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Lewandowski: Castro pode 'jogar a toalha' se sentir que não tem condições

Pelo menos 64 pessoas morreram e 81 foram presas na megaoperação realizada nesta terça-feira contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 28 de outubro de 2025 às 18h59.

Última atualização em 28 de outubro de 2025 às 19h16.

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O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, declarou que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, deve "assumir as suas responsabilidades" ou reconhecer que não tem condições de controlar a segurança do estado e pedir intervenção federal, estado de sítio ou a decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

A fala do ministro ocorre em meio à megaoperação realizada nesta terça-feira, 28, contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha. A operação resultou na morte de pelo menos 64 pessoas e na prisão de 81 indivíduos, sendo considerada a mais letal da história do estado, segundo números divulgados pelo Palácio Guanabara.

"Se ele sentir que não tem condições, ele tem que jogar a toalha e pedir GLO ou intervenção federal. Ou ele faz isso, se não conseguir enfrentar, ou vai ser engolido pelo crime", disse Lewandowski em coletiva de imprensa durante a cerimônia na Assembleia Legislativa do Ceará, onde ele recebeu o título de Cidadão Cearense.

Os mecanismos citados pelo ministro permitiriam que o governo federal e as Forças Armadas atuassem na segurança do Rio de Janeiro diante da crise que o estado enfrenta na segurança pública.

Nessas circunstâncias, o governo federal poderia assumir a área de segurança no Rio de Janeiro, e, em casos extremos, a medida de intervenção poderia até levar ao afastamento do governador do cargo.

Após a explosão da onda de violência no Rio nesta terça-feira, Cláudio Castro tentou responsabilizar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela situação. O governador afirmou que já havia solicitado ajuda, mas que nunca recebeu "o auxílio de blindados nem de agentes das forças federais de segurança e da defesa" no estado.

Por outro lado, Lewandowski rebateu a fala de Castro e ressaltou que o governo federal não recebeu nenhum contato do governador.

"Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro, enquanto ministro da Justiça e Segurança Pública, para esta operação, nem ontem, nem hoje, absolutamente nada", disse.

"A Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as forças federais têm uma competência muito limitada, constitucionalmente. As forças federais não são forças coadjuvantes das polícias militares e das polícias civis. Nós auxiliamos o Rio de Janeiro no que pudemos", acrescentou.

De acordo com o ministro, já houve solicitação do governo do Rio para transferência de criminosos envolvidos com facções para penitenciárias federais, e o pedido foi atendido pela pasta.

"No começo desse ano, o governador Cláudio Castro esteve no Ministério da Justiça pedindo a transferência de líderes das facções criminosas para as penitenciárias federais de segurança máxima. Foi atendido. Nenhum pedido foi negado".

Na coletiva de imprensa, Lewandowski também reforçou que Castro não solicitou apoio do governo federal antes da megaoperação realizada pelas polícias Civil e Militar nesta terça-feira.

"Ele tenta jogar a culpa nos outros, mas nunca fez qualquer pedido nesse sentido [de atuação das forças federais e da defesa, inclusive com blindados]. Para isso, o governo do Rio de Janeiro teria que fazer uma declaração formal de que as forças locais não têm condições de fazer face o crime", criticou o ministro.

No início desta tarde, o Ministério da Justiça também divulgou uma nota afirmando que Lewandowski se reuniu com Castro em fevereiro.

"À ocasião, o ministro atendeu a um pedido do estado e ofereceu dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro", diz o texto. "O Ministério da Justiça e Segurança Pública reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado." (Veja a íntegra da nota abaixo)

Inteligência e planejamento

O ministro da Justiça qualificou o cenário no Rio de Janeiro como "uma loucura" e defendeu que "guerra civil e força bruta não acabam com o crime organizado". Ele destacou que o combate ao crime deve ser feito com inteligência, planejamento e integração entre as forças de segurança.

Como exemplo de uma abordagem bem-sucedida no combate ao crime, Lewandowski citou a Operação Carbono Oculto, realizada em São Paulo, que contou com a atuação integrada da Polícia Federal, da Polícia Militar de São Paulo, do Ministério Público Federal e da Receita Federal.

Segundo o ministro, esse tipo de operação coordenada e estratégica é o caminho para enfrentar organizações criminosas de maneira eficaz.

Balanço da megaoperação no Rio

Pelo menos 64 pessoas morreram e 81 foram presas na megaoperação realizada nesta terça-feira contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Segundo dados divulgados recentemente pela Polícia Civil, foram apreendidos 93 fuzis.

Essa operação é considerada a mais letal da história do estado, de acordo com números confirmados pelo Palácio Guanabara.

No início da tarde, como retaliação ao avanço policial, traficantes realizaram diversos bloqueios em várias partes da cidade. Barricadas foram montadas com veículos tomados de entulho em locais como a Linha Amarela, a Grajaú-Jacarepaguá, a Rua Dias da Cruz, no Méier, entre outros pontos. A violência resultante da operação gerou caos em várias áreas da cidade.

Veja a íntegra da nota emitida pelo Ministério da Justiça:

Em cooperação com o Rio de Janeiro, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) mantém atuação no Estado desde outubro de 2023, por meio da Força Nacional de Segurança Pública, conforme previsto na Portaria MJSP nº 766, de 12 de dezembro de 2023. A operação segue vigente até 16 de dezembro de 2025, podendo ser renovada.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública tem atendido, prontamente, a todos os pedidos do Governo do Estado do Rio de Janeiro para o emprego da Força Nacional no Estado, em apoio aos órgãos de segurança pública federal e estadual. Desde 2023, foram 11 solicitações de renovação da FNSP no território fluminense. Todas acatadas.

