Antídoto para metanol está sendo distribuído nos hospitais de São Paulo (Governo de SP/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 21h33.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai publicar na noite desta sexta-feira uma resolução para regulamentar a produção em escala do etanol farmacêutico, antídoto que pode ser usado em casos de contaminação por metanol, como os observados nos últimos dias no país. O documento dispõe sobre procedimentos temporários e extraordinários para a expansão da produção do chamado etanol injetável.
De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, há 113 registros de intoxicação por metanol após ingestão de bebida alcoólica em seis estados (São Paulo, Pernambuco, Bahia, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul. Há 11 casos confirmados de contaminação, todos em São Paulo.
Com a resolução da diretoria colegiada da Anvisa, a previsão da agência reguladora é que a substância já possa ser produzida em larga escala nos próximos dias e esteja disponível em uma semana se for necessário, segundo o diretor-presidente da Anvisa, Leandro Safatle.
Ao GLOBO, Safatle explica que, como os casos de contaminação por metanol no Brasil eram pouco comuns —em média, 20 por ano— não havia o registro para a produção de etanol e de fomepizol no país. As duas substâncias funcionam como antídotos para tratar os casos de contaminação por metanol. No caso do fomepizol, no entanto, a produção é mais complexa e não há ainda a possibilidade de produzir o antídoto localmente em curto prazo. Já a produção do etanol é mais fácil: hospitais, laboratórios e mesmo farmácias de manipulação já têm capacidade para produzir a substância no Brasil, mas não o fazem em escala industrial.
— Temos etanol no país para atender aos casos de contaminação. Muitos hospitais universitários já têm algum volume desse etanol. O que a gente está fazendo hoje é uma resolução para regulamentar a produção desse etanol em escala industrial, em laboratórios, dando essa capacidade para poder autorizar, viabilizar a produção do etanol em grande escala — diz Safatle.
O presidente da Anvisa diz que a resolução é uma “precaução” da agência para que não falte antídoto caso haja mais casos de contaminação. O Ministério da Saúde, em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), já comprou 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico e está em processo de aquisição de mais 5 mil tratamentos (150 mil ampolas) para garantir o estoque do SUS.
Nesta sexta-feira, a pasta confirmou 113 registros de intoxicação por metanol após ingestão de bebidas. Os estados Bahia, Paraná e Mato Grosso do Sul notificaram seus primeiros casos em investigação. Ao todo, são 11 casos confirmados e 102 em investigação no país. Das 113 notificações, 101 foram em São Paulo, onde estão todos os 11 casos confirmados até o momento. Há casos em investigação ainda em Pernambuco e no Distrito Federal.
Safatle afirma que um grande laboratório farmacêutico brasileiro já ofereceu ao governo federal a doação de etanol caso seja necessário.
— Um laboratório garantiu que poderia fornecer de graça para o Ministério da Saúde, fazer uma doação dessa produção para abastecer (a rede pública) caso seja necessário — ressalta o diretor-presidente da Anvisa.
O metanol e o etanol são tipos de álcool, ambos incolores e inflamáveis. A diferença está na composição química das duas substâncias: o metanol é composto por apenas um átomo de carbono, enquanto o etanol tem dois. A diferença parece trivial, mas não é. A molécula de metanol é processada de modo diferente pelo corpo humano, sendo muito mais tóxica do que o etanol para o organismo. A substância é utilizada em uma série de indústrias, sendo empregada em líquidos de limpeza de para-brisas, anticongelantes e combustíveis.