O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes, em painel de evento do grupo Esfera Brasil na segunda-feira, 25 (Esfera Brasil/Divulgação)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 10h36.
Última atualização em 25 de agosto de 2025 às 10h42.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não é oficialmente candidato à presidência da República. Mas, quando perguntado, não deixa de comentar pautas nacionais. Nesta segunda-feira, 25, ele tornou a defender uma agenda para o Brasil e destacou que o país precisa acelerar na agenda de desenvolvimento econômico — e de mudança nas lideranças políticas.
"[O Brasil] precisa fazer 40 anos em 4", disse o governador de São Paulo durante o Seminário Brasil Hoje, do grupo Esfera Brasil, no Palácio Tangará, na capital paulista. "Estamos há 40 anos debatendo as mesmas coisas e as mesmas pessoas. Estamos estacionados, perdendo tempo."
Tarcísio dividiu os desafios nacionais em alguns pilares. O de primeira ordem, avaliou, é o fiscal.
"Depende da questão fiscal o que deixaremos de legado: prosperidade ou dívida?", disse. "A agenda está muito clara, precisamos iniciar a conversa sobre desindexação [da economia]."
Nesse aspecto, ele destrinchou seu pensamento sobre como atacar o problema. Inicialmente, avaliou, é preciso que o Executivo federal dê o exemplo. "No Exército, temos um ditado que a palavra conduz e o exemplo arrasta. Quando falamos do fiscal e de diminuição do tamanho do Estado, a presidência da República tem de dar o exemplo", afirmou.
Para ele, um primeiro passo seria diminuir o número de ministérios. "Para mostrar que estamos tendo uma operação mais enxuta", disse.
Além disso, pontuou que o desafio fiscal é conhecido e há "excelentes nomes" que poderiam estar no Ministério da Fazenda para tocar essa agenda. Mas, para ele, a rigidez orçamentária precisa ser alterada.
"Se não, em 2030 talvez estejamos discutindo [uma margem de manobra de] 2% ou 3% do orçamento. Precisamos diminuir a rigidez orçamentária", afirmou, defendendo o que chamou de uma "reforma orçamentária".
Nesse sentido, defendeu, é essencial rediscutir também a indexação da economia -- isto é, o fenômeno de ajuste da economia a partir de índices oficiais que, no Brasil, apontam economistas, é muito alto.
"Temos um nível de indexação em que se mexe 1 real daqui e gera 400 milhões de reais de despesa", disse Tarcísio, em um exemplo hipotético.
O governador de São Paulo também defendeu a agenda de revisão de benefícios tributários. "Precisamos diminuir o tamanho disso. Agora, se o governo não dá o exemplo, não consegue discutir isso", afirmou.
Segundo ele, outro ponto essencial para o desenvolvimento econômico nacional é discutir -- e avançar -- na agenda de tecnologia e seu impacto na economia e no funcionamento do Estado.
"Precisamos de Inteligência Artificial (IA) no Estado, falar de blockchain e Internet das Coisas (IoT). Precisamos enxugar o Estado e a tecnologia pode ajudar", afirmou.
O terceiro pilar, apontou o governador, é a segurança pública.
"Precisamos aumentar o custo do crime e diminuir a mobilidade do crime", afirmou.
Para Tarcísio, o Brasil perdeu sua condição de se movimentar de forma independente no cenário geopolítico e se alinhou a um eixo e "jogou o pragmatismo fora". O país foi alvo de tarifas de 50% do governo dos Estados Unidos, em uma iniciativa encabeçada pessoalmente pelo presidente Donald Trump.
Com isso, apontou, o país abre mão de trilhões de dólares de investimento que poderiam vir para cá — e citou a falta de avanço na pauta de acesso ao Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
"Tem uma questão importante, que é o investimento [estrangeiro direto no Brasil]. Precisamos conversar tanto com o americano quanto com o chinês, e entender a dinâmica geopolítica", disse. "Olhem como a gente se afastou da discussão [sobre a entrada no bloco] da OCDE."
Segundo o governador, esse "caminhão de dinheiro vai para algum lugar". "Falta visão de futuro, falta liderança. Tirar proveito [dessa situação] pensando só em eleição, é condenar [o país] ao atraso", disse em crítica velada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Tarcisio participou de um painel ao lado do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), com moderação do senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP.
Nunes é cogitado como sucessor de Tarcísio ao governo de São Paulo, caso ele lance uma candidatura à presidência da República.
Nogueira arrancou risadas da plateia durante o evento ao questionar "quem poderia ser essa liderança" sobre a qual Tarcísio se referia ao discorrer sobre os desafios do país.
Nunes, por sua vez, elogiou entusiasticamente o governador de São Paulo. "Vou trabalhar por você 24 horas por dia", disse Nunes, ao comentar os planos de Tarcísio.