Brasil

EXCLUSIVO: Justiça recomenda uso de UTIs privadas contra covid-19

Recomendação do CNJ é para que seja criado um gabinete de crise e que a regulação dos leitos fique centralizada nos estados, e não nos municípios

Coronavírus: mortes no Brasil devem chegar a 10 mil hoje (Alexandre Schneider/Getty Images)

Coronavírus: mortes no Brasil devem chegar a 10 mil hoje (Alexandre Schneider/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 9 de maio de 2020 às 11h48.

Última atualização em 9 de maio de 2020 às 13h32.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recomenda, em documento obtido com exclusividade pela EXAME, que Unidades de Tratamento Intensivos (UTIs) privadas sejam usadas contra a covid-19 para desafogar os sistemas públicos de saúde, hoje à beira do colapso.

Com o avanço da pandemia do novo coronavírus, que bateu recordes e deixou 751 mortos no país em 24 horas, estados com a situação mais crítica da doença enfrentam desafios para garantir atendimento no SUS. No Rio de Janeiro, por exemplo, a fila de espera para vagas em UTIs já supera mil pacientes, e até a rede privada está próxima do colapso. Outros estados como Ceará, Amazonas e Pernambuco estão com 99% de sua capacidade de atendimento em uso.

"O cenário levantado indica que em determinados Estados há escassez de leitos de UTI e de equipamentos em Saúde tanto no setor público quanto no setor privado e em outros Estados há escassez no setor público com ociosidade de leitos e equipamentos no setor privado", diz o documento.

A recomendação do CNJ é para que seja criado um gabinete específico de crise formado pelos órgãos de controle da Administração Pública, como os Ministérios Públicos e os Tribunais de Contas. A orientação é que a regulação dos leitos fique centralizada nos estados, e não individualmente nos municípios.

"Quando, e se, os recursos existentes estiverem esgotados, devem ser mobilizados recursos novos, tais como: estruturas hospitalares temporárias, abertura de novas estruturas dentro de hospitais existentes e novos hospitais. A preferência neste momento deve se dar pela requisição/contratação de leitos não SUS pela rapidez e pela economicidade dessa ação em relação à construção de hospitais de campanha, mantendo-se, é claro, a utilização das estruturas já criadas", diz o conselho.

A discussão sobre a “fila única” das UTIs (em que a fila de espera para as unidades públicas e privadas seja a mesma) ganhou força nesta semana, inclusive entre os setores privados. A expectativa era que o CNJ resistisse em deliberar sobre esse tema, uma vez que não havia unanimidade entre os conselheiros sobre a competência do órgão de justiça, informou um dos conselheiros à reportagem. O modelo  proposto pelo CNJ se assemelha à fila única dos transplantes, mas que tem aplicação limitada enquanto durar a pandemia.

"A gravidade da situação e a relevância das questões enfrentadas justificam uma orientação por parte do Conselho Nacional de Justiça no sentido de se sugerir um modelo de gestão voltada para o diálogo nas esferas pública e privada, buscando-se promover o bem maior que é a proteção à vida", afirma o documento.

Antes mesmo da recomendação do CNJ estados se mobilizavam para garantir uma parceria com o setor privado. Em São Paulo, por exemplo, o prefeito Bruno Covas, afirmou na última semana que os leitos de hospitais privados poderiam ser requisitados, mesmo sem um acordo com a rede privada de saúde. Com a determinação, segundo um levantamento feito pela Secretaria de Saúde da prefeitura de São Paulo, cerca de 800 novos leitos poderão ser disponibilizados.

O documento do CNJ sinaliza, ainda, que as estratégias de quarentena e lockdown adotadas por alguns estados como forma de reduzir o contágio da doença "tendem a reduzir a vulnerabilidade do sistema e ampliar o tempo para preparação da contingência".

O Hospital Sírio-Libanês se coloca à disposição para ajudar e entende que é seu papel auxiliar o governo no enfrentamento da pandemia da covid-19. “Temos ampla experiência em assistência médico-hospitalar na saúde pública, pois atendemos mais leitos públicos do que privados. O Sírio-Libanês sempre trabalhou com a missão de tornar a sociedade mais justa e fraterna, e entende que esse é o momento de sermos todos socialmente responsáveis”, diz Dr. Paulo Chapchap, diretor geral da Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês, que contribuiu para a elaboração do parecer.

Leia na íntegra a recomendação do CNJ sobre os leitos de UTI

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusEXAME-no-InstagramHospitaisHospitais públicosSUS

Mais de Brasil

Governo Lula condena ataques dos EUA a instalações nucleares do Irã

Brasileira desaparecida em vulcão foi deixada para trás por guia, diz imprensa da Indonésia

Rio Grande do Sul tem 126 municípios afetados pelas chuvas, mas número de pessoas desalojadas cai

Maioria da população apoia a reeleição de presidentes, governadores e prefeitos, diz pesquisa