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Sem investimentos, Brasil perde terreno para outros emergentes

De 1980 a 2019, o País investiu 49 vezes o volume de 1979. No mesmo período, o multiplicador foi de até 249 em outras nações emergentes

Resultados explicam, em parte, o fraco desempenho econômico, a baixa produtividade e a menor competitividade brasileira (Leandro Fonseca/Exame)

Resultados explicam, em parte, o fraco desempenho econômico, a baixa produtividade e a menor competitividade brasileira (Leandro Fonseca/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de abril de 2022 às 09h42.

Sem investimentos suficientes para acelerar e dar competitividade à economia, o Brasil tem ficado para trás comparado a seus pares internacionais. De 1980 a 2019, o País investiu 49 vezes o volume de 1979. No mesmo período, considerando outras nações emergentes, o multiplicador foi de 249 na Índia; 202 na Coreia do Sul; e 66 na África do Sul. Já nos EUA, esse número foi de 81.

Os resultados explicam, em parte, o fraco desempenho econômico, a baixa produtividade e a menor competitividade brasileira nos últimos anos. Pior: há pouca expectativa de que esse quadro vá mudar no curto e médio prazos.

Levantamento da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) mostra que, em 1979, o Brasil investiu, em valores atualizados, R$ 930 bilhões. Entre 1980 e 2019, o volume somou R$ 45 trilhões.

Se o País tivesse seguido o caminho da Índia, por exemplo, o investimento teria superado R$ 200 trilhões no período.

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Na comparação com a Coreia do Sul, o valor chegaria a quase R$ 190 trilhões - quase 20 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021. E, em relação à África do Sul, duas vezes o PIB nacional.

"Ficamos para trás. O Brasil deixou de investir trilhões de reais nos últimos anos, o que tem distanciado o País de outras nações", diz o diretor de Planejamento e Economia da Abdib, Roberto Guimarães. Segundo ele, se for aplicado o mesmo modelo com relação à produção industrial, o resultado será semelhante.

A produção industrial brasileira teria tido um adicional de R$ 6 5 trilhões se tivesse crescido como a Coreia do Sul, entre 2010 e 2021. Com relação ao México, R$ 5,1 trilhões, ou 2,9 vezes. Com relação à África do Sul, teríamos dobrado a produção.

"Temos batido na tecla de que tem de aumentar investimentos, mas o que temos visto é o investimento público desabar nos últimos dez anos." Um dos principais problemas, diz Guimarães, é que os governos não conseguem reduzir a despesa corrente e aí descontam nos investimentos. "O Orçamento previsto para este ano é um quarto do que foi há 15 anos."

Círculo vicioso

Os baixos investimentos sempre foram um problema crônico desde a década de 1980. O Estado brasileiro cresceu demais, a máquina pública ficou inchada e, com a globalização, o País foi perdendo competitividade em relação aos concorrentes. "O Brasil tem alguns problemas para resolver, como equilibrar as contas públicas e definir o que quer ser, além do agronegócio e da mineração", diz o professor do Insper Ricardo Rocha.

A dificuldade de investimento gera um circulo vicioso da economia. O PIB não cresce porque os investimentos não decolam, e as empresas não fazem novos investimentos devido à baixa expectativa de crescimento.

"Um país que cresce pouco é um país que demanda pouco, e isso determina o investimento", diz o presidente da consultoria Inter.B, Claudio Frischtak.

Segundo ele, numa economia fechada e com pouca competição, o motivador para investir é o crescimento.

Hoje, o Brasil tem uma política de ajuste fiscal e não uma política de crescimento, dizem especialistas. Boa parte do que foi prometido pela atual administração não saiu do papel, como a privatização de empresas importantes e reformas essenciais para colocar o País na rota de crescimento, diz o pesquisador associado do FGV Ibre Cláudio Considera. "Um país com desemprego alto, sem expectativa de demanda e insegurança não atrai investimentos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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