Agência de notícias
Publicado em 2 de outubro de 2025 às 16h34.
Última atualização em 2 de outubro de 2025 às 16h53.
Em meio à onda de operações para tentar lidar com os casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol, a Polícia de São Paulo prendeu, nesta quinta-feira, 2 de outubro, duas mulheres com 162 garrafas de uísque falsificadas no município de Dobrada, na região de Araraquara (SP).
Segundo o boletim de ocorrência, as suspeitas compraram os produtos na capital paulista e iriam revender as garrafas em estabelecimentos comerciais e eventos na cidade de Jaboticabal (SP), onde moram.
“As indiciadas, de 23 e 34 anos, foram encaminhadas à Cadeia Pública de São Carlos, permanecendo à disposição da Justiça. O caso foi registrado na delegacia de Matão como falsificação, corrupção ou adulteração de bebidas.”
Apesar da prisão, a polícia não apontou se as bebidas em questão teriam traços de metanol. Desde segunda-feira, 29, as forças de segurança realizaram uma série de buscas e apreensões na tentativa de encontrar o fornecedor das bebidas adulteradas.
A polícia também investiga dois irmãos suspeitos de adulterar bebidas alcoólicas no Campo Limpo, na zona sul da capital paulista. Após denúncia anônima, agentes foram a um endereço onde encontraram 1,8 mil lacres e rótulos de uísque de marcas nacionais e importadas. Um dos investigados, de 52 anos, já havia sido indiciado em 2022 pelo crime de falsificação de bebidas.
Até agora, foram apreendidas quase mil garrafas para investigação nesta semana. Outras 17,7 mil foram encontradas em uma fábrica clandestina em Americana. Um lote de 128 mil garrafas foi lacrado em Barueri, nesta quarta-feira, 1º de outubro, por falta de documentação.
Nesta quinta-feira, o número de casos investigados por suspeitas de intoxicação por metanol no estado subiu para 41, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde. Além da capital paulista e de São Bernardo do Campo, na região metropolitana, também estão sendo apurados casos em Santos e São Vicente, no litoral paulista, e em Ribeirão Preto, no interior. Um caso foi confirmado no município de Guarulhos. O total de casos confirmados também subiu para 11 pessoas.
Até agora, foram registradas seis mortes suspeitas de intoxicação por metanol. A maior parte das mortes ocorreu em São Bernardo do Campo, que confirmou quatro dos seis óbitos na cidade.
O metanol é um produto químico usado em produtos industriais e domésticos, como diluentes, anticongelantes, vernizes e até fluidos de fotocopiadora. Assim como o álcool que consumimos na cerveja, no vinho e nos destilados, o metanol é um líquido incolor, com cheiro semelhante ao do álcool encontrado normalmente nessas bebidas, mas muito mais barato de produzir. Isso faz com que ele seja utilizado em bebidas adulteradas.
Dificilmente será possível perceber a adulteração na hora do consumo, dado que seu gosto e efeito são semelhantes aos da bebida não adulterada. No entanto, seus efeitos prejudiciais aparecem apenas algumas horas depois, quando o organismo tenta eliminá-lo. A ingestão de pequenas quantidades pode ser extremamente prejudicial à saúde, e alguns shots do composto podem ser fatais.
O álcool é metabolizado no fígado. No caso do metanol, este metabolismo cria subprodutos tóxicos chamados formaldeído e ácido fórmico. Eles atacam nervos e órgãos, sendo o cérebro e os olhos os mais vulneráveis, o que pode levar à cegueira, coma e morte.
A toxicidade do metanol está relacionada à dose ingerida e ao organismo. Tal como acontece com o álcool tradicional, quanto menos você pesa, mais você pode ser afetado por uma determinada quantidade.
Normalmente, os efeitos demoram entre 40 minutos e 72 horas para aparecer. Os primeiros sinais são semelhantes aos da intoxicação por álcool e incluem problemas de coordenação, equilíbrio e fala, bem como confusão e vômitos. Ao mesmo tempo, a pressão arterial cai, resultando em uma sensação de tontura e desmaio.
Em fases posteriores – cerca de 18 a 48 horas após a ingestão – o ácido fórmico, que interrompe a produção de energia nas células, faz com que o pH do sangue caia, danificando tecidos e órgãos do corpo. Isso pode causar insuficiência renal, convulsões e até sangramento gastrointestinal.
Devido ao seu rápido efeito no organismo, o início do tratamento deve ser feito assim que houver suspeita de intoxicação por metanol. Em ambiente hospitalar, existem medicamentos que podem ser administrados para tentar limpar o sangue, assim como a aplicação de diálise.
O antídoto para o metanol é o álcool (etanol). Isso porque a metabolização do etanol pelo fígado pode ajudar a atrasar o metabolismo do metanol e reduzir seu efeito tóxico no corpo. Mas isso precisa ser feito rapidamente.