Agência de notícias
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 13h18.
O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo. E, em tempos de tarifaço americano, talvez nunca tenha se falado tanto sobre isso. Mas o que menos gente sabe é que regiões pouco propensas ao cultivo no país também têm seus cafezais, ainda que apenas para o consumo de subsistência.
É o caso do Rio Grande do Sul, onde o clima frio impossibilita a produção de café em larga escala. Mas há regiões no estado onde o microclima permite o cultivo de pequenas lavouras. Ter uma plantação de café foi uma “surpresa” para o jornalista Diego Weigelt.
Em outubro de 2022, ele adquiriu dois hectares de terra em Vera Cruz, na região gaúcha do Vale do Rio Pardo, tradicionalmente ligada à produção de tabaco. A propriedade estava tomada por matagal e, ao fazer a limpeza da área, descobriu três arbustos que davam pequenas frutas vermelhas.
“A gente apertava, colocava na boca, para tentar entender o que era, e acabamos descobrindo que era café”, diz.
Com a ajuda da Embrapa e da Fundação Procafé, Weigelt descobriu que os pés encontrados na propriedade são da variedade arábica Typica, a primeira a chegar no Brasil, em 1727. Outra surpresa foi descobrir que, nos anos 1970, Vera Cruz já havia abrigado uma grande plantação de café.
O projeto original de Weigelt com a terra adquirida era formar um empreendimento de agroturismo, chamado Quinta dos Pirilampos, ligado à culinária e cultura portuguesas. Mas as descobertas das plantas incentivaram a inclusão do grão no negócio.
Hoje, o empreendedor já tem mais de 250 pés de café no local, das variedades Typica, Bourbon, Arara, Iapar, Obatan, Ibc e Mundo Novo, em fase de crescimento e devem começar a produzir em até dois anos.
Segundo Weigelt, um dos objetivos é produzir café orgânico local, que será integrado ao projeto de agroturismo.
O plantio no Rio Grande do Sul surpreende porque o clima não contribui para o desenvolvimento da cultura. No caso do café arábica, mais tolerante ao frio, a temperatura média ideal para áreas de produção tem de ficar entre 19°C e 22°C anuais, segundo informações do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.
Em comparação, na região de Vera Cruz, as temperaturas médias anuais oscilam entre 14,9°C e 25,4°C, informa o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
“No caso de Vera Cruz, a região do Vale do Rio Pardo, assim como Vale do Taquari, tem pontos onde o terreno protege de ventos mais gelados ou da geada, permitindo que o café se desenvolva”, explica Luis Bohn, gerente técnico estadual da Emater-RS.
Entre os agricultores da encosta da Serra Geral que mantêm o plantio do café estão Alcides Lopes e a mulher, Ivone Lopes. Alcides Lopes diz que a torra é feita em casa. Dos mais de 400 produtores rurais de Mampituba, cerca de 100 têm pés de café.
Os plantios são feitos entre bananais ou nos fundos de quintais, para proteger do vento frio. Com a alta do preço do café, alguns produtores, que tinham abandonado os plantios, voltaram a cuidar dos arbustos para ter grãos em casa.