Celso Vilardi: advogado argumentou que não há provas que vincule Bolsonaro a uma tentativa de golpe (Rosinei Coutinho/STF)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 11h02.
Última atualização em 3 de setembro de 2025 às 11h22.
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quarta-feira, 3, que não há "uma única prova" que ligue Bolsonaro à suposta tentativa de golpe de Estado em 2022, criticou como as provas foram disponibilizadas pela Polícia Federal e contestou a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens.
"Esse papel, essa minuta, esse depoimento, não há uma única prova que conecte o presidente Punhal Verde e Amarelo à Operação Luneta e ao 8 de janeiro. Aliás, nem o delator, que mentiu contra o presidente da República, mencionou qualquer participação em Punhal, Luneta ou 8 de janeiro", afirmou o advogado Celso Vilardi.
"Não existe absolutamente nada. Esse caso vai crescendo, ele vai crescendo, para colocar o presidente no 8 de janeiro. São 680 processos, mais de 500 acordos de persecução penal. O acordo de persecução penal não tem que falar a verdade. Aonde está, nesses acordos, que o Bolsonaro é o instigador, o chefe, o instigado?", afirmou.
Na avaliação do defensor, Bolsonaro foi "dragado" para o processo em "uma denúncia baseada em um general que imprime uma minuta no Palácio e em uma delação".
O ex-presidente é réu, junto a sete aliados, por tentativa de golpe de Estado após a derrota na eleição presidencial de 2022. A manifestação de Bolsonaro será dividida entre Vilardi e o advogado Paulo Cunha Bueno.
O defensor mencionou a dificuldade de acessar as provas do processo. Ele citou o volume de 70 terabytes de documentos, que, segundo ele, não deu tempo suficiente para análise técnica da defesa. Vilardi afirmou que "não conhece o conteúdo completo do processo e das provas" por esse motivo.
"Desde o primeiro momento, pedi as provas que estão no processo. Eu não nego as provas eleitas pela Polícia Federal e pela denúncia, que foram colocadas nos autos e estão à disposição desta e de todas as defesas. Mas que provas são essas? São recortes de conversas de WhatsApp, são documentos como um papel, uma agenda, que foram localizados em computadores. São dezenas de computadores, de celulares, milhares de documentos apreendidos", disse.
Sobre a delação de Mauro Cid, Vilardi afirmou que o ex-ajudante de ordens não é "confiável", por alterar sua versão dos fatos diversas vezes. O defensor classificou a delação como "mentirosa".
"A delação é algo que não existe nem aqui nem em nenhum lugar do mundo. Se houver o reconhecimento parcial da validade da delação e, ainda assim, seu aproveitamento para reduzir a pena, é inaceitável", afirmou.
O advogado argumentou que a PF e PGR também apontaram que à delação tinha "inúmeras omissões e contradições".
Vilardi disse ainda que reuniões com os embaixadores e de 7 de dezembro não podem ser tratadas como atos preparatórios de crime, sob risco de violar o princípio da taxatividade do direito penal.
“Não se pode punir um ato preparatório", disse o advogado. Vilardi defendeu que Bolsonaro agiu para garantir a ordem e citou que ele pediu que os caminhoneiros desobstruíram as vias após as eleições de 2022 e facilitou a transição de governo.
O julgamento de Bolsonaro e outros sete réus será transmitido ao vivo pela TV Justiça e no canal do STF do YouTube
O primeiro dia de julgamento foi marcado pela leitura do relatório do ministro relator Alexandre de Moraes, as argumentações da acusação e a sustentação dos advogados de defesas de quatro acusados.
Moraes iniciou com um longo discurso sobre a acusação de golpe, seguido pela sustentação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que apresentou as provas e ações que caracterizaram em seu relatório a composição da trama golpista.
Entre os advogados de defesa, a estratégia foi unânime: negar as acusações de tentativa de golpe e criticar o relatório da denúncia da PGR.