'Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda', diz o guia (Reprodução/ Instagram)
Agência de notícias
Publicado em 23 de junho de 2025 às 10h53.
Última atualização em 23 de junho de 2025 às 11h32.
O guia que acompanhava Juliana Marins pela trilha no Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, negou ter abandonado a publicitária antes de ela sofrer um acidente e precisar de resgate.
Em entrevista ao jornal O Globo, Ali Musthofa confirmou os relatos da imprensa local de que aconselhou a niteroiense a descansar enquanto seguia andando, mas afirmou que o combinado era apenas esperá-la um pouco mais à frente da caminhada. Ele disse ter prestado depoimento à polícia neste domingo, quando desceu da montanha.
Segundo Ali, que atua como guia na região desde novembro de 2023 e costuma subir o Rinjani duas vezes por semana, ele ficou apenas "3 minutos" à frente de Juliana e voltou para procurá-la ao estranhar a demora da brasileira para chegar ao ponto de encontro.
"Na verdade, eu não a deixei, mas esperei 3 minutos na frente dela. Depois de uns 15 ou 30 minutos, a Juliana não apareceu. Procurei por ela no último local de descanso, mas não a encontrei. Eu disse que a esperaria à frente. Eu disse para ela descansar. Percebi [que ela havia caído] quando vi a luz de uma lanterna em um barranco a uns 150 metros de profundidade e ouvi a voz da Juliana pedindo socorro. Eu disse que iria ajudá-la", afirmou Musthofa.
"Tentei desesperadamente dizer a Juliana para esperar por ajuda".
Musthofa disse ter ligado para a empresa na qual trabalha para avisar sobre o acidente e pedir que acionassem o resgate.
"Liguei para a organização onde trabalho, pois não era possível ajudar a uma profundidade de cerca de 150 metros sem equipamentos de segurança. Eles deram informações sobre a queda de Julian para a equipe de resgate e, após a equipe ter conhecimento das informações, correu para ajudar e preparar o equipamento necessário para o resgate", destacou o guia.
A família de Juliana apontou o que chamou de negligência das autoridades e reclamou do novo recuo das buscas nesta segunda-feira. Os parentes da publicitária cobram urgência nas atividades de salvamento, já que a vítima "segue sem água, comida e agasalhos por três dias". Não se sabe o estado de saúde dela.
"Um dia INTEIRO e eles avançaram apenas 250 m abaixo, faltavam 350 m para chegar na Juliana e eles recuaram MAIS UMA VEZ! MAIS UM DIA! NÓS PRECISAMOS DE AJUDA, NÓS PRECISAMOS QUE O RESGATE CHEGUE ATÉ JULIANA COM URGÊNCIA", afirma nota publicada no Instagram. "O Parque segue com suas atividades normalmente, turistas continuam fazendo a trilha enquanto Juliana está PRECISANDO DE SOCORRO! Juliana vai passar mais uma noite sem resgate por negligência!".
Juliana, de 26 anos, foi vista pela última vez por volta de 17h10 do sábado (horário local) em imagens captadas por um drone de outros turistas. Ela aparece sentada na encosta, após a queda. Novas imagens compartilhadas numa conta no Instagram criada para divulgar informações sobre o caso mostram a publicitária durante o passeio — Juliana caminha pela vegetação, posa para fotos em meio às montanhas e até brinca com uma colega sobre a névoa, que impediu a vista.
"A vista é incrível. Valeu a pena", ironiza a colega. "Sim, nós fizemos isso pela vista. Então, estou feliz", brinca a niteroiense.
A trilha do Monte Rinjani é considerada uma das mais difíceis para turistas na Indonésia. O vulcão se eleva a 3.726 metros do nível do mar, e o caminho tem quilômetros de subidas. Pacotes do passeio mostram opções de trilhas de dois, três e até quatro dias pela região. A de Juliana deveria durar de 20 a 22 de junho, por três dias e duas noites.
Equipes do Agência de Busca e Salvamento da Indonésia iniciaram o terceiro dia de buscas. A família de Juliana disse que a iniciativa de resgate foi interrompida pelas condições climáticas e reclamou da demora das autoridades.
A família destaca que Juliana segue "sem água, comida e agasalhos por três dias!!!!!". Não se sabe o estado de saúde atual da publicitária. Segundo o governo federal, dois funcionários da embaixada se deslocaram para o local com o objetivo de acompanhar pessoalmente o processo.
Um vídeo obtido pela prefeitura de Niterói e enviado para a família mostrou a piora das condições climáticas no local neste domingo. Na imagem, era possível ver a montanha coberta por uma névoa densa. Algumas pessoas — que parecem ser montanhistas — aparecem na filmagem, mas elas não estão segurando equipamentos que poderiam ser usados no resgate da jovem.
"A visibilidade para a busca é muito limitada, e o uso de drones também não pode ser maximizado", diz o narrador, em tradução livre.
Mariana Marins contou que, segundo o que foi relatado para ela, o local onde sua irmã está é "muito inóspito" e com terreno arenoso. Ela afirmou ainda que o governo da Indonésia mente e que a Embaixada do Brasil não está verificando o que está acontecendo. A imprensa do país asiático afirma que Juliana foi deixada para trás por seu guia após se queixar de cansaço. O homem, identificado como Ali Mustafa, teria continuado a trilha com cinco pessoas até o pico da montanha e, ao retornar, não teria encontrado mais a brasileira.
A queda da publicitária, inicialmente, se estendeu por mais de 300 metros montanha abaixo, em um local de difícil acesso, sem possibilidades, segundo a família, de resgate via helicóptero.
Após neblina e garoa, por conta do terreno úmido, a jovem acabou descendo ainda mais em direção ao precipício. Essas condições adversas de tempo também contribuíram para que a visibilidade de onde exatamente Juliana está fosse dificultada.
O acidente aconteceu por volta das 19h, horário de Brasília, da última sexta-feira. Segundo Mariana Marins, informações passadas para ela por pessoas próximas ao local da queda apontam que a última vez que a irmã foi vista na região foi por volta de 17h10, também horário de Brasília, de sábado.
Juliana, após o acidente, não fez contato com a família diretamente, por falta de sinal. As informações chegaram até o Brasil por meio de um grupo de turistas que também fazia a trilha e conseguiram acionar pessoas próximas à vítima por meio de uma rede social, mandando mensagens para inúmeras pessoas após encontrarem o perfil dela.
A publicitária faz um mochilão pela região desde fevereiro deste ano e já passou por países como Filipinas, Tailândia e Vietnã.