Carne moída: O aumento nos preços ocorre em meio ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma sobretaxa de 50% sobre as exportações de carne brasileira para os EUA a partir de 1º de agosto. (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 16 de julho de 2025 às 12h38.
Última atualização em 16 de julho de 2025 às 12h45.
Os preços da carne moída nos Estados Unidos subiram 10% no primeiro semestre de 2025.
Em janeiro, o preço médio da carne era de US$ 5,54 por libra (454 gramas), segundo dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA. Já em junho, o valor alcançou US$ 6,12, renovando o recorde de maio e atingindo o preço médio mais alto já registrado.
O aumento nos preços ocorre em meio ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma sobretaxa de 50% sobre as exportações de carne brasileira para os EUA a partir de 1º de agosto.
Nos Estados Unidos, 80% da carne consumida é destinada à produção de hambúrgueres. Embora o país seja um dos maiores produtores mundiais de carne bovina, seu rebanho diminuiu nos últimos anos, o que levou o país a aumentar suas importações.
Em 2024, os EUA importaram cerca de 22% da carne que consumiram do Brasil, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec).
Até junho de 2025, as importações totais dos EUA somaram 478 mil toneladas, com o Brasil respondendo por 147 mil toneladas, cerca de 31% do total importado nesse período, segundo a entidade.
Com a perspectiva de uma sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros, as projeções indicam que o preço da carne nos EUA deve continuar em alta.
Países como Argentina e Uruguai, grandes produtores de carne, podem suprir o mercado americano, avalia Fernando Iglesias, analista da consultoria Safras & Mercado, embora a preços mais elevados.
"Os três países vão conseguir atender à demanda norte-americana", diz Iglesias. "No entanto, a preços menos competitivos do que o Brasil antes dessas tarifas de 50%. Isso trará uma pressão inflacionária nos Estados Unidos."
Segundo a consultoria, em maio, os EUA pagaram, em média, US$ 6.143 por tonelada da carne bovina brasileira.
No mesmo período, ao analisar os concorrentes, a Austrália teve um preço médio de US$ 7.169 por tonelada, a Argentina, US$ 6.733 por tonelada, e o Uruguai, US$ 6.951 por tonelada.
As cotações recentes ocorreram em torno de US$ 5.600 por tonelada. Ou seja, com a adição das tarifas, a carne bovina brasileira poderia alcançar US$ 8.415 por tonelada.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que os preços do gado continuarão elevados até o próximo ano, com os preços de varejo da carne bovina se mantendo altos por vários anos.
Na terça-feira, após se reunir com o governo e entidades do setor produtivo, Roberto Perosa, presidente da Abiec, afirmou que os preços do Big Mac, tradicional lanche do McDonald's, devem subir nos EUA com a sobretaxa de 50% sobre as exportações brasileiras de carne.
Segundo ele, 30 mil toneladas de carne nos portos ou já a caminho dos Estados Unidos, que representam US$ 160 milhões em exportações, podem ser alvo das tarifas.
"O setor pecuário americano atravessa o menor ciclo dos últimos 80 anos, e o Brasil exporta principalmente os cortes dianteiros do boi, que são amplamente utilizados na indústria americana de hambúrgueres. É fundamental levar essa relevância para a negociação", afirmou Perosa.
Quatro frigoríficos de Mato Grosso do Sul suspenderam a produção de carne destinada aos Estados Unidos nesta terça-feira. A informação foi confirmada pelo governo do estado e pelo Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sincadems).
De acordo com a entidade, a produção nacional segue normalmente. Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo maior mercado para a carne sul-mato-grossense, com exportações que totalizaram US$ 215 milhões.
Em relação à suspensão dos abates, Jaime Verruck, secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura de Mato Grosso do Sul, explicou à EXAME que a medida foi tomada porque as empresas já possuem estoques, mas esses produtos não conseguirão ser entregues nos EUA até 1º de agosto, em função das novas tarifas.
"Por isso, as empresas não estão mais realizando abates para os Estados Unidos. A escala de abate continua normal no estado, mas, sem dúvida, essas empresas precisarão buscar outros mercados, o que não será uma tarefa fácil", explicou Verruck.
Ele destacou que, no curto prazo, haverá impacto na alocação dos produtos no mercado interno, o que pode gerar pressão para redução de preços.
"Isso cria uma situação muito crítica e séria para o estado, não apenas no setor de carne, mas também em outros produtos, como a celulose, que também tem exportações para os Estados Unidos. Embora seja mais fácil realocar a celulose, a elevação substancial dos custos e a perda de competitividade são inevitáveis", disse.
Verruck afirmou que o governo está monitorando a situação de perto, buscando soluções para minimizar os impactos. "O primeiro passo seria pedir a prorrogação da suspensão temporária dessa tarifa, o que daria tempo para encontrar novos mercados e ajustar as propostas".
O secretário defendeu que, além de uma análise setorial, é preciso considerar a geopolítica mundial, que torna o cenário ainda mais complexo.
"Esse ajuste não será fácil devido ao custo, ao volume e à importância do mercado dos Estados Unidos, que tem alto valor agregado. Será necessário alterar a estrutura e o mix de produtos", concluiu.