Brasil

Alegações sobre Pix são infundadas e prisão de Bolsonaro não é 'caça às bruxas', diz Lula ao NYT

Em artigo para o jornal americano, presidente brasileiro afirma que tarifas são motivadas por interesses políticos e defende soberania nacional

Lula: “o multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas”, escreveu presidente em artigo (Ricardo Stuckert/PR)

Lula: “o multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas”, escreveu presidente em artigo (Ricardo Stuckert/PR)

Publicado em 14 de setembro de 2025 às 12h17.

Para o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as justificativas dos Estados Unidos para impor tarifas de 50% sobre o país são “infundadas”.

Em artigo publicado neste domingo, 14, no New York Times, o presidente afirmou que "não há justificativa econômica para a decisão do governo Trump" e classificou a medida como "equivocada e ilógica".

"Nos últimos 15 anos, [os Estados Unidos] acumularam um superávit de US$ 410 bilhões no comércio bilateral de bens e serviços. Quase 75% das exportações dos EUA para o Brasil entram isentas de impostos. Pelos nossos cálculos, a tarifa média efetiva sobre produtos americanos é de apenas 2,7%", afirmou Lula.

O brasileiro reconheceu a preocupação dos EUA com empregos e reindustrialização como legítima, mas criticou a adoção de medidas unilaterais. Para ele, o multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas para disputas comerciais.

"Quando, no passado, os Estados Unidos levantaram a bandeira do neoliberalismo, o Brasil alertou para seus efeitos nocivos. Ver a Casa Branca finalmente reconhecer os limites do chamado Consenso de Washington, uma prescrição política de proteção social mínima, liberalização comercial irrestrita e desregulamentação generalizada, dominante desde a década de 1990, justificou a posição brasileira", escreveu Lula. "Mas recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado. O multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas."

Pressão política e caso Bolsonaro

O presidente também associou as tarifas a uma motivação política. Lula afirmou que a Casa Branca estaria tentando pressionar o Brasil para "obter impunidade ao ex-presidente Jair Bolsonaro", investigado por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.

"A falta de justificativa econômica por trás dessas medidas deixa claro que a motivação da Casa Branca é política. O vice-secretário de Estado, Christopher Landau, teria dito isso no início deste mês a um grupo de líderes empresariais brasileiros que trabalhavam para abrir canais de negociação. O governo americano está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro", disse Lula.

Lula elogiou a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento dos envolvidos nos ataques e disse que a corte atuou dentro dos limites da Constituição de 1988.

"Não se tratou de uma 'caça às bruxas'. A decisão foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra uma ditadura militar. A decisão foi resultado de meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do STF. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022", escreveu Lula.

Regulação digital e Pix

O artigo também rebateu críticas americanas à regulação das plataformas digitais no Brasil.

Para Lula, é “desonesto” classificar as regras como censura, já que o objetivo é proteger famílias contra fraudes e discursos de ódio. “A internet não pode ser uma terra de ilegalidade”, afirmou.

Sobre o sistema de pagamentos, o presidente defendeu o Pix como ferramenta de "inclusão financeira" e contestou alegações de práticas desleais contra operadores dos EUA. "Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro", disse.

Apelo à diplomacia e ao respeito mútuo

Lula finalizou o texto com um apelo ao diálogo e ao respeito entre nações.

Citando discurso de Trump na ONU em 2017, Lula destacou que "países fortes e soberanos devem cooperar mesmo com diferenças".

“Continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”, escreveu.

Acompanhe tudo sobre:Luiz Inácio Lula da SilvaEstados Unidos (EUA)Donald TrumpGoverno LulaJair Bolsonaro

Mais de Brasil

EUA restringem circulação de Padilha em Nova York a 5 quarteirões de hotel e reuniões na ONU

STF dá prazo para Câmara se manifestar sobre PEC da Blindagem

STF tem maioria para aumentar requisitos de cobertura fora do rol da ANS por planos de saúde

Governo dos EUA libera visto de ministro da Saúde para acompanhar Lula na ONU