Agência de notícias
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 08h25.
A falta de resposta aos insistentes pedidos de negociação feitos pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem alimentado um clima de pessimismo em Brasília. A avaliação do governo brasileiro é que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, só estaria disposto a conversar se a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro entrar na negociação.
Na próxima quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, agendou uma conversa com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent. A expectativa é que Haddad solicite a ampliação da lista de produtos não atingidos pela sobretaxa de 50%, que entrou em vigor no dia 6 de agosto. No entanto, não há garantias de que essa tentativa de diálogo será bem-sucedida.
O governo brasileiro também teme que novas sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, seus familiares e outros magistrados da Corte possam ser adotadas pelos EUA. Sinais de que isso pode ocorrer foram emitidos por Washington, especialmente após Moraes decretar a prisão domiciliar de Bolsonaro.
Na quinta-feira, a Embaixada dos EUA em Brasília publicou novas mensagens nas redes sociais, criticando Moraes e indicando que poderão ocorrer novas sanções. Moraes já é alvo de bloqueio de operações bancárias com empresas americanas e teve seu visto para os EUA suspenso.
O processo eleitoral brasileiro se tornou um ponto central nas negociações, e a situação única do Brasil foi destacada. Trump, que está de olho nas eleições de 2026, deseja que Bolsonaro, ou alguém com uma ideologia semelhante, vença a disputa. O governo brasileiro, por sua vez, só concordará em conversar por telefone com Trump se a Casa Branca garantir que Bolsonaro não será incluído no diálogo. Essa condição tem sido reiterada por autoridades brasileiras.
A defesa inesperada de Bolsonaro por parte dos EUA causou surpresa no governo brasileiro. Esperava-se que as negociações se concentrassem em tarifas elevadas e protestos contra a regulação das grandes plataformas de internet. No entanto, o Brasil também se prepara para responder a uma possível acusação sob a Seção 301 da Lei do Comércio americana. Em 18 de agosto, o Brasil enviará um relatório abordando patentes, corrupção, desmatamento, Pix e outros temas, com a primeira audiência pública marcada para dezembro.
De acordo com interlocutores do governo brasileiro, os EUA passaram a ser vistos como um parceiro menos confiável. A forma como Trump tem exercido o poder, com autoridade incontestável, demonstraria que sua tática é manter o opositor em um clima de terror.
Esses interlocutores apontam que países que tentaram negociar com os EUA saíram humilhados e Trump precisa sair com um troféu.
O presidente Lula conversou, na manhã desta quinta-feira, com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e deve falar em breve com o presidente da China, Xi Jinping. Embora o apoio desses países seja considerado importante, não se cogita uma posição conjunta do Brics sobre o tarifaço de Trump.
Entre os principais motivos está a realidade diferente de cada um dos onze países que compõem o Brics, além da presença de aliados dos EUA, como o Egito, Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, dentro do grupo.
Uma das prioridades do governo Lula é adotar medidas para apoiar os setores mais afetados pelo tarifaço e expandir mercados para o Brasil. México e Canadá são vistos como parceiros fundamentais para ampliar o comércio e comprar produtos que deixarão de ser exportados para os EUA.