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Governo brasileiro avalia compras de alimentos excedentes durante tarifaço de Trump

Empresários devem enviar informações sobre produtos excedentes para que o governo analise a viabilidade de compras pública

Agência o Globo
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Publicado em 5 de agosto de 2025 às 09h16.

Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 09h46.

O governo pediu aos setores alimentícios afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos uma lista da quantidade de produtos excedentes e os respectivos preços necessários para viabilizar compras governamentais ou para subsidiar a venda no mercado interno. Após receber as informações, a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva vai analisar se é possível prosseguir com a medida.

O pedido foi feito durante reunião com empresários no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) na tarde desta segunda-feira, conduzida pelo vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, que vem liderando as negociações sobre o tarifaço.

Também participaram os ministros da Casa Civil, Rui Costa, da Agricultura, Carlos Fávaro, do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, da Pesca, André de Paula, além de representantes da Fazenda, da Apex e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Pelo setor privado, estiveram presentes representantes do setor de carnes, de frutas, de mel, de pescados e de café.

Plano de contingência e possíveis compras governamentais

Segundo Paulo Teixeira, um plano de contingência só deve ser anunciado após o dia 6, quando a sobretaxa de 50% entra em vigor, se o governo não tiver sucesso na negociação com Estados Unidos para baixar as tarifas e/ou excluir novos produtos da taxação.

No decreto que oficializou o tarifaço, o presidente dos EUA, Donald Trump, excluiu quase 700 produtos, como suco de laranja, petróleo e aviões.

Além de uma linha de crédito com juros subsidiados, Teixeira disse que o governo estuda comprar os produtos perecíveis que deixarão de ser exportados para o mercado norte-americano, como mel, frutas e pescados. Ou mesmo subsidiar a venda no mercado interno, para evitar perdas e cobrir ao menos os custos de produção dos setores.

"Como podemos absorver esses produtos no Brasil? Com compras públicas e subsídios para venda no mercado interno. Pedimos para o setor privado quais são as quantidades e os preços de produtos para o governo avaliar", afirmou.

Ceticismo e necessidades urgentes do setor privado

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado, Eduardo Lobo, afirmou ao GLOBO que vai enviar a lista de produtos excedentes amanhã ao governo, mas é cético de que a medida prosperará. Lobo adverte que os empresários precisam de uma solução para os próximos dias e que compras governamentais são demoradas. Além disso, questiona a capacidade de escoamento da Conab de peixes frescos e congelados.

"Somos céticos de que isso venha a dar certo. A Conab compra produtos que rem capacidade de escoar. Nós estamos falando de peixes frescos e congelados. A Conab vai ter que se virar", disse.

"Vamos entregar a lista amanhã. Na semana que vem, vou ligar para o ministro Paulo para saber onde podemos entregar e como será feito o pagamento. Espero que dê certo", completou.

Quanto ao subsídio para venda no mercado interno, Lobo disse que o assunto não foi tratado na reunião, mas que não é uma solução, porque o mercado brasileiro já tem hábitos de consumo consolidados e muitas das espécies de peixes e frutos do mar não seriam vendidas por aqui. Os principais tipos vendidos aos EUA são atum, pargo e lagosta.

Lobo saiu da reunião com o governo decepcionado com a falta de medidas concretas. Segundo o presidente da Abipesca, a principal demanda do setor é a exclusão do tarifaço, mas em relação a ações de contingência, diz que a prioridade é a criação de uma linha de crédito de juros baixos para que as empresas consigam pagar funcionários, insumos e dívidas bancárias. Outra medida bem-vista é a inclusão no programa Reintegra Exportação, que devolve ao exportador 3% de tudo que é embarcado para outros países.

"O setor precisa de soluções para daqui a uma semana, não para daqui a 30 dias. Não adianta socorro depois que o setor tiver desmoronado", completou Lobo.

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