Sistema S: Em 2023, o SENAI formou mais de 2,5 milhões de brasileiros (Julia Carvalho/EXAME.com/Exame)
Colunista
Publicado em 17 de junho de 2025 às 08h12.
O Brasil não precisa reinventar a roda. Muito do que dá certo neste país já existe há décadas — operando com eficiência, foco e resultados. O Sistema S é um desses casos. Criado na década de 1940, em plena fase de industrialização, o Sistema S nasceu da percepção dos próprios empresários: o desenvolvimento nacional só aconteceria com mão de obra qualificada, educação de qualidade e fortalecimento da indústria e dos serviços. Não é um braço do Estado. É iniciativa privada com finalidade pública. E tem funcionado — há mais de 80 anos.
Composto por entidades como SENAI, SESI, SENAC, SESC, SENAR, SEST, SENAT e outros, o Sistema S se mantém com recursos das empresas, aplicados diretamente em programas de formação, cultura, saúde e qualidade de vida. Esses recursos não são impostos, tampouco tributos públicos. São contribuições destinadas a preparar a força de trabalho do país — e com uma gestão mais eficiente que a burocracia estatal costuma permitir. Essa contribuição, muitas vezes chamada de “compulsória”, ainda é alvo de interpretações equivocadas.
Sou empresário, filho da indústria e testemunha direta do poder transformador da iniciativa privada na realidade de um país. Sempre que me deparo com os resultados do Sistema S, enxergo muito além dos números. Vejo histórias de vida: jovens conquistando o primeiro emprego, adultos reescrevendo suas trajetórias, pequenos empreendedores ganhando fôlego com apoio técnico, comunidades inteiras vislumbrando novas perspectivas. Sou um defensor apaixonado de um dos maiores patrimônios da sociedade brasileira.
E o impacto é concreto.
Em 2023, o SENAI formou mais de 2,5 milhões de brasileiros. São jovens que ingressaram no mercado de trabalho com formação técnica de qualidade, trabalhadores que encontraram novos caminhos por meio da qualificação e empresas que se tornaram mais produtivas graças a profissionais capacitados. O SENAC atendeu mais 1,8 milhão de pessoas em áreas como comércio e serviços. O SENAR levou educação e capacitação a mais de 1,6 milhão de trabalhadores rurais, de forma gratuita, com bolsas integrais e ensino reconhecido pela excelência.
O alcance do Sistema S, contudo, vai além da educação profissional. Ele está nas escolas de alta performance mantidas por SESI e SESC; nos centros de inovação com padrão internacional, que ajudam empresas a ganhar competitividade; em iniciativas nas áreas de saúde, cultura, esporte, segurança alimentar e lazer, que melhoram a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
Em muitas localidades, sobretudo nas mais afastadas dos grandes centros urbanos, o Sistema S é a única estrutura acessível de formação humana e profissional.
O modelo funciona porque opera fora da lógica da burocracia estatal. E, justamente por isso, deve ser preservado. Quando surgem propostas para absorver essa arrecadação pela máquina pública ou para restringir a atuação das entidades do Sistema S, o debate foge da esfera orçamentária e passa a representar um verdadeiro risco a um ecossistema que entrega inclusão, conhecimento e transformação social em larga escala.
Falo como presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, mas também como cidadão comprometido com o futuro do nosso país: se queremos um Brasil mais justo, com menos desigualdade, mais empregos e oportunidades, não podemos enfraquecer aquilo que está dando certo há tanto tempo.
Ao longo da minha trajetória, vi o Sistema S reconstruir vidas, formar lideranças que hoje estão à frente de grandes indústrias, dar sentido à palavra esperança. Por esta razão, investir no Sistema S é acreditar no poder da iniciativa privada de construir um país melhor — com trabalho, educação e dignidade.
Uma estrutura sólida, que transforma vidas, forma profissionais, movimenta a economia e alcança regiões onde o Estado não chega. Defender o Sistema S é defender o Brasil que trabalha, que ensina e que constrói.
*Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais