A Aegea atende 33 milhões de pessoas e a expectativa é de que esse número cresça. Para viabilizar o plano, a companhia precisará de capital — e não apenas por meio do IPO (Aegea/Divulgação)
Publicado em 8 de julho de 2025 às 07h00.
Última atualização em 8 de julho de 2025 às 07h32.
Líder no setor de saneamento básico no Brasil, a Aegea Saneamento não pretende abrir seu capital antes de 2027. A estimativa foi revelada pelo CEO da companhia, Radamés Casseb, em entrevista ao EXAME INFRA, afastando rumores que indicavam uma possível oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) já entre o fim de 2025 e o início de 2026.
"É muito mais quando do que se. Estamos escutando os especialistas e eles nos indicam que a janela mais provável é em torno de 2027", afirmou Casseb no 14º episódio do videocast realizado pela EXAME em parceria com a empresa Suporte.
Segundo o executivo, a abertura de capital está no horizonte estratégico da companhia. Mas, enquanto o processo não é formalizado, o foco neste momento está na consolidação de uma estrutura interna mais transparente e eficiente para dialogar com o mercado.
A Aegea implementa práticas típicas de empresas de capital aberto, como maior abertura de informações, refinamento dos balanços e aproximação com investidores.
"Estamos nos adaptando para esse mercado em que a transparência e a comunicação com os investidores precisa ser mais fluída. A companhia vem nesse processo. Mas estamos aqui seguindo o conselho dos especialistas, esperar a janela abrir, com muita calma e disciplina", disse o CEO.
A companhia tem como sócios atuais o grupo Equipav (53%), o fundo soberano de Cingapura GIC (34%) e a holding Itaúsa (13%).
Em março deste ano, o presidente da Itaúsa, Alfredo Setubal, afirmou publicamente que a holding considera positiva a ideia de participar de uma futura rodada de capital da Aegea, o que reforça a expectativa de uma operação relevante.
Estimativas de mercado apontam que o IPO da Aegea pode movimentar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões.
Enquanto prepara terreno para o mercado de capitais, a Aegea mantém um plano ambicioso de expansão. Até 2033, a companhia pretende investir cerca de R$ 45 bilhões, sendo aproximadamente 80% destinados à coleta e tratamento de esgoto, um dos maiores déficits da infraestrutura urbana brasileira.
Hoje, a empresa atua em 766 cidades, distribuídas por 15 estados, atendendo 33 milhões de pessoas. A expectativa é de que esse número cresça nos próximos anos.
Para viabilizar esse plano, a companhia precisará de capital — e não apenas por meio do IPO. A estratégia é estruturar arranjos financeiros com sócios, fundos e parceiros a cada projeto relevante, como já ocorreu em concessões anteriores.
"Foi assim que fizemos no Rio de Janeiro, com uma outorga de R$ 15 bilhões, e também na Corsan, no Rio Grande do Sul. Sempre que necessário, vamos compor a estrutura de capital para projetos transformacionais", afirmou Casseb.
A manutenção de uma estrutura financeira robusta é uma das principais premissas da Aegea. A companhia tem buscado manter sua alavancagem em níveis sustentáveis, mesmo diante de grandes aportes.
Segundo o CEO, a alavancagem estrutural da empresa chegou a 6 vezes o Ebitda ao fim de 2021, mas foi reduzida para 3,7 vezes em 2024.
"Nosso compromisso é não colocar em risco a saúde financeira da companhia, mesmo com novos investimentos", disse.
Se, de um lado, há capital e vontade de investir, de outro, há obstáculos relevantes. Para Casseb, os gargalos do setor vão além do financiamento.
A escassez de mão de obra qualificada, o déficit de fornecedores locais e a necessidade de expandir a capacidade de produção de insumos são desafios crescentes diante do aumento da demanda por obras de infraestrutura no Brasil em meio ao chamado "ano dos leilões".
Só em 2025, as concessões do setor de saneamento poderão somar mais de R$ 27 bilhões em investimentos.
"Estamos disputando capacidade produtiva com projetos de rodovias, de linhas de transmissão e de outras áreas da infraestrutura. O setor está muito aquecido, mas, no caso do saneamento, as obras são fragmentadas, pulverizadas nos bairros e municípios. Isso exige um modelo diferente", disse o executivo.
Para enfrentar esse cenário, a Aegea vem adotando soluções próprias. A companhia criou uma escola de formação de empresários no Rio Grande do Sul, que treina pequenos empreendedores locais para trabalhar com escavação, assentamento de rede e segurança nas obras.
A ideia é replicar a iniciativa em outros estados, como Pará e Piauí, promovendo o desenvolvimento regional e a geração de renda.
Além disso, a empresa está diversificando a sua cadeia de suprimentos, buscando previsibilidade com grandes fornecedores nacionais, como Tigre, Amanco e Corplástica, e testando a produção de tubos e equipamentos no exterior, em países como China, Alemanha e México.
A empresa também desenvolve estações de tratamento compactas em contêineres, que podem ser implantadas rapidamente em municípios menores ou em situações emergenciais.
Apesar dos desafios, a Aegea mantém forte interesse em novos projetos de saneamento. A empresa estuda todos os leilões previstos para este e os próximos anos, mesmo que nem todos resultem em propostas.
"Nosso critério é claro: só entramos onde podemos fazer a diferença, onde nosso conhecimento e estrutura possam agregar valor para o projeto, os financiadores e a comunidade local", afirmou Casseb.
O executivo também reforça a importância de manter a responsabilidade financeira nas decisões de investimento.
"Temos que garantir que qualquer novo projeto respeite os limites da nossa alavancagem e os compromissos dos ativos já existentes", disse.
Ainda assim, uma das metas da companhia de saneamento é vencer neste ano o leilão do saneamento de Pernambuco. Previsto para o segundo semestre, o certame prevê investimentos na ordem de R$ 18,9 bilhões para atender 184 municípios, incluindo a região metropolitana de Recife.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos
Ep. 4 - '26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR
Ep. 5 - Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento
EP. 6 - Privatização da Sabesp triplica velocidade da empresa, que contrata R$ 15 bi em 90 dias, diz diretor
EP. 7 - Investimento no Porto de Santos chega a R$ 22 bi e promete modernização e integração com a cidade
EP. 8 - Rumo investe R$ 6,5 bi para conectar terminal de grãos ao 'coração' da soja no MT
Ep. 9 - Concessionárias investirão R$ 40 bi de rodovias a hidrovias até 2029, diz CEO da MoveInfra
Ep. 10 - Fundos de investimentos se consolidaram no mercado de leilões, diz CEO de concessões de R$ 27 bi
Ep. 11 - 'Brasil tem pressa' e licenciamento ambiental deve ser votado antes do recesso, diz Arnaldo Jardim
Ep. 12 - Governo de São Paulo prepara leilão de R$ 20 bilhões para saneamento em cidades fora da Sabesp
Ep. 13 - Com R$ 30 bi em Capex até 2030, EcoRodovias prioriza seletividade, diz diretor-geral