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Entidades manifestam preocupação com efeitos de tarifaço de Trump: 'impactos severos'

De indústria de calçados a de plástico, setores preveem impactos sobre cadeia produtiva e defendem diálogo

Entidades como CNI, Amcham e Abiplast manifestaram preocupação com a tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros, alertando para impactos severos na indústria, no comércio bilateral e no ambiente de investimentos (Win McNamee/AFP)

Entidades como CNI, Amcham e Abiplast manifestaram preocupação com a tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros, alertando para impactos severos na indústria, no comércio bilateral e no ambiente de investimentos (Win McNamee/AFP)

Publicado em 9 de julho de 2025 às 21h10.

Última atualização em 9 de julho de 2025 às 21h39.

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Associações e entidades setoriais manifestaram preocupação e já apontam impactos negativos em diferentes segmentos do setor produtivo com o anúncio, nesta quarta-feira, 9, do presidente americano Donald Trump de que produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos serão taxados em 50%.

Algumas afirmam que a medida inviabiliza exportações e advertem sobre os riscos para a economia brasileira. O economista-chefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório divulgado nesta quarta-feira à noite, diz que o PIB brasileiro pode ser reduzido entre 0,3 e 0,4 ponto percentual com as tarifas aplicadas por Trump.

Ramos calcula que a tarifa efetiva de importação para os produtos brasileiros fique em 35,5 pontos percentuais, se não houver “grandes retaliações”:

“Não está claro se, como e quando o Brasil retaliaria. A inclinação política pode ser nesse sentido, mas prevemos que os exportadores locais irão pressionar o governo para reduzir a tensão.”

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) diz que a prioridade do governo brasileiro após o tarifaço deve ser “intensificar a negociação com o governo de Donald Trump para preservar a relação comercial histórica e complementar entre os países”.

“Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão”, diz Ricardo Alban, presidente da CNI, em nota.

A Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) disse em nota que tem "profunda preocupação" com o anúncio, que pode "causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países".

A entidade, que promove laços empresariais entre os dois países, pediu em nota que os governos brasileiro e americano retomem "com urgência um diálogo construtivo" na busca por uma solução negociada "fundamentada na racionalidade, previsibilidade e estabilidade, que preserve os vínculos econômicos e promova uma prosperidade compartilhada".

"A relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos sempre se pautou pelo respeito, pela confiança mútua e pelo compromisso com o crescimento conjunto. O comércio de bens e serviços entre as duas nações é fortemente complementar e tem gerado benefícios concretos para ambos os lados, sendo superavitário para os Estados Unidos ao longo dos últimos 15 anos — com saldo de US$ 29,2 bilhões em 2024, segundo dados oficiais norte-americanos", diz o texto.

'Isolamento comercial'

A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) destacou a Agência O Globo que a política tarifária atinge diretamente as empresas brasileiras. Presidente do conselho da entidade, José Ricardo Roriz traçou que uma tarifa de 50% torna "praticamente inviável" a operação, afetando faturamento e empregos.

Roriz ainda observa que os impactos não se restringem apenas aos produtos finais exportados, mas a toda a cadeia produtiva, com pressão em outros setores que dependem de embalagens, como alimentos, componentes automotivos e fertilizantes.

“Estamos passando de um dos países com menores tarifas de importação para uma situação de isolamento comercial. Isso desestimula o investimento produtivo e compromete a credibilidade do Brasil como parceiro confiável. Empresas internacionais que atuam no país para exportar a partir daqui serão diretamente penalizadas. Estamos vendo crescer um clima de incerteza justamente quando deveríamos estar atraindo investimento estrangeiro”, afirmou Roriz, em nota.

Ele também defendeu que é preciso cautela na negociação: "O Brasil não pode se colocar em disputas geopolíticas que não nos dizem respeito. Precisamos focar em abrir mercados, fortalecer nossas cadeias industriais e garantir segurança jurídica e diplomática. Neutralidade e pragmatismo devem orientar nossa atuação internacional”, ponderou.

Carnes

Outro setor que devera ser bastante afetado pela tarifa de 50% serão as carnes. Conforme reportou a Agência Brasil, para a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a medida de Trump tornará o custo da carne brasileira tão alto que inviabilizará a venda do produto para os Estados Unidos.

“A Abiec reforça a importância de que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”, destacou.

A associação também defendeu a retomada das negociações e informou querer contribuir com o diálogo. “Estamos dispostos ao diálogo, de modo que medidas dessa natureza não gerem impactos para os setores produtivos brasileiros nem para os consumidores americanos, que recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis”, acrescentou a entidade.

Agropecuária

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também manifestou preocupação sobre a decisão de Trump. Em nota, a frente destacou que a medida representa um alerta às relações comerciais e políticas entre os dois países e afeta o agronegócio brasileiro.

“A nova alíquota produz reflexos diretos e atinge o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”, declarou a frente, que representa a bancada ruralista no Congresso.

“Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações. A FPA reitera a importância de fortalecer as tratativas bilaterais, sem isolar o Brasil perante as negociações. A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas”, acrescentou o comunicado da FPA.

Comércio exterior

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) afirmou ter recebido com “surpresa e indignação” o anúncio do governo dos Estados Unidos de impor tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Para o presidente-executivo da entidade, José Augusto de Castro, não se trata de uma medida econômica, mas política com impacto econômico de grande lastro.

“É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido na história do comércio internacional, só aplicada aos piores inimigos, o que nunca foi o caso do Brasil. Além das dificuldades de comércio com os Estados Unidos, o anúncio da Casa Branca pode criar uma imagem negativa do Brasil e gerar medo em importadores de outros países de fechar negócios com as nossas empresas, afinal, quem vai querer se indispor com o presidente Trump?”, questiona Castro.

A AEB avalia que o cenário é desfavorável não apenas para exportadores, mas para toda a economia brasileira. A entidade afirma, no entanto, acreditar que “o bom senso prevalecerá” e que a medida será revertida.

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