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44% dos indígenas amazônicos vivem em cidades, aponta estudo do BID

Pesquisa aponta ainda que metade das cidades da Amazônia foi fundada depois de 1975

Tribo indígena dos Tatuyos, na Amazônia: cidades atraem especialmente os mais jovens (Leandro Fonseca/Exame)

Tribo indígena dos Tatuyos, na Amazônia: cidades atraem especialmente os mais jovens (Leandro Fonseca/Exame)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 3 de novembro de 2025 às 10h20.

Última atualização em 3 de novembro de 2025 às 10h29.

De cada 100 indígenas da Amazônia, 44 deles moram em áreas urbanas na região, mostra um estudo feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e obtido de forma antecipada pela EXAME.

"Para os indígenas, muitos fatores levam à migração para as cidades. Os principais fatores incluem a expansão de indústrias extrativas, como mineração, petróleo e madeira, e a violência", afirma o estudo, chamado "Cidades na Amazônia – Pessoas e natureza em harmonia”. Veja a íntegra aqui, em inglês.

Além do efeito destas atividades, os centros urbanos também exercem grande atração sobre os indígenas, especialmente os mais jovens, por oferecerem mais oportunidades de emprego, educação e saúde.

"Alguns pais de jovens indígenas encorajam seus filhos a aprender a língua e as normas culturais do ambiente urbano, embora às vezes às custas de sua cultura tradicional", aponta o estudo.

Crescimento recente

Entre as cidades e outras áreas urbanas que existem na Amazônia, metade delas foi criada nos últimos 50 anos, mostra a pesquisa.

Os dados apontam que 70% dos habitantes da região vivem atualmente em áreas urbanas, o que representa cerca de 40 milhões de pessoas. Em 1975, esse percentual era de 55%.

O crescimento urbano foi mais forte nas porções da Amazônia que ficam na Venezuela e na Guiana. O estudo considera os dados da floresta toda e não só da parte que fica em território brasileiro.

No Brasil, a cidade com crescimento mais acelerado foi Paraupebas, no Pará, que tem se expandido acima de 5% ao ano.

Para os pesquisadores, o crescimento urbano da região foi feito, muitas vezes, sem planejamento adequado, tanto interno quato de conexão com as cidades do entorno, o que criou uma rede fragmentada. Com isso, o isolamento geográfico limita o acesso a serviços e o desenvolvimento econômico.

Além disso, nas cidades da região, 26,6% não possuem coleta de lixo, e 50% não possuem serviço de esgoto adequado, percentuais bem acima da média do Brasil.

“As cidades podem ser aliadas na proteção do bioma amazônico se fortalecermos sua governança, promovermos atividades produtivas sustentáveis de alto valor agregado e melhorarmos a qualidade, a resiliência e a cobertura dos serviços básicos, como água potável, gestão de resíduos e saneamento”, afirma Nora Libertun de Duren, especialista líder em Habitação e Desenvolvimento Urbano do BID e editora da publicação.

Ponte Pastor Firmino Gouveia, em Belém: cidade é uma das mais populosas da Amazônia (Divulgação/Agência Pará)

Cidades ocupam pouco território

Ao mesmo tempo, o estudo mostra que as cidades na Amazônia ocupam apenas 0,2% do território, o que não as coloca como causa direta do desmatamento, segundo os autores.

O estudo mostra ainda que quatro grandes cidades, Manaus, Belém, São Luís e Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), concentram 20% da população amazônica.

O estudo considera como áreas urbanas regiões contínuas que tenham ao menos 5.000 pessoas ou locais onde haja densidade populacional de ao menos 300 pessoas morando em cada quilômetro quadrado.

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