Agência de notícias
Publicado em 30 de setembro de 2025 às 13h23.
Última atualização em 30 de setembro de 2025 às 14h33.
Autoridades de saúde do estado de São Paulo apreenderam nesta segunda-feira, 29, cerca de 117 garrafas de bebidas alcoólicas em locais suspeitos de comercializar produtos adulterados com metanol. As blitze foram realizadas em bares e adegas nas regiões dos Jardins, na zona oeste, e da Mooca, na zona leste, nos quais clientes tiveram suspeita de intoxicação pelo solvente.
As garrafas apreendidas estavam sem rótulos ou comprovação de procedência e foram encaminhadas à perícia no Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica. Dois estabelecimentos foram autuados por irregularidades sanitárias.
Proprietários de três estabelecimentos foram ouvidos, e seus depoimentos, juntamente com os resultados dos laudos, “irão contribuir com as apurações em curso”, informou a Secretaria de Segurança Pública (SSP). As fiscalizações foram realizadas pelas secretarias estaduais da Saúde (SES), em parceria com o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) e a Vigilância em Saúde do Município de São Paulo (Covisa).
Não foram divulgados os endereços das autuações, mas, na Mooca, foi confirmada uma morte por intoxicação de metanol. A vítima é um homem de 54 anos. Na região dos Jardins, a designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, tomou três caipirinhas feitas com vodca e, após mal-estar, acabou internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e atualmente não enxerga nada. O resultado do exame que analisou a presença de metanol em seu corpo ainda não saiu, mas os médicos têm tratado a intoxicação pela doença por eliminação.
Autoridades de saúde investigam três mortes suspeitas de intoxicação. Além do morador do bairro da Mooca, nos últimos dias dois outros casos foram registradas em São Bernardo do Campo, na região metropolitana. A prefeitura local aguarda resultados de perícia do Instituto Médico Legal (IML) para confirmar ou descartar a contaminação.
Atualmente, dez casos estão sob investigação em São Paulo, incluindo os três fatais. Cinco pessoas seguem internadas suspeitas de intoxicação pelo solvente.
O metanol é um produto químico usado em aplicações industriais e domésticas, como diluentes, anticongelantes, vernizes e até fluido para fotocopiadoras. Assim como o álcool presente na cerveja, no vinho e nos destilados, o metanol é um líquido incolor com cheiro semelhante ao do álcool consumido nessas bebidas, mas muito mais barato de produzir. Isso faz com que ele seja utilizado em bebidas adulteradas.
Dificilmente será possível perceber a adulteração no momento do consumo, já que seu gosto e efeito são semelhantes aos da bebida não adulterada. No entanto, os efeitos prejudiciais aparecem apenas horas depois, quando o organismo tenta eliminá-lo.
A ingestão de pequenas quantidades pode ser extremamente prejudicial à saúde, e algumas doses do composto podem ser fatais.
O álcool é metabolizado no fígado. No caso do metanol, esse metabolismo gera subprodutos tóxicos chamados formaldeído, formato e ácido fórmico. Eles atacam nervos e órgãos, sendo o cérebro e os olhos os mais vulneráveis, o que pode levar à cegueira, coma e morte.
A toxicidade do metanol está relacionada à dose ingerida e ao organismo. Assim como ocorre com o álcool etílico (etanol), quanto menos a pessoa pesa, mais pode ser afetada por uma determinada quantidade.
Normalmente, os efeitos demoram entre 40 minutos e 72 horas para aparecer. Os primeiros sinais são semelhantes aos da intoxicação por álcool e incluem problemas de coordenação, equilíbrio e fala, além de confusão e vômitos. Ao mesmo tempo, a pressão arterial cai, resultando em tontura e desmaios.
Em fases posteriores — cerca de 18 a 48 horas após a ingestão — o ácido fórmico, que interrompe a produção de energia nas células, provoca queda do pH sanguíneo, danificando tecidos e órgãos. Isso pode causar insuficiência renal, convulsões e até hemorragia gastrointestinal.
Uma mudança brusca na frequência cardíaca — acelerando rapidamente ou desacelerando acentuadamente — é muitas vezes um sinal de caso fatal, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
O efeito de relaxamento muscular também compromete o sistema respiratório, causando dificuldade repentina para engolir e respirar.
“A pressão arterial baixa — hipotensão — e a parada respiratória ocorrem quando a morte é iminente”, acrescenta o CDC. O tratamento geralmente depende da gravidade do envenenamento, mas apenas exames de sangue podem confirmar o diagnóstico.
Devido ao seu rápido efeito no organismo, o início do tratamento deve ser feito assim que houver suspeita de intoxicação. Em ambiente hospitalar, existem medicamentos que podem ser administrados para tentar limpar o sangue, assim como a aplicação de diálise.
Surpreendentemente, alguns casos podem ser tratados com álcool (etanol). Isso porque a metabolização do etanol pelo fígado pode atrasar o metabolismo do metanol e reduzir seu efeito tóxico no corpo. Mas a aplicação deve ser feita rapidamente.