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Dilma afirma que governo Temer é provisório e ilegítimo

Essa foi a primeira aparição pública de Dilma Rousseff após ser afastada da presidência da República.

Presidente afastada Dilma Rousseff no Palácio do Planalto (Paulo Whitaker / Reuters)

Presidente afastada Dilma Rousseff no Palácio do Planalto (Paulo Whitaker / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2016 às 08h22.

Belo Horizonte, 20 mai (EFE).- A presidente afastada Dilma Rousseff fez nesta sexta-feira sua primeira aparição pública desde que o Senado aprovou a abertura do processo de impeachment e reiterou que considera o governo do presidente interino Michel Temer como "provisório" e "ilegítimo".

"O caráter provisório (do governo Temer) é importantíssimo. O processo é um golpe. É provisório porque é ilegítimo, porque não é produto da eleição direta, não é produto do desejo popular", afirmou Dilma durante um encontro com blogueiros e os chamados 'ativistas digitais'.

A presidente afastada disse que o "povo" que votou nela "não queria" este programa de governo que está sendo implantado. "É um retrocesso", porque "não tem legitimidade nas urnas", afirmou.

Além disso, Dilma criticou o fato de o governo Temer estar, segundo ela, "batendo o recorde dos desmentidos. Num dia dizem uma coisa. No dia seguinte, desmentem o que disseram. Mas deixam a suspeita fundada de que aquilo que desmentiram é aquilo que eles realmente acreditam", ao se referir aos posicionamentos do governo interino sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), a previdência e os programas sociais.

As mudanças na política externa, no comando da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a extinção do Ministério de Cultura e das secretarias especiais de Direitos Humanos, de Igualdade Racial e de Políticas para as Mulheres também foram alvos das críticas de Dilma Rousseff.

O presidente suspenso da Câmara dos Deputados, o deputado Eduardo Cunha, que liderou o processo para a abertura do processo de impeachment contra a chefe de Estado, também não escapou das críticas de Dilma Rousseff.

Pouco antes do encontro, Dilma foi recebida calorosamente por ativistas e manifestantes em uma praça pública do centro de Belo Horizonte, aos quais pediu resistência para evitar que a democracia "seja ferida".

Horas antes do evento na capital mineira, Dilma utilizou as redes sociais para denunciar que a reforma proposta por Temer é um "desmonte" e provocará "um estrago enorme" na Previdência Social.

"Eles fizeram um estrago enorme na Previdência Social, acabaram com o Ministério da Previdência. Isso é absurdo. É um patrimônio do trabalhador brasileiro, é um patrimônio da sociedade", afirmou.

Nos últimos dias, a presidente afastada tinha criticado, também através das redes sociais, o fim do Ministério da Cultura e a ausência de mulheres no governo Temer.

O ato coincidiu também com um novo escândalo que pode atingir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira esposa de Lula, foi alvo de mandado de condução coercitiva e levado a prestar depoimento pela Polícia Federal dentro da Operação Janus, que foi instaurada inicialmente para apurar suposto tráfico de influência do ex-presidente Lula para beneficiar a Odebrecht.

A Justiça tenta esclarecer se algumas viagens que a Odebrecht pagou para Lula, quando este deixou a presidência, para fazer palestras no exterior, estão vinculadas a empréstimos dos bancos públicos concedidos à construtora para projetos em outros países.

O interrogatório de Taiguara se concentrou em tentar esclarecer as razões dos contratos assinados pela Odebrecht entre 2012 e 2015 para que sua sociedade, uma empresa de construção civil de pequeno porte com sede em Santos, realizasse obras complexas em Angola.

A empresa do sobrinho do ex-presidente, segundo a Polícia Federal, recebeu R$ 3,5 milhões por supostos serviços nas obras de reforma do complexo hidrelétrico de Cambambe (Angola).

A Odebrecht recebeu um empréstimo do BNDES de US$ 464 milhões para financiar as obras realizadas no país africano.

O ex-presidente Lula negou hoje qualquer irregularidade, tomou distância da operação policial e insistiu que sempre agiu "dentro da lei", em comunicado.

Em entrevista à emissora "Telesur", o ex-presidente disse que trabalhará na busca de novas lideranças para o Partido dos Trabalhadores (PT), mas não descartou a possibilidade de voltar a concorrer à presidência em 2018, mas, segundo ele, "somente para evitar a destruição das políticas de inclusão social".

Lula voltou a denunciar o processo que levou ao afastamento de Dilma do poder para enfrentar o processo de impeachment.

"Temer é apenas interino, Dilma esta sendo suspensa por um capricho político, isso deve ficar muito claro", disse o ex-governante. 

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