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Fraude do INSS e falta de 'resultados concretos' mantêm popularidade de Lula no pior patamar

Divulgadas nesta semana, pesquisas Genial/Quaest Gerp mostram alta desaprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Popularidade de Lula: mesmo com anúncios de novos programas, governo patina nas pesquisas (AFP)

Popularidade de Lula: mesmo com anúncios de novos programas, governo patina nas pesquisas (AFP)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 5 de junho de 2025 às 06h50.

Última atualização em 5 de junho de 2025 às 07h04.

O impacto da fraude do INSS e a demora da transformação das propostas em ações concretas no cotidiano, fatores que podem dificultar os planos de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026, são as principais avaliações de analistas consultados pela EXAME sobre a popularidade do presidente.

Nesta quarta-feira, 4, a pesquisa Genial/Quaest indicou que a desaprovação do governo alcançou 57%, seu pior patamar, enquanto o levantamento do Gerp, divulgado na terça-feira, apontou uma reprovação de 61%.

Para o cientista político Felipe Nunes, CEO da Quaest, a pesquisa mostra uma contradição. Ao mesmo tempo que a percepção negativa dos brasileiros sobre a economia caiu, a deterioração da avaliação de Lula nos principais grupos de apoio do presidente persiste.

Nunes atribui essa discrepância a um “desequilíbrio informacional”, com os entrevistados relatando que o volume de notícias negativas sobre o governo foi mais que o dobro das notícias positivas no período.

"Entre as notícias negativas mais lembradas espontaneamente está o caso do INSS, que reaproximou a corrupção do governo. Esses dois temas - INSS e corrupção - lideram as menções entre os que afirmaram ter visto mais notícias negativas sobre o governo", escreveu em análise publicada no X. 

No fim de abril, a Polícia Federal deflagrou uma operação que revelou um esquema de desvios de descontos associativos não autorizados por segurados do INSS. O governo corre para operacionalizar a devolução de valores de beneficiários afetados. Um sistema para questionamento dos descontos foi disponibilizado no dia 14 de abril. O planejamento da gestão petista é anunciar um cronograma de devoluções até o fim deste mês.

O CEO da Quaest também ressaltou que o governo anunciou uma série de propostas aprovadas pela sociedade, como linha de crédito para reforma de casas, benefícios para motoristas de aplicativos, o novo vale-gás e o desconto na conta de luz para beneficiários do Bolsa Família. No entanto, o desconhecimento sobre essas iniciativas ainda é elevado: cerca de 60% da população não ouviu falar delas.

O resultado disso, segundo Nunes, é um aumento da percepção de que o terceiro mandato de Lula é pior que os anteriores e até mesmo inferior ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"O escândalo do INSS e as expectativas frustradas sobre o desempenho do governo, começam a afetar não só o governo, mas a imagem do presidente: 48% acreditam que Lula não é bem-intencionado e 70% acreditam que ele não cumpre suas promessas de campanha", afirmou. 

“O eleitor está mais difícil de ser convencido, e o governo ainda não conseguiu atender às expectativas criadas durante a eleição. O governo está perdendo tempo”, disse Nunes.

Falta de agenda e afastamento do centro impactam governo

Para Fabio Zambeli, vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos e colunista da EXAME, desde o final de 2023, é possível observar um ponto de inflexão nas avaliações do governo, com uma cristalização da desaprovação.

"Há, portanto, uma cristalização do juízo crítico da população, ainda que se mantenha um piso de aprovação em torno dos 40%, o que não é desprezível no atual ambiente de elevada rejeição aos governos e lideranças políticas", disse.

Zambeli avalia que o descompasso entre os anúncios e as medidas do governo e a popularidade presidencial está relacionado à “lentidão com que esses estímulos se convertem em alívio real no cotidiano". Ou seja, a demora para que as propostas se tornem medidas concretas.

Além disso, Zambeli destaca a falta de uma agenda real, compreensível e conectada com os dilemas da sociedade.

"A erosão na imagem presidencial não decorre da falta de narrativa, mas da ausência de uma agenda real, compreensível e conectada com os dilemas da sociedade. Sem reconhecer essa desconexão, o governo seguirá tentando corrigir os sintomas, sem tratar as causas", afirmou.

O analista ainda aponta o que chama de “erro estratégico de natureza política”, que é o afastamento da centro-esquerda moderada, fundamental para a vitória de Lula em 2022. A reforma ministerial realizada até o momento realocou apenas nomes ligados à esquerda, sem aglutinar figuras de partidos do centro.

“Ao insistir em acenos ideológicos mais à esquerda, como vem ocorrendo nas mudanças ministeriais, o governo Lula reduz sua capacidade de reconstruir uma maioria social ampla — algo que hoje parece distante, diante da força da rejeição cristalizada à sua figura, forjada ao longo da última década”, disse.

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