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'Pacote é bem-vindo, mas efeito será apenas paliativo', avaliam federações industriais da Região Sul

Fiergs, Fiesc e Fiep emitiram notas oficiais em que avaliam o pacote de socorro do governo federal como necessário, mas que somente o avanço nas negociações entre os dois países permitirá a volta da estabilidade

Embarques para os Estados Unidos já foram adiados ou até mesmo cancelados (Claudio Neves/Divulgação)

Embarques para os Estados Unidos já foram adiados ou até mesmo cancelados (Claudio Neves/Divulgação)

Rafael Martini
Rafael Martini

Editor da Região Sul

Publicado em 13 de agosto de 2025 às 19h15.

Última atualização em 13 de agosto de 2025 às 19h40.

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As federações das indústrias dos três estados da Região Sul são unânimes ao afirmar que as medidas anunciadas pelo governo federal em socorro às empresas exportadoras são necessárias e bem-vindas, mas que seus efeitos serão paliativos, caso não ocorra um efetivo avanço nas negociações com os Estados Unidos. Fiergs, Fiesc e Fiep emitiram notas hoje, 13, comentando o pacote emergencial para enfrentar o tarifaço imposto por Donald Trump.

A Federação das Indústrias do Paraná considera que, além das medidas emergenciais, o governo federal brasileiro precisa cumprir seu papel como principal negociador para a busca de uma solução definitiva. Segundo a entidade, apesar de as medidas serem importantes para dar fôlego às empresas mais afetadas, caso não haja a reversão efetiva da taxação por meio de vias técnicas e diplomáticas, elas somente postergarão o colapso de segmentos dependentes do mercado americano.

“No Paraná, muitas indústrias que são altamente dependentes das exportações para os Estados Unidos, como é o caso de alguns segmentos do setor da madeira, já estão há mais de um mês sofrendo prejuízos com cancelamentos de contratos de compradores americanos e chegaram ao limite de suas capacidades para manutenção das atividades e dos empregos que geram”, afirma o presidente do Sistema Fiep, Edson Vasconcelos.

Para ele, as medidas emergenciais anunciadas pelo governo não deixam de ser importantes neste momento, mas são apenas paliativas. “Sem recuperar o mercado americano, essas empresas não conseguirão sobreviver. Seus problemas, portanto, só serão resolvidos com a reversão das tarifas, o que depende de uma negociação baseada em critérios técnicos e diplomáticos, que infelizmente não vem sendo buscada por parte do governo brasileiro”, acrescentou. Na opinião de Vasconcellos, o governo federal tem colocado questões ideológicas e políticas acima dos interesses da economia e do setor produtivo brasileiros.

Tarifaço afeta 80% dos produtos

No caso do Paraná, cujas exportações aos EUA totalizaram quase US$ 1,6 bilhão em 2024, a tarifa de 50% afeta oito dos dez principais produtos comercializados pelas empresas do estado ao mercado americano. Foram incluídos nas isenções definidas pela administração dos EUA somente os setores de papel e celulose, responsável por US$ 53,8 milhões em exportações no ano passado, e de suco de laranja, que comercializou US$ 9,5 milhões.

A nova tarifa atinge com intensidade principalmente os produtos madeireiros, que representam quase 40% de tudo o que o estado exporta aos EUA. O setor movimentou, em 2024, mais de US$ 614 milhões em exportações para o mercado americano, sendo que determinados segmentos chegam a destinar mais de 95% de suas produções para os Estados Unidos. Com a aplicação da taxação, as empresas do setor madeireiro, que geram 38 mil empregos diretos no estado, podem sofrer uma queda brusca nas vendas externas.

O impacto pode ser ainda maior para municípios específicos, como Bituruna, União da Vitória e Imbituva, entre outros, que possuem elevada dependência do setor madeireiro em termos de postos de trabalho. Além da madeira, outros setores com destaque nas exportações paranaenses aos EUA também serão afetados. Entre eles, o metalmecânico (exportações de US$ 397 milhões em 2024), couro (US$ 47 milhões), cerâmica (US$ 33 milhões), móveis (US$ 14 milhões) e alimentos como café, mate e carne.

Discurso inflamado

A Federação das Indústrias de SC avalia que o programa é um paliativo importante para minimizar os impactos das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. Na avaliação do presidente do Sistema Fiesc, Gilberto Seleme, entre os destaques do plano de contingência estão a extensão do programa Reintegra que permite que as empresas exportadoras recebam de volta parte dos impostos pagos durante a produção de bens exportados. As micro e pequenas empresas passarão a receber 6% de volta, enquanto as médias e grandes empresas receberão 3%, até 2026.

“O setor industrial teve um papel importante no desenvolvimento desse plano, com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) fazendo a interlocução com o governo e apresentando demandas e sugestões dos industriais para que a proposta fosse efetiva e contemplasse as reais necessidades”, afirmou.

Para Seleme, no entanto, o governo federal precisa calibrar o discurso para evitar a deterioração do ambiente. “Discursos inflamados com conotação eleitoral dificultam as negociações e não contribuem para a solução da questão comercial”, defende.

Para a Fiesc, outra medida relevante é a ampliação, por um ano, da suspensão do pagamento de tributos previstos no regime especial de “drawback”, em que a incidência de determinados impostos sobre a matéria-prima utilizada na fabricação de mercadorias fica isentos ou suspensos. O aporte de recursos do governo federal em fundos garantidores também foi visto com bons olhos.

O pacote inclui R$ 4,5 bilhões em fundos garantidores para financiamento das exportações, dos quais R$ 1,5 bilhão no Fundo Garantidor do Comércio Exterior (FGCE) e R$ 2 bilhões no Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), do BNDES. O Fundo de Garantia de Operações (FGO), do Banco do Brasil, vai receber R$ 1 bilhão.

Entidade vê avanços, mas aponta insuficiência

A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul analisa, preliminarmente, que o plano de contingência é necessário e relevante para dar fôlego às empresas afetadas, mas insuficiente para garantir a sustentabilidade dos negócios e preservar empregos. A ausência de medidas trabalhistas concretas no plano é preocupante, uma vez que, somente no Rio Grande do Sul, milhares de postos de trabalho estão diretamente ameaçados.

A medida provisória (MP) assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia no Palácio do Planalto, prevê a liberação de R$ 30 bilhões em crédito para empresas afetadas, além de outras ações como reativação do programa Reintegra e prorrogação do prazo de regimes fiscais especiais como o Drawback, pleitos defendidos pela Fiergs desde o início do conflito comercial.

O presidente do Sistema Fiergs, Claudio Bier, afirma que ainda é preciso entender exatamente como as medidas irão funcionar, embora não sejam capazes de restabelecer a competitividade de entrada no mercado dos EUA. “As medidas são paliativas, não resolvem o problema. Ainda precisamos de um plano para preservar os empregos. O governo, acima de tudo, deve manter o foco na negociação diplomática para reduzir as tarifas”, afirma.

Segundo a Unidade de Estudos Econômicos do Sistema Fiergs, entre os cinco estados que mais exportam para os Estados Unidos, o Rio Grande do Sul foi o que mais teve embarques atingidos pela tarifa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump. Aproximadamente 85% das exportações gaúchas para os Estados Unidos serão taxadas.

Entre os ramos industriais, o de armas de fogo é o mais dependente dos EUA, destinando 85,9% de suas vendas ao país. Na sequência, aparecem os transformadores, com 79,3%. Em relação ao emprego, o ramo de calçados de couro, que envia 47,5% de sua produção para os americanos, concentra o maior contingente de trabalhadores: 31,5 mil.

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