Sergio Santillán foi o primeiro presidente de uma concessionária 100% controlada por um fundo de investimento no Brasil (Exame Infra/Youtube/Reprodução)
Publicado em 13 de maio de 2025 às 09h10.
O mercado de infraestrutura no Brasil vive um novo ciclo, afirma Sergio Santillán, CEO das concessionárias Eixo SP e Via Araucária. De acordo com o especialista, fundos de investimento se consolidaram em leilões de concessões com um modelo de gestão mais profissionalizado, que dão musculatura para tirar do papel projetos bilionários em logística e mobilidade. Um exemplo desse movimento é o grupo Pátria Investimentos, controlador do Eixo SP e Via Araucária, que somam R$ 27 bilhões em capital de investimento.
"Cada investidor tem sua cultura organizacional, mas os fundos têm se destacado por sua prudência e responsabilidade na tomada de decisões", afirma Sergio Santillán, CEO das duas Sociedades de Propósito Específico (SPEs) no 10º episódio do videocast EXAME INFRA.
A análise de consolidação desses novos players no mercado de infraestrutura tem como base o leilão da concessão rodoviária Rota da Celulose, no Mato Grosso do Sul, realizado no último dia 8, que contou com a participação de quatro consórcios, todos com players de investimento. O grupo formado pela K-Infra e pela Galápagos Participações venceu o certame em disputa com consórcios com bancos de investimentos com a XP e o BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).
Diferentemente do modelo tradicional, com participações de empreiteiras e construtoras, a entrada de fundos na operação de concessões traz um novo patamar de exigência, mas também mais previsibilidade e estabilidade para os executivos.
"Já trabalhei com construtoras, empresas familiares e internacionais. Cada uma tem seu estilo. Mas o modelo dos fundos tem proporcionado uma experiência profissional muito sólida e transparente", diz o executivo.
No caso do Pátria, segundo ele, o grupo adota um planejamento rigoroso, que busca eliminar imprevistos e garantir a viabilidade de longo prazo das concessões. "Não entramos em um projeto só porque o mercado está aquecido. Cada decisão passa por comitês, análises técnicas e um modelo de governança muito bem estruturado".
Com trajetória iniciada no programa de concessões rodoviárias do estado de São Paulo em 1998, Santillán já comandou outras operadoras do setor. Ele foi o primeiro presidente de uma concessionária 100% controlada por um fundo de investimento no Brasil.
Agora, à frente de duas das maiores concessões em andamento, observa que há espaço para o avanço de novos players, inclusive do mercado secundário, desde que os projetos tenham viabilidade técnica e institucional.
"A presença de bons estudos de viabilidade, como o EVTEA, e de planos de negócios bem estruturados é essencial para garantir o apetite contínuo dos investidores", diz o CEO da Eixo SP e Via Araucária.
Apesar dos avanços regulatórios e da sofisticação dos contratos ao longo das últimas décadas, Santillán avalia que a comunicação sobre os benefícios das concessões ainda é um ponto frágil. "Infelizmente, as concessionárias ainda são chamadas de 'empresa do pedágio', e pouco se fala sobre os investimentos, as obras entregues e os impactos positivos para o desenvolvimento regional".
Segundo ele, é papel não só das empresas, mas também dos agentes públicos e políticos, contribuir para ampliar o entendimento da população sobre os ganhos gerados pelas parcerias com o setor privado.
A Eixo SP, considerada a maior concessão rodoviária do Brasil em extensão, administra 1.200 quilômetros no interior de São Paulo, cortando 62 municípios. Já a Via Araucária é responsável por 487 quilômetros de trechos federais e estaduais no Paraná, conectando importantes polos regionais e posicionando o estado como referência em inovação logística.
As duas concessões funcionam com planos de investimentos divididos em ciclos — com foco em obras de modernização, duplicações e melhorias operacionais nos primeiros sete anos.
A Eixo SP foi a leilão em 2020 com a previsão de investimento na ordem de R$ 14 bilhões em 30 anos para o trecho entre a cidade de Piracicaba, na região de Campinas, e o município de Panorama, no extremo Oeste do Estado, divisa com o MS.
Uma das obras mais complexas já entregues foi a duplicação de 19 quilômetros na região de Marília, área densamente urbanizada e com alto fluxo diário de veículos. Além disso, a concessionária está executando a ampliação da terceira faixa da rodovia Washington Luiz e planeja, até junho, entregar nove bases de apoio a caminhoneiros, com infraestrutura completa distribuída ao longo do trecho concedido.
"Cada base é de 20 mil metros quadrados de estacionamento, com segurança, iluminação, internet e wi-fi. Estamos falando 180 mil metros quadrados de estacionamento distribuídos nesse trecho que para a classe dos transportadores é fundamental", afirma Santillán.
Na região de Assis e Martinópolis há dois trechos de duplicação também, com obras nesse momento em Paraguaçu Paulista até Martinópolis.
No Paraná, a Via Araucária se prepara para iniciar na primeira semana de junho a construção do Contorno Norte de Curitiba, projeto desafiador do ponto de vista logístico, por envolver tráfego urbano e rodoviário intenso em uma região de topografia estreita. No total, cerca de 70 quilômetros serão duplicados até o terceiro ano da concessão, consolidando a fase inicial do ciclo de investimentos.
A empresa venceu o leilão em 2023 ao oferecer desconto de pedágio de 18,25% com uma tarifa de R$ 8,72 a cada 100 quilômetros, a ser cobrada de quem trafegar pelas sete pistas do lote 1, formada pelas BRs-277/373/376/476/PR e as PRs-418/423/427.
Segundo o Ministério dos Transportes, a concessão injetará R$ 13,1 bilhões no complexo de rodovias que integram o Lote 1, somados custos operacionais e investimentos.
O EXAME INFRA é um podcast da EXAME em parceria com a empresa Suporte, especializada em soluções para obras e projetos de infraestrutura. Com episódios quinzenais disponíveis no YouTube da EXAME, o programa se debruçará sobre os principais desafios do setor de infraestrutura no Brasil.
Ep. 1 - EXAME INFRA: SP planeja concessões de rodovias, CPTM e mais com R$ 30 bi em investimentos
Ep. 4 - '26 anos em 5': rodovias no Brasil terão R$ 150 bi em investimentos até 2030, diz presidente da ABCR
Ep. 5 - Com R$ 22 bi ao ano, Brasil ainda investe menos da metade para atingir meta de saneamento
EP. 6 - Privatização da Sabesp triplica velocidade da empresa, que contrata R$ 15 bi em 90 dias, diz diretor
EP. 7 - Investimento no Porto de Santos chega a R$ 22 bi e promete modernização e integração com a cidade
EP. 8 - Rumo investe R$ 6,5 bi para conectar terminal de grãos ao 'coração' da soja no MT
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