactando a produção de alimentos, a segurança alimentar e a renda de quem vive do campo. Para ajudar os pequenos produtores de leite, a Danone Brasil fortaleceu a Jornada Flora, uma iniciativa de agricultura regenerativa focada no crescimento sustentável do setor.

A iniciativa foi elaborada pela multinacional, em 2020, para estimular melhores práticas de cultivo e produção de alimentos entre os fornecedores da Danone, além de elevar a lucratividade e contribuir para a descarbonização do setor. Para isso, a companhia anunciou uma nova fase de facilitação de crédito em parceria com o Banco do Brasil (BB), no valor de R$ 100 milhões, por meio do Plano Safra 25/26.

O anúncio foi feito durante a visita de executivos e convidados, incluindo a EXAME, à Fazenda Cachoeira das Antas, uma das principais fornecedoras da Danone, pela Jornada Flora, em Santa Rita de Caldas, em Minas Gerais.

O valor do crédito destinado a 2025 é o dobro do ano anterior — R$ 50 milhões —, e com a oferta de juros entre 6,8% e 8,4% ao ano, incluindo carência de 10 anos. De acordo com a companhia de alimentos, mais de 133 produtores já são beneficiados.

Os contratos se dividem entre custeio e investimento, contemplando ações como a correção e preparo do solo, plantio de lavouras de milho para alimentação animal, e investimentos a longo prazo em infraestrutura, incluindo centros de ordenha, celeiro de compostagem, Free Stall, conforto animal, máquinas e equipamentos.

O programa oferece suporte para atividades agrícolas e investimentos em infraestrutura, além de garantir a comercialização do leite a preço de mercado.

De acordo com Léo Siman, gerente Sênior de Compras de Leite, a iniciativa também oferece o auxílio contínuo de assistência técnica, mirando a sustentabilidade na produção leiteira no longo prazo.

"Queremos que os fazendeiros tenham melhor noção de como investir, para onde direcionar suas produções, e valorizar técnicas de bem-estar animal, retenção de água e preservação do solo", explica Siman. "Dessa maneira, eles podem oferecer leites de maior qualidade e conquistar melhor remuneração com esses produtos".

Já Mário Rezende, Diretor de Sustentabilidade e Operações da Danone Brasil, salienta que a Jornada Flora tirou muitos produtores da informalidade. "Ao firmarmos contratos de comercialização com nossos fornecedores, oferecemos a eles mais segurança para planejar o futuro, com acesso a crédito facilitado, assistência técnica de qualidade e valorização da produção a preço de mercado".

Por outro lado, a disponibilidade de crédito representa uma parte desta iniciativa da Danone. Para promover a sustentabilidade entre seus fornecedores de leite, a empresa também traz projetos de capacitação. O principal deles é o Educampo, desenvolvido em parceria com o Sebrae, para oferecer assistência técnica especializada nas áreas de gestão, nutrição e conforto animal, beneficiando tanto o bem-estar dos animais quanto o aumento da produtividade e a redução das emissões.

"Com a Jornada Flora, damos um passo além. Capacitamos produtores, incentivamos práticas que regeneram o solo, promovem o bem-estar animal e reduzem as emissões, contribuindo para uma cadeia mais sustentável, resiliente e alinhada aos desafios do nosso tempo”, explica Mário Rezende.

De acordo com o executivo, a parceria com os produtores pode durar até 2 anos, com possibilidade de renovação de contrato, desde que as práticas agrícolas sigam os critérios de sustentabilidade e eficiência.

Para Camilo Wittica, vice-presidente de Assuntos Jurídicos da Danone Brasil, afirma que esse tipo de contrato é raro no mercado e que pode mudar o jogo em favor dos produtores de leite. "Essa parceria para o financiamento pode alavancar os negócios deles, porque a companhia vai comprar volumes de leite por determinados meses. Com essa garantia de renda, o proprietário tem fluxo de caixa descontado e acesso a um crédito mais barato."

Para ser beneficiado pela Jornada Flora, os produtores precisam fazer parte do grupo de fornecedores da Danone. Para isso, eles precisam passar por uma auditoria anual de homologação de parceiros da empresa, atendendo a vários requisitos legais. Os principais são: nível adequado da Contagem Bacteriana Total (CBT) do leite, bem-estar animal e inexistência de trabalho infantil e escravo na propriedade.