No âmbito da Polícia Federal (PF), só em 2025, foram realizadas 178 operações no Estado do Rio de Janeiro, sendo 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e armas. Ao todo, foram 210 prisões efetuadas, das quais 60 estão diretamente relacionadas a investigações sobre o tráfico de drogas e armas.

No mesmo período, foram apreendidas 10 toneladas de drogas e 190 armas de fogo, incluindo 17 fuzis. Além disso, foram apreendidas cerca de 600 peças e acessórios de armas de fogo, capazes de moldar cerca de 30 fuzis.

Esses números refletem o esforço contínuo da Polícia Federal no enfrentamento ao crime organizado e na redução do poder bélico das facções criminosas.

Entre 2024 e 2025 (até outubro), foram 855 mandados de prisão cumpridos, sendo 462 no ano de  2024 e 393 no ano de 2025.

Entre as ações de destaque, estão a Operação Forja, que desarticulou uma fábrica clandestina com capacidade de produção de 3.500 fuzis por ano, destinados a comunidades dominadas pela facção Comando Vermelho; as operações Buzz Bomb e Libertatis, deflagradas em 2024, que prenderam os operadores de drones das duas principais facções criminosas em atuação no Rio de Janeiro.

Além disso, a PF coordena duas operações conjuntas com as forças de segurança do estado, FICCO/RJ e Redentor, que reforçam o compromisso comum de enfrentar o crime organizado de forma coordenada e eficiente.

Também desde 2023, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tem atuado no Estado em operações de combate a roubo de cargas e a roubos de veículos nas rodovias federais.

De janeiro de 2023 a outubro de 2025, foram:

- 3.082 veículos recuperados;  
- 13.961 munições apreendidas;    
- 172 armas curtas apreendidas;    
- 72 fuzis apreendidos;    
- 8.250 pessoas detidas;    
- R$ 3.240.201,00 apreendidos (de origens ilícitas);    
- 29.5 toneladas de maconha apreendidas;    
- 3.9 toneladas de cocaína apreendidos;    
- 73.990  unidades de drogas sintéticas.

Nos últimos anos, o Estado do Rio de Janeiro tem recebido recursos do governo federal para investir no sistema penitenciário e na segurança pública. Por meio do Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), o estado recebeu mais de R$ 99 milhões entre 2016 e 2024 - valor que, com rendimentos, superou R$ 143 milhões. No entanto, apenas cerca de R$ 39 milhões foram efetivamente utilizados, restando mais de R$ 104 milhões ainda em conta.

Já pelo Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), o Rio de Janeiro recebeu quase R$ 288 milhões desde 2019, montante que, com rendimentos, alcançou R$ 331 milhões. Desse total, pouco mais de R$ 157 milhões foram executados até o momento, deixando um saldo superior a R$ 174 milhões disponíveis.

Além disso, o estado tem sido atendido com doações de equipamentos, como veículos, computadores, drones, coletes e munições, que somam aproximadamente R$ 10 milhões.

O MJSP informa ainda que, no âmbito da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), tem desenvolvido uma série de iniciativas com o Governo do Rio de Janeiro,  como a integração do Estado à Rede Nacional de Unidades Especializadas de Enfrentamento das Organizações Criminosas (Renorcrim) e à Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções Criminosas (Recupera).

Além disso, o MJSP e o Governo do Rio de Janeiro firmaram acordo de cooperação técnica para a criação da Célula Integrada de Localização e Captura de Foragidos, com foco na identificação, localização e prisão de criminosos de outras unidades da federação que se refugiam em comunidades fluminenses. A Célula realiza o cruzamento e análise de bancos de dados policiais e judiciais, a integração de mandados de prisão nacionais, com base na Lista dos Procurados do SUSP e na Matriz de Risco Nacional, e a coordenação de operações conjuntas de captura de criminosos prioritários.

O MJSP e o Governo do Rio de Janeiro também firmaram acordo para a criação do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA), com foco na descapitalização das organizações criminosas, mediante inteligência financeira, recuperação de ativos e assessoramento especializado em investigações de lavagem de dinheiro. Até setembro de 2025, o CIFRA havia analisado 59 Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs) emitidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), envolvendo operações com mais de R$ 65 bilhões em valores suspeitos, com 423 documentos produzidos e difundidos entre os anos de 2024 e 2025.

Ainda, em 5 de fevereiro deste ano, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, esteve no Ministério da Justiça e Segurança Pública para uma reunião com o ministro Ricardo Lewandowski. À ocasião, o ministro atendeu a um pedido do Estado e ofereceu dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro.
 
“A missão é a cooperação total entre União e o RJ. Estamos empenhados em combater o crime de forma cooperativa e integrada. Esse é mais um exemplo da integração federativa que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública pretende colocar em prática”, disse o ministro após o encontro.  

O Ministério da Justiça e Segurança Pública reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado.

As ações coordenadas têm como objetivo fortalecer o combate ao crime organizado, reduzir índices de criminalidade e garantir maior sensação de segurança à população. Com investimentos significativos e esforços contínuos, o MJSP permanece empenhado em assegurar resultados efetivos e contribuir para a preservação da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro.

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