EXAME Agro

Um mercado que deve valer US$ 42 bilhões até 2032: a próxima aposta da SP Ventures, segundo o CEO

Gestora conta com um fundo de US$ 80 milhões e mais de 30 startups sob seu portfólio, 25 delas voltadas para o agronegócio

Francisco Jardim: "Nos próximos cinco anos, veremos um crescimento significativo, especialmente com o uso de tecnologias de nitrogênio e solarização de fósforo", diz CEO (Divulgação)

Francisco Jardim: "Nos próximos cinco anos, veremos um crescimento significativo, especialmente com o uso de tecnologias de nitrogênio e solarização de fósforo", diz CEO (Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 5 de julho de 2025 às 05h55.

A SP Ventures, uma das principais gestoras de recursos para startups ligadas ao agronegócio do Brasil, tem uma aposta para os próximos anos: o setor de biológicos.

Esse mercado, que deve atingir US$ 42 bilhões até 2023, segundo um estudo da Croplife — associação que representa a indústria de defensivos químicos, bioinsumos, biotecnologia e sementes —, tem atraído a atenção de Francisco Jardim, CEO da SP Ventures.

No portfólio da SP Ventures já estão agtechs focadas nesse nicho, como a Gênica, líder em insumos biológicos e premiada em junho por sua responsabilidade ambiental.

Desde o aporte da gestora, a agtech multiplicou seu faturamento por 40 vezes. Em 2024, a Gênica foi avaliada em US$ 100 milhões, em uma rodada de investimentos que contou com a participação do Banco do Brasil e da Mitsubishi.

Com um fundo de US$ 80 milhões e mais de 30 startups em seu portfólio, sendo 25 voltadas para o agronegócio (agtechs), Jardim acredita que a tendência é a substituição de produtos químicos por biológicos, especialmente no setor de defensivos agrícolas. E, para ele, as agtechs são a chave para essa transformação.

"Nos próximos cinco anos, veremos um crescimento significativo, especialmente com o uso de tecnologias de nitrogênio e solarização de fósforo", afirma em entrevista à EXAME. "Isso trará uma grande transformação para o setor, pois os produtores precisarão ajustar seus manejos para se adaptar a essas novas soluções", completa.

Embora o setor de biológicos seja a grande aposta da gestora, Jardim não pretende abandonar as fintechs. Em um cenário de crédito apertado, ele destaca que a Faria Lima aprendeu a dialogar com o agro, e esse movimento deve continuar.

Leia a entrevista completa:

Como a diversificação do agro brasileiro se relaciona com a exploração de novos mercados?

Acredito que o futuro do agro brasileiro está muito ligado à inovação e à adaptação. O investimento em biológicos e em tecnologias como a inteligência artificial vai ser essencial para os próximos anos. E, se você olhar para o cenário de longo prazo, acredito que o Brasil vai passar por reformas fiscais que ajudarão a estabilizar a economia, o que será uma grande oportunidade para o agro.

Investir em biológicos não é algo novo para a gestora, já que conta com a Gênica no portfólio...

Estamos analisando diversas oportunidades com atenção, e uma delas é o investimento nas próximas gerações de biológicos. Isso inclui novos microrganismos em bioprospecção, com foco especial em duas grandes áreas: biofungicidas e biofertilizantes. Se observamos as primeiras gerações de biológicos, vimos que elas se concentraram em microrganismos individuais, principalmente para as categorias de nematicidas e inseticidas. Agora, estamos expandindo para biológicos que têm o potencial de substituir fungicidas, um mercado de US$ 5 bilhões, e fertilizantes, com um mercado de US$ 20 bilhões, como os nitrogenados, fosfatos e potássio. Acreditamos que podemos substituir uma parte significativa dos fertilizantes convencionais com o uso de microrganismos.

Dentro desse contexto, vocês avaliam os biológicos on-farm, ou seja, produzidos diretamente nas propriedades rurais?

Estamos acompanhando a segunda geração de empresas que adotam esse modelo, que combinam a produção on-farm com serviços e produtos, criando modelos de negócio híbridos. Além disso, estamos explorando as gerações mais avançadas de biológicos, como moléculas produzidas por micro-organismos, peptídeos e até produtos geneticamente codificados, como o RNAi. Essas tecnologias têm o potencial de gerar um impacto ainda maior de forma sustentável. Em resumo, estamos bastante otimistas com essa nova leva de biológicos, que oferece grande potencial e abre portas para novos mercados.