Hora de crescer

A Fazenda Cachoeira das Antas faz parte da Jornada Flora desde o início do projeto, em 2020. Em entrevista à EXAME, o proprietário e produtor de leite, Áureo Carvalho, conta que a iniciativa trouxe mudanças na escala da produção.

"Antes, eu produzia até 200 litros de leite por dia, com custo elevado de 80% e uma escala pequena. Mas, desde 2024, conseguimos produzir diariamente pelo menos 2.300 litros, e reduzir custo de 80% para 50%".

Carvalho recorda que, quando a fazenda ingressou no projeto, os fiscais da empresa acompanharam de perto o processo de produção de leite, cuidado com o solo, o pasto e os animais, para certificar que as práticas se enquadravam nos critérios de qualidade. Além de ajudar o produtor a elaborar um plano de ação para impulsionar a produção e mitigar as emissões de carbono.

"Com os recursos e orientações que recebemos, tivemos melhorias da água, do solo e na produtividade. E o aumento nos meus rendimentos me deu mais condições para investir em prebióticos e outros recursos para corrigir a acidez do solo e a qualidade dos alimentos das vacas-leiteiras. Até em tecnologia para a ordenha".

Desde que aderiu ao programa, a Fazenda Cachoeira das Antas registrou:

  • Aumento de 3,5 vezes na produção de leite, superando um histórico de estagnação;
  • Crescimento de 17% na produção total, com apenas 3% de aumento no rebanho, priorizando vacas em lactação (+16%);
  • Redução de 15% no uso de concentrado, mantendo a produtividade por vaca;
  • Queda de 33,8% nos principais custos da atividade entre 2023 e 2024;
  • Apesar de uma redução de 3% no preço do leite, a fazenda conseguiu reduzir seus custos em 27% e aumentar a receita em 5%, com ganho de margem de 52%.

“Conseguimos profissionalizar nossa gestão, melhorar o cuidado com os animais e aumentar nossa produtividade de forma sustentável. Esse suporte fez toda a diferença para o crescimento da fazenda", acrescenta o proprietário da fazenda.

Atualmente, a produção é sustentada por mão de obra familiar — o proprietário e sua esposa — e conta com um rebanho em crescimento: eram 53 vacas em lactação em 2023, passaram para 62 em 2024, e a meta é alcançar 71 vacas em lactação nos próximos ciclos.

De olho na COP30

Entre 2020 e 2024, a Danone Brasil, por meio da promoção da agricultura regenerativa, conseguiu reduzir em 42% as emissões de metano nas propriedades que participaram da Jornada Flora. Além de estimular o setor leiteiro com sistemas alimentares mais resilientes, as 133 fazendas parceiras registraram, no total, um salto de 25% na produção.

Agora, a empresa quer levar esses resultados para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA).

De acordo com Camilo Wittica, as nações passaram anos fazendo planejamentos e promessas para cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris. A edição sediada no Brasil é o momento para mostrar resultados e a companhia pretende estar entre os protagonistas da transformação do país em uma economia verde.

"Queremos levar esse projeto para a COP30 como um exemplo de sustentabilidade, mas com retorno econômico. A ideia é que ele seja autossustentável, pois embora tenhamos investido para criar o ecossistema e ainda façamos alguns aportes, estabelecemos parcerias que garantem sua sustentabilidade financeira", explica o vice-presidente de Assuntos Jurídicos da Danone Brasil.

Na conferência, a companhia de alimentos também pretende firmar parceiros e reunir facilitadores de tecnologia para ajudar os fornecedores e produtores brasileiros aumentar suas margens de lucro e diminuam as emissões de carbono. "Já apresentamos a Jornada Flora ao governo do Estado do Pará, que demonstrou interesse em compartilhar a iniciativa com outros produtores do estado. Assim, abrimos a possibilidade de deixar esse projeto como um legado para a COP30, dividindo o know-how de como construímos esse ecossistema e como ele pode ser expandido para outros setores".

*O jornalista viajou a convite da Danone Brasil

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