Carne bovina: até setembro, EUA importou 218,9 mil toneladas da proteína, um aumento de 64,6% em relação ao mesmo período de 2024 (AAron Ontiveroz/MediaNews Group/The Denver Post/Getty Images)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 3 de novembro de 2025 às 15h51.
Última atualização em 3 de novembro de 2025 às 16h23.
As tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre a carne bovina brasileira devem ser retiradas em até 60 dias, afirmou a Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Com o avanço das negociações entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, na Malásia, na semana passada, a expectativa é de que a sobretaxa seja revertida em breve.
“Eu acredito que, em um prazo entre 30 e 60 dias, isso deve ser resolvido. Acredito que, em breve, teremos boas notícias, com a eventual retirada de tarifas adicionais, para retomar o fluxo comercial da carne bovina”, disse Roberto Perosa, presidente da Abiec, em entrevista à CNN, na China.
Na semana passada, Lula e Trump se reuniram às vésperas da cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Durante o encontro, eles concordaram em iniciar imediatamente negociações para revisar tarifas e sanções aplicadas a produtos brasileiros, incluindo a carne bovina.
Segundo Perosa, que também estava na Malásia, o encontro político abriu espaço para a aceleração do diálogo técnico entre os dois países e aumentou o otimismo do setor. “Nós estamos muito otimistas com as negociações do Brasil com os Estados Unidos”, afirmou o executivo.
Apesar da sobretaxa de Trump, os EUA continuam sendo o principal destino da carne bovina do Brasil em 2025.
Até setembro, o país importou 218,9 mil toneladas da proteína, um aumento de 64,6% em relação ao mesmo período de 2024. Em termos de receita, o crescimento foi de 54% nos nove primeiros meses do ano, alcançando US$ 1,3 bilhão, segundo a Abiec.
Na semana passada, Kent Bacus, diretor da National Cattlemen's Beef Association (NCBA), a principal entidade pecuária dos EUA, disse à EXAME que os americanos querem vender mais carne bovina ao Brasil.
Para Bacus, o comércio justo não deve envolver barreiras protecionistas. Segundo ele, é isso que o setor de carne americano espera do Brasil. O executivo acredita que, se o Brasil deseja manter boas relações com os EUA — e com Trump —, precisa abrir seu mercado de carnes para os produtores americanos.
"Os Estados Unidos são um grande mercado para o Brasil. Precisamos de reciprocidade aqui. O Brasil precisa oferecer condições justas e garantir um comércio justo, o que ainda não foi demonstrado até agora", afirmou.
Segundo Bacus, Trump tem feito um "bom trabalho" ao aplicar as tarifas, apesar dos impactos nos preços ao consumidor americano. "Ele [Trump] tem representado bem nossos interesses. O que pedimos é um comércio justo. Temos um mercado muito aberto no que diz respeito à carne", diz Bacus.
O mercado consumidor dos EUA sente os efeitos do aumento de tarifas. De janeiro a agosto de 2025, o preço da carne moída — um dos principais cortes usados para fazer hambúrgueres — subiu 14%, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O preço médio passou de US$ 5,82 em janeiro para US$ 6,63 em agosto. Nos EUA, 80% da carne moída consumida é destinada à produção de hambúrgueres.