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Gilberto Seleme assume a presidência da FIESC com o desafio de conduzir a entidade em meio à crise dos exportadores catarinenses para os Estados Unidos (Filipe Scotti/Divulgação)
Editor da Região Sul
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 15h11.
Última atualização em 21 de agosto de 2025 às 16h22.
Gilberto Seleme, 70 anos, assume oficialmente, nesta sexta-feira (22), a presidência da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), com o desafio de conduzir a entidade em meio ao furacão do tarifaço que atingiu as exportadoras catarinenses. Engenheiro civil e administrador de empresas, é empresário dos setores de madeira, couro, construção civil e do agronegócio.
Também é diretor e delegado da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e membro do Conselho Estratégico da FIESC. Integra a diretoria da Associação Empresarial de Caçador (ACIC), é membro do Sindicato da Indústria da Madeira de Caçador - do qual foi fundador e primeiro presidente -, além de participar do Conselho Consultivo do Hospital Maicé, de Caçador, município no Meio-Oeste, onde nasceu.
Seleme abriu espaço na concorrida agenda, às vésperas da posse, para receber a EXAME e conversar sobre o atual cenário, onde está sentindo na própria pele os efeitos da alíquota de 50%, como exportador de madeira para os EUA. Confira abaixo a entrevista:
O senhor assume a presidência da FIESC em meio a um dos momentos mais turbulentos para os exportadores catarinenses. Como imagina conduzir a indústria de SC em meio à tempestade do tarifaço?
A indústria é um setor econômico muito importante para Santa Catarina. Geramos mais de 934 mil empregos e respondemos por 28,5% do PIB do Estado. O compromisso que temos com cada trabalhador, cada empresário e cada comunidade que nossa indústria sustenta é enorme. Sempre foi. O tarifaço aumenta este desafio. Desde o anúncio das novas tarifas, estamos trabalhando para resolver isso o mais rápido possível. Temos uma equipe ajudando com números, projeções, cenários. Estamos em contato com associações de classe, de produtos, com governos, com lideranças políticas. Temos feito reuniões com consulado, sindicatos. Trouxemos os trabalhadores para as negociações. Temos um grupo viajando para os EUA também. E preparamos um plano de apoio aos nossos exportadores, que envolve nossas entidades, especialmente SESI e SENAI. A FIESC é a porta-voz da indústria catarinense. Dialogar com todos os envolvidos é uma das nossas atribuições. Entendemos que a negociação, o diálogo e a diplomacia são o caminho para superar tudo isso. Daqueles que podem intervir mais fortemente para resolver o problema, não esperamos medidas paliativas. Queremos objetividade. Nossa indústria sente o impacto do tarifaço, principalmente a do setor de madeira. Para se ter ideia, 37,3% do que exportamos para os EUA são produtos de madeira.
O senhor tem empresas que foram afetadas diretamente pela tarifa, como no setor da madeira. Na condição de quem está “sentindo na pele” os efeitos da taxação de 50%, qual a avaliação para o atual cenário?
O cenário é muito desafiador. Precisamos voltar à normalidade o mais rapidamente possível. Como empresário, exporto para vários países. Temos uma planta, com foco em produtos de madeira, voltada exclusivamente aos EUA. De certa forma, isto tem me ajudado na condução deste tema como presidente da FIESC, porque, como você disse, sinto isso na pele. Tenho falado todos os dias com nossos clientes. Eles precisam do meu produto, mas não podem pagar taxa. Também não podem, de uma hora para outra, trocar de fornecedor. Tenho pedido para pressionarem o governo de lá para ajudar a resolver a situação. Se os EUA continuarem com 50% de taxa, a construção civil de lá vai ficar mais cara. Então, a situação não é boa para ninguém, e precisa ser revertida.
Santa Catarina vive uma condição de pleno emprego e as empresas enfrentam uma forte carência de mão de obra. Como reverter este quadro de apagão?
Este é um quadro complexo, que está diretamente ligado à competitividade do setor. A FIESC sempre atuou de forma estratégica para enfrentar o problema. Nossa principal estratégia sempre foi investir em educação. Não só na educação técnica, de jovens. Começamos a preparar pessoas qualificadas desde a educação básica, com as Escolas SESI. Tudo que fazemos ali já está conectado com as demandas da indústria. Esta conexão com a indústria segue até o ensino superior, com o UniSENAI. Nós temos qualificado profissionais em temas emergentes, como inteligência artificial, manufatura digital, robótica, sustentabilidade e bioeconomia. No SENAI, na educação profissional, temos investido na modernização das estruturas, principalmente nos laboratórios didáticos, para preparar os jovens para lidar com tecnologia. A indústria é um ambiente de muita inovação. Muitas das tecnologias que criamos são usadas, depois, em outros setores. Aqui em Santa Catarina temos uma indústria muito competitiva. Somos destaque nacional em motores elétricos, compressores, artigos têxteis, produtos de madeira e de borracha e plástico. Entendemos que investir em educação é uma maneira de termos sempre profissionais preparados e de manter o setor competitivo e referência.
O Sistema FIESC é referência na formação de profissionais para os mais variados setores da indústria. Na área educacional, quais são as suas metas?
A educação sempre foi uma das nossas prioridades porque a indústria depende de pessoas preparadas para lidar com novas tecnologias. Somos um setor moderno, muito dinâmico. Precisamos de gente capaz de resolver problemas, de inovar. Nos próximos três anos, só para atender a demanda da indústria catarinense, será necessário qualificar 953,4 mil trabalhadores. Temos como meta formar bons técnicos, porque eles fazem muita diferença na indústria. Estamos confiantes neste desafio porque temos excelentes professores e infraestrutura. Neste ano, para ilustrar o que digo, nosso SENAI/SC foi reconhecido como o melhor do país pelo SENAI Nacional. Um dos indicadores avaliados foi a qualidade da educação que oferecemos. Vamos seguir investindo nela.
Se fosse elencar uma única meta para alcançar até o final da sua gestão na presidência, qual seria? E por quê?
A complexidade dos desafios da indústria e das entidades da FIESC, não nos permitem resumir em uma palavra. Nossa gestão vai continuar defendendo temas-chave para a indústria catarinense, como educação, inovação e tecnologia, saúde do trabalhador, defesa dos interesses nas áreas trabalhista, ambiental e legislativa, internacionalização e infraestrutura. Vamos intensificar, e talvez isso se torne algo muito lembrado no futuro, nossa relação com os sindicatos industriais. Entendemos que o associativismo dá sentido à missão institucional da FIESC. O nosso sistema sindical, com 142 sindicatos filiados, nos faz enxergar com mais clareza os desafios da indústria catarinense. Por que isso? Porque são os sindicatos que captam as urgências das empresas, que unem os empreendedores em torno de pautas comuns. Nossa proposta é um apoio concreto à atuação setorial, manter um diálogo constante e aproximar mais os sindicatos e as nossas entidades, como SESI, SENAI e IEL. Acreditamos que, com o associativismo, construiremos soluções à altura da indústria catarinense.