Brasil

Ineficiência no gasto público custa US$ 68 bilhões por ano ao Brasil

América Latina e Caribe investem 5,4% do orçamento em segurança pública, quase o dobro da OCDE, e são a região mais violenta do mundo, diz BID

Roubo de carga, no Rio de Janeiro: custo da criminalidade para o bem-estar da população na América Latina e no Caribe é estimado em 3,5% do PIB da região (José Lucena/Estadão Conteúdo)

Roubo de carga, no Rio de Janeiro: custo da criminalidade para o bem-estar da população na América Latina e no Caribe é estimado em 3,5% do PIB da região (José Lucena/Estadão Conteúdo)

NF

Natália Flach

Publicado em 7 de maio de 2019 às 12h16.

Última atualização em 11 de julho de 2019 às 17h19.

São Paulo - A ineficiência no gasto público custa por ano US$ 68 bilhões aos cofres brasileiros, o equivalente a 3,9% do Produto Interno Bruto do país, de acordo com estudo realizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que comparou a alocação dos recursos e a execução de programas nos países da América Latina e do Caribe. Para melhorar a gestão do investimento, o levantamento sugere priorizar projetos com maior impacto social, incluindo a revisão da estrutura de carreiras e salários, o fortalecimento de sistemas de compras públicas, especialmente o ComprasNet, e a criação de mecanismos que assegurem a transferência de dinheiro para os que realmente necessitam.

Já no que se refere à desigualdade social, os impostos diretos e os programas de transferências de renda têm efeito diminuto. Os recursos conseguem reduzir a lacuna social em cerca de 8,3%, ante os 38% da amostra com países desenvolvidos.

Não é apenas no Brasil que isso acontece. Apesar de os países da América Latina e do Caribe gastar mais em segurança pública do que países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a região continua sendo a mais violenta do mundo com 33% do total global de homicídios, apesar de ter apenas 9% da população mundial. A taxa de homicídios corresponde a quatro vezes a média mundial. Não à toa, o custo da criminalidade para o bem-estar da população na América Latina e no Caribe é estimado em 3,5% do PIB da região.

Desse modo, a região empreende um esforço fiscal significativo no setor de segurança, que recebe 5,4% do seu orçamento total, quase o dobro dos 3,3% da OCDE. Em termos do PIB, esse gasto representa 1,6% para a América Latina e o Caribe e 1,5% para a OCDE. No gasto per capita, no entanto, com base na paridade do poder de compra (PPC), a mediana da OCDE de US$ 532 é o dobro da mediana da América Latina e do Caribe, de US$ 218.

Os países da América Latina e do Caribe investem a maior parte do seu orçamento com segurança na polícia (63,4%), seguida pela justiça criminal (22,3%) e pelo sistema prisional (8,7%). Em dólares com base na PPC, isso representa US$ 74 bilhões com polícia, US$ 26 bilhões com justiça, US$ 10 bilhões com o sistema prisional e US$ 6,5 bilhões com outros elementos ligados à segurança, como pesquisa e desenvolvimento. Em comparação com os países da OCDE, a região investe proporcionalmente o mesmo em polícia, mais com a justiça, e menos com o sistema prisional e outras áreas.

Para Alejandro Izquierdo, assessor sênior do departamento de pesquisa do BID, a solução para o problema é focar em prevenção em vez de reação e punição (estima-se que investimentos em educação reduzam em 20% a criminalidade); em direcionamento em vez de dispersão (cerca de 50% da criminalidade estão concentrados em 3% a 7,5% das ruas nas cidades da América Latina e do Caribe e cerca de 10% da população responde por 66% dos crimes cometidos); e em evidências científicas de impacto, em vez de na intuição. "Lamentavelmente, poucos programas baseados em evidências foram adotados na América Latina e no Caribe", escreve. De 283 programas em seis países, apenas 22 (8%) incluem em seu desenho técnicas de conteúdo ou de intervenção substanciadas por evidências empíricas de eficácia ou custo efetividade (um deles está no Ceará, o único no Brasil).

 

Acompanhe tudo sobre:Banco Interamericano de Desenvolvimentocrime-no-brasilGastosPrevidência Social

Mais de Brasil

Não é só Bolsonaro: 13,5% das prisões do Brasil são domiciliares com uso de tornozeleira eletrônica

Quais são as 10 cidades mais violentas do Brasil? Veja ranking

Quais são as 10 estados mais violentos do Brasil? Veja ranking

'Se ele estiver trucando, vai tomar um seis', diz Lula sobre tarifa de Trump