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'Criança não tem que produzir conteúdo na internet. Não tem', diz Felca

Em participação no 'Altas Horas', influencer conta que ficou um ano produzindo o material que gerou denúncia contra o influenciador Hytalo Santos, que está preso em SP

Youtuber e influenciador Felca. Foto: Reprodução / YouTube
 (Reprodução/YouTube)

Youtuber e influenciador Felca. Foto: Reprodução / YouTube (Reprodução/YouTube)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 17 de agosto de 2025 às 09h56.

O influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, comentou neste sábado (16), durante participação no Altas Horas, da TV Globo, sobre as repercussões da sua denúncia sobre a “adultização” de crianças na internet. Impressionado com a repercussão da denúncia, o influenciador disse que ficou um ano pesquisando sobre o assunto e foi levado a produzir o material por uma indignação pessoal.

No vídeo, que tem pouco mais de 40 minutos e que já soma 44 milhões de visualizações no YouTube, o influenciador destrincha exemplos de exploração de crianças e adolescentes, por meio de situações constrangedoras e até da sexualização precoce, para a monetização nas redes sociais.

— Era um conteúdo que, se fosse mostrado sem dar o contexto, você ia falar que era um conteúdo inocente. Era uma criança brincando, se divertindo com as amigas, mas existiam pedófilos 'cantando' essas crianças. Você vai vendo aquele movimento e vendo pessoas que adultizam propositalmente a criança; se você não sente uma indignação, você não é um ser humano. Eu tinha um público e falei, afirmou.

De acordo com o influenciador, o material ficou sendo produzido por pouco mais de um ano, pela sua dificuldade pessoal de consumir os vídeos da denúncia. Felca diz que, agora, com o vídeo publicado, ele e sua equipe vêm sofrendo ameaças e campanhas de difamação, mas que mesmo assim está realizado com a possibilidade de provocar uma mudança. Pouco mais de uma semana após a divulgação do vídeo, houve um movimento em massa de deputados e vereadores propondo leis sobre o tema.

— É um tema tão aversivo que, se você não tem sangue de barata, não consegue ficar nisso 30 minutos ao dia. Eu ficava vendo aquele material e ficava com tanta agonia, tanto amargor na boca, que, pela minha saúde mental, eu fechava o Facebook e voltava no outro dia. A repercussão, por mais que seja muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, me deixa muito feliz, porque, se estão dando luz para essa causa, eu vejo que possa haver mudanças. Estou muito realizado, disse.

O criador de conteúdo apontou que o maior problema não está apenas na exposição em si, mas no uso indevido das imagens de menores de idade.

— Essas contas de perfis de crianças estão sendo utilizadas para promover trocas de pornografia infantil. Isso é muito sério. É um assunto muito delicado, aversivo de ser falado, que causa repulsa, mas tem que ser falado. Infelizmente, acontece em pequena e em grande escala, de forma menos ou mais problemática. Acontece desde uma exposição, desde uma adultização, crianças se portando como adultos, até crianças sendo sexualizadas de fato. É doentio.

Felca também falou da importância da supervisão no consumo de conteúdo pelas crianças. Para ele, a lógica das plataformas digitais facilita a exposição precoce a materiais inadequados.

— O consumo tem que ser supervisionado. O pai tem que supervisionar o que a criança consome na internet, porque é muito fácil - o algoritmo mesmo é trabalhado para isso - a criança sair de uma animação divertida para um conteúdo não apropriado. E se você, enquanto pai, tiver capacidade de supervisionar o seu filho com 10, 11, 12 anos, ele pode consumir de forma moderada. Mas, se você não tem a capacidade, se você não consegue ser um pai presente, se você trabalha muito, às vezes tem muitas ocupações e tudo mais, na minha opinião, bloqueio.

Segundo o youtuber, a produção desse tipo de conteúdo nem deveria acontecer.

