Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 25 de julho de 2025 às 13h38.
Última atualização em 25 de julho de 2025 às 23h43.
O plano "Punha Verde e Amarelo", uma trama para assassinar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, teve o seu possível idealizador revelado.
O general Mario Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência no governo de Jair Bolsonaro (PL), admitiu durante interrogatório no STF que foi o autor da trama.
Fernandes é investigado no núcleo 2 da organização que supostamente planejou um golpe de Estado e apontado pela Procuradoria Geral da República (PGR) como um dos líderes mais radicais na articulação.Ele afirmou que o plano não passava "de um pensamento" e um "estado de situação" digitalizado.
“Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilar de dados, um estudo de situação meu, uma análise de riscos que eu fiz e por costume próprio resolvi digitalizar. Não foi apresentado a ninguém e nem compartilhado com ninguém”, disse Fernandes.
O general negou que tenha apresentado o plano para alguém, mesmo após confirmar que imprimiu o documento.
Fernandes disse que somente tomou essa atitude para ler melhor e "não forçar a vista", e que teria rasgado o papel em seguida.
As investigações, porém, apontam que três cópias do documento foram impressas no gabinete da Secretaria-Geral.
A PF aponta que Fernandes teria entrado no Palácio do Alvorada quarenta minutos depois da impressão, local onde estavam Bolsonaro e Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente e delator no processo.
“Eu ratifico. Impossível. Eu imprimi para ler no papel, para não forçar a vista. Após isso, rasguei. Esse horário foi uma coincidência em relação a minha atribuição administrativa e logística como secretário executivo. Não compartilhei esse arquivo com ninguém", afirmou.
Fernandes é filho de militar e de professora. Ele nasceu em Brasília (DF) e entrou para o Exército Brasileiro em 26 de fevereiro de 1983, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Assim como Bolsonaro, ele também é paraquedista.
Segundo informações divulgadas pelo Exército, Fernandes é doutor em ciência e arte da guerra na Escola de Comando e Estado- Maior e já recebeu diversas condecorações da corporação.
Em novembro de 2024, a PF deflagrou uma operação para prender quatro militares "kids pretos" e um agente da PF que planejavam "eliminar" Moraes e "extinguir a chapa presidencial vencedora" nas eleições de 2022.
O plano previa sequestrar ou executar Lula, Moraes e Alckmin no dia 15 de dezembro de 2022.
O documento elaborado pelo general Mário Fernandes em 9 de novembro de 2022 detalhava as armas que seriam utilizadas, incluindo munições de alto impacto, como para a metralhadora leve M249, granadas de fragmentação de 40mm e o lança-rojão AT4.
A PF destacou que o documento avaliava riscos e impactos, justificando que "danos colaterais possíveis e aceitáveis" poderiam ocorrer.
Isso incluía, além das mortes das autoridades-alvo, a possibilidade de baixas na equipe de segurança e até nos próprios militares envolvidos na operação.
O objetivo seria "neutralizar o centro de gravidade", expressão usada para se referir a obstáculos ao golpe de Estado.
Segundo a investigação, os acusados utilizaram o codinome JECA para se referir ao presidente Lula. O plano indicava que a "neutralização" de Lula abalaria toda a chapa vencedora.
Para o assassinato, os suspeitos sugeriram envenenamento ou uso de químicos que causariam um colapso orgânico.
O vice-presidente Geraldo Alckmin era citado como JOCA. O texto do plano operacional indicava que, na inviabilidade do “01 eleito” (Lula), a “neutralização” do vice-presidente seria necessária para extinguir a chapa vencedora.
Uma terceira pessoa, referida como JUCA, foi mencionada como alvo de neutralização para desarticular os "planos da esquerda mais radical". Contudo, os investigadores não obtiveram elementos suficientes para identificar quem seria essa pessoa.
Mensagens obtidas pela PF mostraram que os militares investigados chegaram a se posicionar em Brasília para tentar prender, sequestrar e executar Moraes.
De acordo com a PF, seis pessoas participaram do planejamento e, para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas, utilizaram o aplicativo Signal, que oferece criptografia avançada, e usaram codinomes associados a países.
As diligências da Polícia Federal indicaram que os investigados realizaram, no dia 12 de novembro de 2022, uma reunião na casa do ex-ministro e candidato a vice derrotado nas eleições daquele ano, o general Walter Braga Neto.