Motta ainda sugeriu como alternativa à alta do imposto (Agência Câmara)
Agência de notícias
Publicado em 29 de maio de 2025 às 13h20.
Última atualização em 29 de maio de 2025 às 13h39.
Após se reunir com líderes da Câmara, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), pediu a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas discussões sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciado pelo governo na semana passada como objetivo de arrecadar R$ 20 bilhões neste ano. As conversas são conduzidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Ele ainda alertou que o governo recorrer ao Judiciário seria equivocado.
Motta ainda sugeriu como alternativa à alta do imposto medidas como corte de isenções fiscais e a reforma administrativa. Segundo ele, porém, caberá ao governo apresentar alternativas.
"O presidente (Lula) precisa tomar pé dessa situação para, a partir daí, o governo possa apresentar alternativas. E o que estamos defendendo? Que venham medidas mais estruturantes, que o Brasil possa enfrentar aquilo que é preciso. Para poder entrarmos em um momento de mais responsabilidade fiscal", disse Motta.
Ele falou à imprensa após reunião de líderes e diante da insatisfação com o aumento do IOF. Com a reclamação generalizada entre os deputados, ele deu um prazo de dez dias para apresentar uma alternativa à medida. Os parlamentares têm mais de duas dezenas de projetos para derrubar o decreto. Motta disse que deve abrir um grupo de trabalho para discutir isenções fiscais.
"Temos defendido rever a questão das isenções fiscais, porque o Brasil não aguenta a quantidade de isenções que hoje nosso país tem. Precisamos discutir das vinculação de receitas, precisamos discutir uma reforma administrativa que traga mais eficiência para a máquina pública. Porque só isso irá ajudar a melhorar o ambiente econômico", afirmou.
O presidente da Câmara alertou ao governo que recorrer ao Judiciário para manter o decreto seria um equivoco.
"Essa Casa não faltou em nenhum momento às medidas que foram enviadas pelo Ministério da Fazenda e pelo governo e foram aprovadas. Essa posição nossa com relação ao IOF é porque temos um ambiente de, há dois anos e cinco meses, todas as medidas que aqui chegaram visaram ao aumento de arrecadação. Não chegaram medidas revendo despesas. É isso que o Congresso e a sociedade têm cobrado", afirmou.
"Tentar rever a posição do Congresso (no Judiciário) eu penso ser a decisão mais equivocada. Se o governo caminha para tentar resolver aquilo que é decisão parlamentar com o Poder Judiciário piora bastante o ambiente aqui na Casa".
O deputado alertou que, tanto ele quanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), poderiam ter votado o decreto de derrubada do IOF ainda ontem:
"Com certeza seria aprovado. Mas nós não fizemos isso porque queremos construir a solução com o governo. Não há interesse do Poder Legislativo em tocar fogo no país".
Motta disse que sentiu um ambiente de muita convergência e que o governo tem que aproveitar esse momento. Segundo ele, o decreto do IOF causa instabilidade e insegurança que afugentam investimentos. Questionado sobre o risco da queda do decreto afetar emendas parlamentares, ele disse:
"Rever as emendas não é um assunto proibido".
O prazo para o governo encontrar uma alternativa para o aumento no Imposto sobre Operações Financeiras foi dado após reunião dele com o presidente do Senado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite de quarta-feira.
"Reforcei a insatisfação geral dos deputados com a proposta de aumento de imposto do governo federal. E relatei que o clima é para derrubada do decreto do IOF na Câmara. Combinamos que a equipe econômica tem 10 dias para apresentar um plano alternativo ao aumento do IOF. Algo que seja duradouro, consistente e que evite as gambiarras tributárias só para aumentar a arrecadação, prejudicando o país", publicou Motta nas redes sociais.
Até parlamentares de partidos com cargos no governo, como MDB, União Brasil, PSD, PP e Republicanos, têm demonstrado insatisfação com a medida. Haddad foi convidado a falar na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado sobre o assunto. O presidente da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), avaliou que há um clima ruim com o decreto no Poder Legislativo e que isso “dificilmente passará no Congresso”.
Líderes da Câmara reforçaram a insatisfação com o anúncio do governo sobre o aumento de impostos e indicaram que, caso o governo não apresente uma solução alternativa à alta do IOF, vão derrubar a medida. Em reunião nesta quinta-feira com o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), representantes das bancadas aceitaram esperar o prazo de 10 dias para que seja encontrada uma solução.
"O presidente Hugo Motta, tendo a sua responsabilidade, conversou com o ministro Haddad, com o senador Alcolumbre, e trabalharam um prazo de 10 dias para apresentar alternativas que possam evitar a votação do PDL (projeto de decreto legislativo). Eu entendo que esta Casa irá pautar o PDL caso não haja resposta até esse prazo. Agora, a minha nota de repúdio é saber que o ministro da Saúde, nessa reunião, afirmou que não sabe se haverá solução, que não sabe se apresentará alternativas. Então, ficou bem claro ali o incômodo por parte dos líderes", disse o líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS).
Apesar da sinalização contrária da cúpula do Congresso, o governo ainda tenta manter o decreto, argumentando que uma eventual derrubada da medida levaria a um cenário de paralisação da máquina pública.
Segundo as medidas anunciadas pelo governo na semana passada, o IOF para operações com cartão de crédito, débito e pré-pago no exterior subiu de 3,38% para 3,50%. O IOF para aquisição de moeda em espécie passou de 1,10% para 3,50%.
Inicialmente, o texto também estabelecia uma cobrança de 3,5% sobre o envio de recursos de fundos para investimentos internacionais. Esse foi o ponto que mais gerou repercussão negativa no mercado, porque a remessa de dinheiro para o exterior é comum em diversas aplicações como forma de diversificar investimentos. Neste ponto, a Fazenda recuou, e as operações desse tipo seguem isentas.