— Criança não tem que produzir conteúdo na internet. Não tem. A internet é um ambiente para adultos. Todo mundo que está aqui sabe que a exposição não é algo fácil de lidar. A exposição vem com críticas; com pessoas comentando sobre você, sobre a aparência e, às vezes, assédio. E a criança não está preparada para receber essas coisas.

Hytalo Santos preso

Um dos casos usados por Felca no seu vídeo é o do influenciador paraibano Hytalo Santos, que desde 2024 é investigado pelo Ministério Público da Paraíba por exploração de menores em postagens feitas nas suas redes sociais. Ele nega as acusações. A repercussão do vídeo acabou rendendo um pedido de prisão para o influenciador.

Na véspera da sua prisão, na sexta-feira, 15, em Carapicuíba, grande São Paulo, o influenciador paraibano havia sido alvo de mandado de busca e apreensão na casa onde vive, em Bayeux, região metropolitana de João Pessoa (PB). Quando as buscas foram realizadas, Hytalo não estava na mansão. A casa estava vazia, mas a máquina de lavar foi encontrada ligada. Segundo o juiz Adhailton Lacet, as equipes que cumpriram o mandado foram informadas pelo condomínio de Hytalo que "ele havia saído com muitos equipamentos" em um carro antes da chegada dos policiais.

Após a repercussão do caso, a Meta derrubou os perfis de Instagram de Hytalo e de "Kamylinha Santos", uma adolescente de 17 anos que participava dos conteúdos e se apresentava como "filha adotiva" do acusado. Em um posicionamento publicado na semana passada, Hytalo afirmou já ser alvo de uma denúncia do Ministério Público da Paraíba (MPPB) desde 2024 por conta dos mesmos crimes.

Hytalo Santos, natural de Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, ganhou projeção nas redes sociais por "adotar" crianças e jovens, emancipados ou não, a quem chamava de "crias", e expor a convivência dos menores entre si e com outras pessoas. As "crias" eram abrigadas em imóveis nos quais eram organizados diversos "reality shows" exibidos nas redes sociais.

Com a popularização dos vídeos, que incluíam dinâmicas e "brincadeiras" de cunho sexual, outras crianças e adolescentes de diversos estados e que já atuavam como influenciadores nas redes sociais foram incluídos no grupo, que era chamado de "Turma do Hytalo".

Kamylinha Silva foi a primeira menor a ser exposta pelo influenciador, ainda no ano de 2018, quando tinha 12 anos de idade. Em entrevista ao podcast Poddelas, Hytalo disse que a conheceu em uma aula de dança na cidade de Bayeux (PB), onde moram até hoje.

Nos conteúdos postados pelo influenciador, bem como no vídeo de denúncia publicado por Felca, a jovem aparece tendo interações de cunho sexual com outros jovens e dançando de maneira sugestiva, com pouca roupa, em ambientes privados e públicos. Em um trecho, ela é vista dançando em cima do palco de uma festa, onde é filmada por adultos.

Antes do banimento da conta, Kamylinha tinha cerca de 11 milhões de seguidores no Instagram, enquanto a conta de Hytalo ostentava mais de 12 milhões de fãs. O influenciador também era responsável pelo perfil "Fartura Premiações", no qual organizava rifas e sorteios de prêmios.

Na decisão desta quarta (13), o juiz Adhailton Lacet determinou a "expedição de mandado de busca e apreensão a ser cumprido no endereço do promovido [Hytalo] para apreensão de todos os aparelhos eletrônicos", como celulares, computadores, câmeras, HDs e pen drives, utilizados por ele para "a gravação, edição, divulgação de conteúdos digitais, os quais deverão ser encaminhados, posteriormente, à autoridade policial para a realização de análise pericial para extração dos dados".

O magistrado determinou ainda a suspensão imediata de todas as contas e perfis de Hytalo Santos nas redes sociais Instagram, Facebook, TikTok, YouTube e outras, "enquanto perdurar a apuração dos fatos". Ele também ordenou a notificação imediata dos provedores de aplicações para remover conteúdos publicados por Hytalo em que apareçam crianças e adolescentes.

*Colaborou CBN São Paulo

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