Mangas: o setor enfrenta o desafio da validade para tentar direcionar a produção que iria para os Estados Unidos (Marcio Silva/Getty Images)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 11 de setembro de 2025 às 06h01.
A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros deve pressionar as margens dos produtores de frutas no Brasil. A projeção é do relatório Radar Agro, do Itaú BBA, braço agro do banco.
Segundo o documento, a sobretaxa do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, deve impactar os embarques do Brasil, especialmente de mangas e uvas.
Essas duas frutas têm os Estados Unidos como um dos principais destinos de exportação, com a manga sendo exportada principalmente entre setembro e outubro, e a uva entre outubro e dezembro.
No caso da manga, embora tenha sido incluída em uma lista de isenção de tarifas pelo governo dos EUA em setembro de 2025, a isenção só se aplica a países considerados “parceiros alinhados”, e o Brasil ainda não foi incluído nessa categoria, segundo o Itaú.
"É provável que os exportadores tenham suas margens reduzidas, e possíveis desvios da oferta, originalmente destinada à exportação, para o mercado interno podem causar pressão sobre as cotações internas", diz o relatório.
Juntamente com países como México e Equador, o Brasil é um dos principais fornecedores de manga para os Estados Unidos. Para 2025, a previsão é de que o Brasil exporte 48 mil toneladas de manga para os EUA, mostram dados da Associação Brasileira de Frutas (Abrafrutas).
Em 2024, as exportações de frutas brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 148 milhões, com a manga sendo o principal item da cesta, com 36 mil toneladas exportadas e uma receita de US$ 45,8 milhões, correspondendo a 14% dos embarques brasileiros, conforme a entidade.
Na avaliação do Itaú, no entanto, o anúncio do Plano Brasil Soberano, programa do governo para o setor produtivo, deve minimizar os impactos negativos. "As medidas, como acesso a crédito com taxas menores e flexibilização das compras públicas voltadas a alimentos perecíveis, podem ser utilizadas pelo segmento fruticultor", afirma.
Além disso, o banco aponta que, no caso da uva, pode haver redirecionamento para outros mercados, como a Europa, onde a demanda por frutas frescas é forte.
No entanto, o mesmo não se aplica à manga. A fruta enfrenta dificuldades para ser redirecionada, já que a variedade Tommy, mais consumida nos EUA, não é bem aceita no mercado europeu, que prefere a variedade Palmer.
A saída, apontada pelo Itaú, seria a mudança na variedade de manga exportada, substituindo a Tommy pela Palmer, para se adequar à demanda da Europa.
Além disso, os produtores podem planejar melhor suas safras para evitar concentrações de oferta durante a janela de exportação para os EUA, o que ajudaria a reduzir a pressão sobre o mercado interno e melhorar o equilíbrio entre a oferta e a demanda.
As exportações de frutas do Brasil cresceram 13% em valor de janeiro a agosto de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024, atingindo US$ 631 milhões. Por outro lado, as importações de frutas caíram 10% no mesmo intervalo, somando US$ 415 milhões.
Segundo o Itaú, o principal fornecedor das importações brasileiras foi a Argentina, que se destacou no fornecimento de maçãs, peras e kiwis ao Brasil.aponta que o preço competitivo das maçãs chilenas e argentinas impulsionou a entrada dessas frutas no mercado nacional.
As exportações de mangas, no entanto, caíram 13% em valor (US$ 154,7 milhões), mas o volume aumentou 18%, para 131,7 mil toneladas.