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Preço dos alimentos dispara e atinge maior nível em 100 anos, aponta estudo

População crescente, eventos climáticos extremos e cortes na assistência internacional elevam insegurança alimentar e dificultam metas da ONU

 (Leandro Fonseca /Exame)

(Leandro Fonseca /Exame)

Publicado em 6 de setembro de 2025 às 06h03.

Última atualização em 6 de setembro de 2025 às 08h24.

O número de pessoas passando fome no mundo tem aumentado em função da combinação de crescimento populacional, disparada dos preços dos alimentos, mudanças climáticas, conflitos armados e redução da ajuda internacional.

O aumento da população global eleva a demanda por alimentos e altera padrões de consumo. Urbanização, dietas mais diversificadas e aumento da renda per capita também contribuem para pressões sobre os preços, conforme destacou o site Projeto Colabora.

A disponibilidade de recursos naturais é limitada. Terras aráveis enfrentam degradação, desertificação e competição com urbanização e indústria. A escassez de água e o uso intensivo de fertilizantes, pesticidas e energia também impactam a produção, elevando custos.

Impacto climático

Mudanças climáticas e eventos extremos, como secas e enchentes, afetam a produtividade agrícola. Estudos recentes da Universidade de Stanford indicam perdas de até 13% nas safras globais de trigo, milho e cevada devido ao aquecimento e alterações climáticas.

Além disso, a acidificação dos oceanos e o declínio de ecossistemas marinhos reduzem a produtividade da pesca, pressionando ainda mais a oferta de alimentos. A combinação desses fatores aumenta o preço dos produtos e agrava a insegurança alimentar.

Oscilação de preços

Os preços reais dos alimentos oscilaram. A média de dez anos da década de 1960 foi de 104,7 pontos, caiu nos anos seguintes e voltou a subir no século XXI. A pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia elevaram o índice para 141,4 pontos em 2021, acima de qualquer valor registrado nos últimos 100 anos.

O crescimento populacional global, que passou de 3 bilhões em 1960 para 8 bilhões em 2022, e deve chegar a 9 bilhões em 2037, intensifica a demanda por alimentos. A pressão sobre recursos naturais e mudanças climáticas reforçam a tendência de preços elevados e insegurança alimentar.

A relação entre população e disponibilidade de alimentos é debatida há décadas. Estudos e pesquisas, como as de Julian Simon versus Paul Ehrlich e David Lam versus Stan Becker, mostram que avanços tecnológicos podem conter aumentos de preços, mas fatores ambientais e geopolíticos podem superar a capacidade de produção.

O Relatório Global sobre Crises Alimentares de 2025 indica que 295 milhões de pessoas enfrentaram fome aguda em 53 países e territórios em 2024, um aumento de quase 14 milhões em relação a 2023. A situação deve se agravar em 2025, principalmente em regiões como a Faixa de Gaza e a África Subsaariana.

Cortes significativos na ajuda internacional, como os promovidos pelo governo dos Estados Unidos, França e Reino Unido, agravam a situação. A combinação de crise climática, conflitos, atraso na transição demográfica e retração de apoio internacional representa um obstáculo crítico para a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) de erradicar a fome até 2030.

O panorama atual indica que a meta de “Fome Zero” se torna cada vez mais difícil de alcançar, especialmente em países de baixa renda, exigindo medidas urgentes para conter o aumento dos preços e garantir a segurança alimentar global.

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