Etanol: tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%, enquanto o Brasil impõe uma taxa de exportação de 18% sobre o produto americano (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 18 de outubro de 2025 às 06h01.
O encontro entre Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, e Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados Unidos, trouxe à tona — mais uma vez —, a possibilidade de o etanol brasileiro ser uma peça-chave nas negociações para que Donald Trump revise as tarifas sobre alguns produtos brasileiros.
Na quinta-feira, 16, após a reunião, o chanceler brasileiro concedeu uma coletiva, mas não entrou em detalhes sobre o que foi discutido com Rubio.
No entanto, fontes do setor sucroenergético temem que Trump utilize como moeda de troca para diminuir ou eliminar o tarifaço, a taxa de importação sobre o etanol americano, hoje em 18%.
Motivos para isso o republicano tem. Os Estados Unidos são o maior produtor global de etanol de milho. Nesta safra, o país deve produzir 427 milhões de toneladas de milho, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Desse total, 35% será destinado à produção de etanol.
Com uma produção tão grande e em meio a uma guerra comercial com vários países, os produtores americanos têm enfrentado dificuldades para escoar a produção.
"Nesta safra, os Estados Unidos estão encontrando dificuldades para escoar o milho, especialmente para a China. Por isso, Trump precisa resolver esse impasse, que é uma demanda dos produtores locais", afirma Dudu Hammerschmidt, vice-presidente do Grupo Potencial, produtor de biodiesel.
Com o impasse entre China e EUA, o país asiático deixou de comprar milho americano.
De janeiro a setembro de 2025, a Rússia se tornou o principal fornecedor do grão para o país asiático, com 287 mil toneladas exportadas.
Desde 2022, quando a China abriu seu mercado para o milho brasileiro, os EUA perderam espaço como maior fornecedor para o país. Neste ano, o Brasil ocupa a segunda posição, com 249 mil toneladas, em seguida vem Mianmar com 75 mil toneladas, enquanto os EUA estão em quarto lugar, com 20 mil toneladas.
Diante desse cenário, produtores de milho dos Estados Unidos pediram nesta semana ao Congresso norte-americano que aumentasse de 10% para 15% a mistura de etanol de milho (E15) na gasolina durante todo o ano.
Atualmente, esse percentual chega a 15% apenas no verão — de julho a agosto — devido ao aumento da demanda por gasolina durante as férias escolares.
Assim, uma possível redução de 18% para 0% nas tarifas sobre a importação de etanol americano beneficiaria o agro dos EUA.
Em fevereiro deste ano, ao justificar suas tarifas sobre outros países, o etanol brasileiro entrou no radar de Donald Trump, que o apontou como um exemplo de "injustiça" tarifária.
“A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%, enquanto o Brasil impõe uma taxa de exportação de 18% sobre o produto americano”, dizia o documento.
Mesmo com a tarifa maior, os EUA devem exportar 650 milhões de litros de etanol para o Brasil em 2025/26, um crescimento de 160% em comparação com a safra anterior, avalia a Datagro, consultoria agrícola.
"A expectativa é de que os EUA aumentem a sua presença no mercado brasileiro de etanol, sobretudo caso haja a negociação da tarifa", afirma a consultoria em relatório divulgado nesta sexta-feira, 17.
O crescimento nas importações de etanol neste ano é impulsionado pelo aumento da demanda, especialmente em função da elevação da mistura de etanol na gasolina, que passou de 25% para 30% desde agosto.
Isso, aliado à quebra na produção de etanol de cana, tem contribuído para a recuperação dos preços no mercado interno, apesar do aumento na produção de etanol de milho.
Em 2024, os EUA aumentaram suas exportações globais de etanol em 34,8%. Os embarques do biocombustível americano cresceram pelo 15º ano consecutivo, atingindo um valor recorde de US$ 7,5 bilhões.
Se o Brasil eliminar as tarifas sobre as importações de etanol dos EUA, o biocombustível americano pode ganhar espaço no Nordeste, região com déficit de oferta, o que pressionaria os preços internos e afetaria o mercado do Centro-Sul, principal polo produtor de etanol do país, segundo a Datagro Consultoria.
"Se o Brasil ceder à pressão de Trump, o mercado, especialmente o nordestino, seria inundado pelo etanol norte-americano, o que reduziria os preços para os produtores em todo o país, pois também afetaria as transferências de etanol da região Centro-Sul para o Norte-Nordeste, cujo volume médio anual é em torno de 1 bilhão de litros", afirma a consultoria.
O Brasil importa etanol dos EUA por questões comerciais.
Normalmente, o país compra o biocombustível americano em momentos de alta demanda interna, quando a produção local não consegue suprir as necessidades. Esse etanol é utilizado na mistura obrigatória de 30% de etanol anidro na gasolina.
Além disso, há questões logísticas, já que essas regiões estão mais próximas de Houston (EUA), de onde o produto é embarcado.
Outro fator que favorece a importação é o custo: o etanol norte-americano é mais barato do que o etanol brasileiro. Ele chega às regiões Norte e Nordeste 12% a 15% mais barato em relação ao produto nacional, diz Dudu Hammerschmidt, vice-presidente do Grupo Potencial.
"Os produtores de cana no Brasil têm dificuldade para competir com esse etanol de fora. Mesmo com a diferença do custo logístico", diz o executivo.