Ainda assim, a tese da SP Ventures é continuar avaliando o setor financeiro?

Continuamos de olho no mercado de fintechs, especialmente no setor de seguro agrícola e nas insurtechs (startups de seguros). Além disso, estamos apostando fortemente no espaço de crédito e nas fintechs de crédito fora do Brasil. Aprendemos bastante com o crescimento e consolidação do mercado no Brasil e agora estamos focados no México e em outros países. Nos últimos dois anos, fizemos dois investimentos em fintechs no México, sendo um agora no início do ano, e estamos extremamente otimistas com a oportunidade de replicar esse modelo de fintechs para o agro em outros mercados.

Mesmo com as incertezas fiscais, você acredita que é um bom momento para investir em startups do agro?

O mercado de startups é de longo prazo, então o foco é no crescimento para os próximos seis a doze anos. Embora as incertezas fiscais existam, o setor agropecuário é blindado em comparação com outros setores, principalmente pela sua diversificação geográfica e cultural, e pela sua conexão com mercados externos. Mesmo em tempos de crise fiscal, o agro brasileiro continua a crescer e a se destacar.

Mas o cenário é de volatilidade para o setor, certo?

A guerra na Ucrânia, por exemplo, teve um impacto direto no mercado de commodities, o que mexeu com a soja e outros produtos. O impacto geopolítico, que inclui a guerra no Oriente Médio, também afetou o mercado de grãos e commodities. O agro brasileiro, no entanto, é resiliente e consegue se ajustar a esses choques. Uma das vantagens do agro brasileiro é que ele tem uma diversificação geográfica e de culturas muito grandes, o que permite que ele se proteja desses impactos de maneira mais eficaz. Essa diversificação também é um ponto importante para os investidores que buscam segurança no setor.

Como você enxerga o Plano safra 2025/26 anunciado pelo governo e o aumento de juros?

Do ponto de vista de quem está investindo no mercado de crédito agrícola, vejo isso como uma oportunidade. Em 2017/2018, já começamos a perceber que o mercado de crédito agrícola estava se transformando. O que o governo fez até agora não tem sido suficiente para acompanhar o crescimento do setor, especialmente no que tange ao crédito agrícola. O mercado de fintechs e o setor privado têm preenchido essa lacuna, e é isso que estamos vendo agora, uma desconcentração bancária.

Essa desconcentração que você citou passa pelos Fiagros também? 

Os Fiagros têm sido uma evolução muito importante. Começamos a observar isso em 2018, 2019, quando o Banco Central começou a desregulamentar algumas áreas e a criar novas oportunidades de financiamento. Isso abriu caminho para uma maior concorrência no setor bancário, criando uma necessidade de preenchimento da lacuna que o governo não estava conseguindo suprir. Além disso, o agro aprendeu a se comunicar com o mercado financeiro de forma mais profissional, e o resultado disso é um agro mais disciplinado financeiramente.

E a Faria Lima aprendeu a conversar com o agro?

A Faria Lima tem interesse em conversar com o agro porque ele representa uma grande oportunidade. O agro é 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e até 6% do mercado de capitais, e esse é um mercado gigantesco para ser explorado. Claro, ao mesmo tempo, a Faria Lima teve que aprender muito sobre o setor, especialmente em entender a sazonalidade, os ciclos de produção e o impacto geopolítico. Então, existe uma maior compreensão e maior segmentação de produtos financeiros para o setor.

Quais são as tendências que você enxerga no mercado de crédito agrícola?

Vejo uma crescente segmentação dentro do setor, especialmente no crédito. Não basta mais financiar a produção agrícola todo, mas é preciso segmentar o crédito para cada tipo de produto e operação. No futuro, haverá mais produtos financeiros focados em nichos específicos, como custeio, estocagem, infraestrutura e até financiamento para compra de terras. Isso vai exigir mais sofisticação da parte das empresas financeiras, mas também trará mais oportunidades para os investidores.

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