Brasil

Bastidores: tarifa de Trump garante "cavalo de pau" na popularidade de Lula e Pix é nova trincheira

Pesquisas internas do governo mostram que sobretaxação do presidente dos Estados garantiu pontos positivos para o petista, que quer aglutinar apoio de eleitores de centro

Lula: presidente quer aglutinar apoios dos eleitores de centro ao defender o Brasil da disputa comercial com os Estados Unidos e colher dividendos eleitorais em 2026. (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)

Lula: presidente quer aglutinar apoios dos eleitores de centro ao defender o Brasil da disputa comercial com os Estados Unidos e colher dividendos eleitorais em 2026. (Ricardo Stuckert / PR/Flickr)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 16 de julho de 2025 às 15h03.

Última atualização em 16 de julho de 2025 às 15h08.

Após amargar o fundo do poço em fevereiro, pesquisas internas da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República mostram um "cavalo de pau" na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O aumento da avaliação positiva, afirmaram auxiliares de Lula à EXAME, foi impulsionado pela reação do petista ao tarifaço de 50% aos produtos brasileiros anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Soma-se a isso, a estratégia de comunicação coordenada do governo para garantir a isenção do Imposto de Renda (IR) para pessoas com renda de até R$ 5 mil mensais e os discursos coordenados de que o benefício fiscal será custeado com a tributação dos mais ricos.

Como parte desse plano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou reiteradas vezes que a taxação alcançaria "moradores de cobertura" e os "super ricos". A proposta, aprovada nesta quarta-feira, 16, em comissão especial da Câmara dos Deputados, deve ser votada em plenário em agosto, após o recesso parlamentar. A isenção de IR é outra peça importante do tabuleiro eleitoral de 2026 e o petista aposta nessa medida para ganhar ainda mais tração nas pequisas no próximo ano.

No curto prazo, o discurso de defesa da soberania do país, afirmaram auxiliares de Lula será o mote central da estratégia do governo para continuar a aumentar a popularidade do petista e de aglutinar mais apoios de eleitores de centro para presidente. A estratégia também passa por responsabilizar o ex-presidente Jair Bolsonaro e os filhos pelo tarifaço de Trump.

"A defesa da soberania une os 33% de eleitores da esquerda com os 33% do governo do centro e o governo vai usar isso. O Brasil não aceita intromissão. É diferente de defender que o governo não aceita essa intromissão.E Lula sabe surfar na condição de líder na defesa dos interesses dos brasileiros", afirmou um auxiliar do presidente da República.

Imagem representativa do Pix: sistema de pagamento instantâneo, altamente popular no Brasil, virou alvo de investigação comercial dos EUA (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Pix é nova trincheira que será explorada

Para auxiliares de Lula, o governo Trump deu ainda mais munição para a gestão petista ao iniciar uma investigação sobre as ações, políticas e práticas do Brasil que impactam o comércio com os Estados Unidos, sobretudo em relação ao comércio digital, serviços de pagamento eletrônico e proteção de propriedade intelectual.

A investigação, segundo o governo americano, foi movida após uma série de "preocupações levantadas por empresas e analistas", que consideram que práticas brasileiras, como o Pix, podem "prejudicar as empresas dos Estados Unidos, oferecendo vantagens injustas para os competidores locais". O governo Trump afirmou que a Rua 25 de Março, em São Paulo, é outro ponto de preocupação, por ser conhecida pela venda de produtos falsificados.

Segundo auxiliares de Lula, tanto os questionamentos sobre o Pix quanto sobre a 25 de Março são sinalizações políticas para os eleitores conservadores de Trump, entre eles os produtores rurais, que têm interesse em explorar mercados no Brasil, para exportar etanol de milho para o país.

"Trump também está fazendo acenos políticos para seus eleitores conservadores que têm interesses no Brasil", afirmou um auxiliar de Lula.

LEIA MAIS: De Pix à 25 de março: os principais pontos da investigação comercial dos EUA contra o Brasil

A investigação anunciada pelo governo Trump foi rebatida pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, que defendeu o Pix e ironizou os reais motivos pelos quais o governo dos Estados Unidos está preocupado com as vendas da 25 de Março.

"Nesse momento que, infelizmente, vivemos uma intromissão absolutamente indevida, não dá para imaginar um cenário onde um presidente de uma das duas maiores potências do mundo está preocupado com a 25 de Março e põe isso em um documento internacional; está preocupado com o meio de pagamento que um país adota e é abraçado por toda a população, empresas, sistema financeiro, que é o Pix”, disse.

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