Vista aérea do palco para o show da cantora norte-americana Lady Gaga na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, Brasil, em 27 de abril de 2025. Lady Gaga fará um mega show gratuito no local (Pablo PORCIUNCULA / AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 3 de maio de 2025 às 11h46.
Não é só mais um show da turnê. É o show com previsão de maior público da carreira da superestrela Lady Gaga, premissa fundamental para ampliar as expectativas e conferir ineditismo ao evento deste sábado na Praia de Copacabana. Tamanho hype já havia repercutido globalmente em 2024, com o sucesso da apresentação de Madonna na orla. E espera-se que se repita anualmente, todo começo de maio, com patrocínios já garantidos até 2028.
São megaespetáculos chamados, a partir deste ano, de “Todo mundo no Rio”. Marca que, além de fazer alusão à multidão que toma a cidade nestes dias, revela muito de uma estratégia igualmente superlativa por trás da festa, pensada nos detalhes para alavancar o turismo doméstico e internacional.
Entre as apostas ambiciosas está a negociação para que a banda ou artista escolhido faça uma apresentação exclusiva no Brasil e na América do Sul no período do evento — tática que reforçaria o apelo turístico do show.
Para os próximos anos, revelou a coluna de Lauro Jardim, no GLOBO, Beyoncé é uma das atrações desejadas pelo Rio, numa lista na qual se ventila ainda U2, Coldplay e Paul McCartney. O certo, afirmam os organizadores, é que o retorno para a economia carioca estará assegurado de diversas formas. No caso de Lady Gaga, só a publicidade gratuita para a cidade na mídia global foi estimada em R$ 280,5 milhões quando anunciada a vinda dela à cidade. Com o show deste fim de semana, a expectativa é que esse valor supere R$ 1 bilhão.
— Os shows na praia têm um custo muito elevado de produção, e claro que queremos que todos os fãs foquem em vir para o Rio de Janeiro, e não dividir essa audiência com outras cidades próximas. Existe, sim, uma negociação para que não sejam feitos shows em outras cidades brasileiras — confirma Luiz Guilherme Niemeyer, que em 2021 virou sócio do pai, Luiz Oscar Niemeyer, na Bonus Track, produtora que organiza o evento. — Nosso principal foco é mostrar para todos como o entretenimento, em especial esses grandes shows que realizamos gratuitamente na Praia de Copacabana, impactam positivamente a economia com transformações verdadeiras em questões ambientais e sociais.
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Nesse ritmo, os milhares de fãs que vão a Copacabana celebrar com Lady Gaga, por exemplo, carregam também bandeiras que fazem parte das causas defendidas pela cantora, como o feminismo e as lutas pela saúde mental e pelos direitos da população LGBTQIA+.
Para combater o bullying, ela criou, inclusive, de uma fundação, a Born This Way. Não foi à toa que o público da popstar espalhou a diversidade pelo Rio na última semana — e isso gera efeitos para a imagem de uma cidade de braços abertos para todos.
— Lady Gaga prega a autoaceitação. No álbum “Born this way”, a música com o mesmo nome diz que não importa se você nasceu gay, lésbica ou trans: você nasceu desse jeito. Esse disco específico salvou a minha vida. Quando foi lançado, meu pai descobriu que eu era gay, não aceitou e me bateu. As músicas me ajudaram a superar — conta o fã mineiro Lorenzo Porto, de 29 anos.
Em parceria entre prefeitura do Rio e estado, o “Todo mundo no Rio” deste ano já exibe resultados. Às vésperas de acontecer, o espetáculo de Gaga já se impunha como um marco para o mês de maio no turismo de impacto internacional do Rio.
Segundo a Embratur, houve um aumento de 41% na venda de passagens internacionais para o período: mais de 21,5 mil emitidas para semana do show (de 27 de abril a 3 de maio).
Na mesma semana da Madonna, em 2024 (28 de abril a 04 de maio), foram vendidos 15,2 mil bilhetes. E, obviamente, até quem não veio ao Rio passou dias ouvindo falar da cidade e da cantora.
Só ao longo das duas últimas semanas, calculou a consultoria Bites, foram publicados 1,73 milhão de menções a Lady Gaga no Twitter, notícias, blogs, Reddit, contas abertas de Facebook e contas brasileiras selecionadas no Instagram — excluindo as menções ao show dela no México e a participação dela no Coachella. Essas menções geraram 24,9 milhões de interações.
— O show da Madonna no Rio em 2024 foi um sucesso de público e promoção. Com base em dados da organização do evento, a exposição na mídia internacional foi de R$ 1,4 bilhão. O show de Lady Gaga também vai reforçar essa imagem — afirma Bernardo Fellows, presidente da Riotur.
Este ano, entre os gringos atraídos pela popstar de hits como “Die with smile” e “Abracadabra”, os argentinos lideram o ranking, com 33,6% do total de passageiros e um crescimento expressivo de 175,8% em relação ao ano passado. O Chile vem em seguida, responsável por 15,9% dos bilhetes, registrando um aumento de 13%.
A movimentação regional também é volumosa. Apenas pela Rodoviária Novo Rio, mais de 560 mil de turistas chegaram. À disposição, eles encontraram, além do show na praia, mais de 70 festas temáticas realizadas por produtores de todo o país inspiradas na Mother Monster.
A proposta faz visitantes e cariocas circularem — e gastarem. Pontos turísticos e estabelecimentos comerciais investiram nessa onda. No Parque do Bondinho do Pão de Açúcar, foi montado um cenário com atividades especiais que incluíram até dança com os bailarinos de Lady Gaga. Até para o festival Comida di Boteco, que vai até 11 de maio, o saldo foi positivo.
— Mesmo que o impacto não seja igual para todo o setor, que é bastante diverso em perfil e localização, trata-se de uma oportunidade para receber novos clientes, formar público e consolidar uma cultura sólida de destino cultural, inclusive gastronômico — afirma Fernando Blower, presidente do SindRio, Sindicato de Bares e Restaurantes.